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Reuni: atraso em obras ameaça excelência da Unifesp

Número de vagas cresceu 520%, mas falta quase tudo nos campi: laboratório, refeitório e sala de aula. Prédio previsto para 2011 só deve ficar de pé em 2015

Por Lecticia Maggi
13 jul 2012, 07h57

Criada em 1994, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) se originou da Escola Paulista de Medicina, fundada na década de 1930. Sinônimo de excelência, foi responsável pela formação de alguns dos mais renomados médicos do país. Em 2007, a instituição aderiu ao Reuni, programa do governo federal de expansão universitária, elevando deste então a oferta de vagas em 520% (de 1.512 para 9.400). Aos já existentes campi de São Paulo e da Baixada Santista, se juntaram os de Guarulhos, Diadema e São José dos Campos, em 2007, e de Osasco, em 2011. A universidade deixou de atuar exclusivamente na área da saúde e passou a oferecer graduação em ciências humanas e exatas. Esperava-se que a excelência conquistada pela antiga Escola Paulista, núcleo formador da Unifesp, fosse levada a todas as unidades. Essa marca, contudo, está em risco devido aos problemas de infraestrutura da instituição, que se expandem na velocidade do Reuni.

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A unidade José de Alencar, do campus de Diadema, foi inaugurada há dois meses sem biblioteca nem refeitório para estudantes. Os alunos não podem ter aula à noite por falta de segurança. Outra unidade, chamada Antonio Doll, em vez de espaço próprio, ocupa o segundo andar de um edifício alugado, sem a estrutura necessária à atividade acadêmica: a sala de informática, por exemplo, conta com apenas três computadores.

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No campus de Guarulhos, a situação é pior. Ali, são oferecidos cinco cursos a 2.808 estudantes. O prédio principal, que deveria ter sido inaugurado no segundo semestre de 2010, ainda nem saiu do chão, pois sua construção não foi licitada. Com 20.000 metros quadrados, ele abrigaria 44 salas de aula, 22 gabinetes de pesquisa, refeitório e biblioteca. O reitor da Unifesp, Walter Albertoni, culpa a burocracia pelos atrasos – é a mesma alegação do Ministério da Educação, contestada por especialistas em construção e administração pública. “Um projeto demora a ser executado: são três, quatro anos. Há a burocracia de todos os órgãos de controle”, diz Albertoni.

A história do prédio parece novela. Segundo a Unifesp, em abril de 2009, foi contratada a Progetto Arquitetura, Engenharia e Construções Ltda, responsável pelo projeto. A empresa, contudo, não entregou o trabalho no prazo estipulado: cinco meses. Multada em 36.350 reais, teve o contrato rescindido. Dois anos depois, após realização de nova licitação, a encarregada da tarefa foi a NBC Arquitetura e Construções Ltda, que entregou os projetos preliminares. A construção, contudo, emperrou de novo, porque os orçamentos oferecidos por construtoras superavam o limite permitido pela instituição. Agora, aguarda-se a realização de nova licitação. Se tudo ocorrer conforme a nova previsão, alunos e professores podem utilizar o prédio principal no final de 2015, cinco anos depois do esperado – e, segundo estimativa, 5,4 milhões de reais mais caro. Segundo a universidade, o encarecimento da obra se deve ao atraso: os valores são reajustados de acordo com o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) (confira no quadro abaixo).

Improviso – Sem o prédio principal, os alunos do campus de Guarulhos têm à disposição apenas 24 salas de aula. Como elas não são suficientes, ocupam 14 salas cedidas pela prefeitura da cidade no Centro Educacional Unificado (CEU), localizado ao lado, unidade dedicada ao ensino infantil. “É lamentável que uma universidade federal tenha de dividir espaço com crianças. Enquanto temos aula, elas brincam e gritam pelos corredores”, diz Michael Melchiori, estudante do terceiro ano de filosofia.

Henry Burnett, professor de filosofia no campus de Guarulhos
Henry Burnett, professor de filosofia no campus de Guarulhos (VEJA)

A falta de salas não é o único problema. O refeitório do campus funciona em um precário galpão: à época da visita da reportagem, há um mês, acumulava buracos e mofo nas paredes. O diretor do campus, Marcos Cezar de Freitas, admitiu que os “buracos na estrutura surgem eventualmente, mas são imediatamente reparados”. Na biblioteca, cerca de 30.000 livros doados por professores de outras instituições estão encaixotados por falta de espaço.

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“Eu estava muito animado para começar a estudar: afinal, a Unifesp é uma universidade renomada. Caí no conto do vigário”, diz o estudante de ciências sociais Bruno Atanásio. A indignação não é exclusiva de alunos. O professor de filosofia Henry Burnett é enfático ao descrever o que define como “desprezo”: “O campus foi inaugurado e abandonado, como se sua mera existência fosse o suficiente”, diz o professor. “É difícil entender por que foram contratados duzentos ou mais docentes com doutorado se ainda não existe um prédio adequado a abrigar suas atividades básicas.”

O reitor Albertoni afirma que os problemas de infraestrutura não são decorrentes da falta de verbas. De fato. Até este ano, o Reuni aprovou o repasse total de 130,3 milhões de reais à Unifesp, sendo 102 milhões só para obras, compra de equipamentos e mobiliário. “O governo forneceu as condições financeiras. Nos falta, contudo, velocidade na construção”, diz. Ouvido pela reportagem de VEJA sobre o Reuni, o especialista em contas públicas Raul Veloso foi além: “A morosidade do sistema público não é novidade. A legislação é tão burocrática que só uma gestão muito eficiente pode dar conta de cumprir prazos e orçamentos. Infelizmente, não é o que vemos.”

O reitor da Unifesp conta que chegou até a cogitar a suspensão temporária do vestibular para a seleção de alunos em Guarulhos. Isso limitaria o número de estudantes na instituição até que as obras fossem concluídas. Não aconteceu, e novos vestibulares foram realizados. “Fui vencido pelo conselho universitário. Agora, o pior já passou.” Não é o que mostra o campus universitário.

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