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Tite: a receita para ser campeão

Por Silvio Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 dez 2011, 10h35

“Perder é humano, o homem não é máquina, não tem só vencedor na vida”

“É preciso saber quem aceita uma conversa mais dura, um xingamento, ou quem tem de receber um carinho”

“Cada um tem uma característica que deve ser aproveitada em uma equipe”

Fora dos muros do Parque São Jorge, Tite foi bombardeado por críticas e questionamentos durante boa parte do Campeonato Brasileiro. No clube, porém, o treinador do Corinthians sempre teve a admiração de jogadores, diretores e funcionários. Aos 50 anos, Tite aprendeu a lidar com todos de forma especial e individual. Resistiu a pressões e quase perdeu o emprego quando o Corinthians foi eliminado da Libertadores pelo desconhecido Tolima. Conquistou o apoio do presidente Andrés Sanchez, soube comandar a equipe mesmo nos momentos mais instáveis e chegou ao título com os pés no chão e influência direta nos triunfos da equipe – afinal, muitas de suas alterações na escalação resultaram em vitórias decisivas para a conquista do título. Às vésperas de se tornar campeão brasileiro pela primeira vez, Tite contou à reportagem do site de VEJA como conseguiu chegar à disputa do título – e deu a receita de como montar um grupo vencedor, apesar das adversidades.

A força do time

“O objetivo do grupo ficou acima do individual, o que é muito difícil de ocorrer dentro de um time. É preciso todo dia falar, repetir, avisar, é preciso mostrar como fazer, se fazer entender. O desafio é conseguir consolidar uma linguagem que o atleta entenda.”

Lidar com estrelas

“Cada um tem uma característica que deve ser aproveitada pela equipe. Um dá velocidade, outro dá força, outro dá qualidade técnica. Precisamos de cada um desses complementos, e ainda precisamos que o departamento médico funcione bem, para que o atleta tenha plena saúde e possa dar o melhor. Além disso, há o tratamento que deve ser dispensado a cada atleta, porque cada um reage de uma forma. É preciso saber quem aceita uma conversa mais dura, um xingamento, ou quem tem de receber um carinho. É preciso controlar todos esses detalhes.”

Nada de paizão

“Paizão, com a conotação de passar mão na cabeça, não. Sigo o que aprendi com meu pai, que era um homem justo. Se está certo eu falo, se está errado também digo. Às vezes tem de ser em particular, mas temos um código de conduta. O atleta aceita a cobrança do técnico, desde que não seja exposto à opinião pública, porque aí se perde a riqueza da relação, a confiança.”

Jeito brasileiro

“Pego aqui um comentário do holandês Cruyff, de algum tempo atrás: cada país tem uma característica que deve ser preservada. Não posso exigir do jogador brasileiro que seja mais frio, mais ortodoxo, que só pense na marcação, que jogue atrás, ou que apenas explore contra-ataque. Hoje cada cultura empresta um pouco ao futebol. Já vemos a Alemanha com um futebol mais solto, fazendo a bola girar, um jogo mais quente; a Espanha mas incisiva em determinadas jogadas. Hoje os jogadores brasileiros têm uma cultura tática melhor, eles entendem muito mais a posição e a função que têm de exercer. O intercâmbio, a televisão, a imprensa, tudo evoluiu muito na qualificação, e tem ligação direta com a melhora do jogador.”

O técnico do Corinthians, Tite, durante treino da equipe antes da partida contra o Figueirense, no Brasileirão 2011
O técnico do Corinthians, Tite, durante treino da equipe antes da partida contra o Figueirense, no Brasileirão 2011 (VEJA)
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Como lidar com as críticas

“Escuto muita barbaridade nos comentários. Já falei para repórteres: ‘Vocês acham que os jogadores não riem quando vocês falam besteira?’ Isso mexe na credibilidade. Muitas vezes um jogador pode não falar um plural corretamente, ou errar uma palavra, mas não significa que não tem inteligência na sua atividade. Há vários tipos de inteligência. Se eu passar uma orientação absurda aos jogadores, logo eles vão entender que aquilo não tem coerência. A inteligência dele é do jogo, e eles sabem, eles absorvem. Se um comentarista não sabe interpretar uma jogada, provavelmente vai falar besteira, porque não leva em conta a situação e as variantes da jogada no momento. Já fui comentarista, passei um ano em vídeo, e compreendi o outro lado. Eu procurava compreender a ideia do técnico, o que ele queria fazer com aquilo. O técnico trabalha em cima de uma previsão e o comentarista em cima de um fato acontecido, essa é a diferença.”

Estabilidade

“O pior de ser treinador é a instabilidade do cargo. Traz visibilidade grande e traz valorização financeira, principalmente aos técnicos top, como no meu caso. Mas comecei ganhando salário mínimo, paguei o preço para chegar até aqui, investi na carreira, fiquei muito tempo desempregado, com a autoestima lá embaixo. No Brasil não temos ainda cultura de dar tempo ao técnico, poucos conseguiram trabalhar com tempo. Tudo é culpa do técnico. Se perde três partidas já se fala em demissão. Mas há como mudar. Por exemplo, deveria ser regulamentado que um clube só pode ter dois técnicos numa temporada, ou que não pdoeria treinar duas equipes no mesmo torneio. Enfim, ideias para se pudesse trabalhar melhor.”

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Pressão

“A Libertadores é a menina dos olhos dos times brasileiros. Senti isso no Grêmio, no Internacional, e no Corinthians, principalmente, porque a perda trouxe, neste ano, um peso muito grande. Naquele momento o presidente Andrés Sanchez disse que acreditava no trabalho e bancou. Ali senti que balançava o cargo. Até parecia que não havia metodologia de trabalho, correção de rumos, enfim. Para a imprensa, a solução seria apenas trocar o treinador…”

Corinthians

“Trabalhar no Corinthians é ter o tempo todo a emoção à flor da pele. Aqui tudo é mais… mas sempre digo aos jogadores que é preciso ter os pés no chão: Digo a eles que, se num dia são aclamados como heróis numa vitória, que não acreditem. Da mesma forma, que se forem considerados vilões numa derrota, que não acreditem. Futebol não é assim. Tem de dividir tudo. No Corinthians, a torcida em uma característica especial. Apoia o time o jogo todo. Mas quando termina também vem a cobrança, na mesma proporção do apoio. E se não tiver empenho, competitividade, vai ser cobrada. Mas a cara do Corinthians é a competitividade.”

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Derrota

“Trabalho com a verdade, não dá para criar ilusão. Todos sabiam das possibilidades de vencer e de perder. Não podemos virar as costas para uma oportunidade e é preciso ir lá vencer e conseguir o título. Se não for campeão, não vai morrer, não vai acabar, não pode ser obsessão. Perder é humano, o homem não é máquina, não tem só vencedor na vida. Claro, que quando depende só da gente, a derrota tem um peso muito maior.”

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