Mapas da gravidade da Lua revelam crosta profundamente fraturada
Asteroides e cometas que se colidiram contra o satélite terrestre tiveram impacto muito mais intenso do que se imaginava
Os asteroides e cometas que colidiram com a Lua não apenas tornaram sua superfície esburacada, mas também provocaram profundas fraturas na crosta do satélite terrestre, disseram pesquisadores da Nasa nesta quarta-feira. A descoberta pode ainda ajudar a decifrar um enigma sobre Marte.
Em Marte, fraturas similares podem ter proporcionado um caminho para que a água da superfície penetrasse profundamente no solo, onde ela pode estar até hoje, afirmaram.
“Marte pode ter tido um antigo oceano e todos nós nos perguntamos para onde ele foi. Bem, esse oceano pode muito bem estar no subterrâneo”, afirmou a cientista Maria Zuber, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a jornalistas na Conferência Americana de Geofísica, realizada em São Francisco.
A descoberta de que a crosta da Lua tem fraturas profundas foi feita a partir de duas pequenas sondas da missão GRAIL (Gravity Recovery And Interior Laboratory), da Nasa. As duas espaçonaves idênticas têm orbitado a Lua há cerca de um ano.
Os cientistas monitoram a distância entre as duas, que muda ligeiramente quando sobrevoam as regiões mais densas da Lua. A força gravitacional da massa lunar adicional provoca a aceleração da sonda que está na frente, primeiro, e depois da outra, alterando a distância entre as duas. Os dados, reunidos nos primeiros mapas detalhados sobre a gravidade da Lua, revelaram que os asteroides e cometas provocaram crateras na superfície e fraturas na crosta, possivelmente até mesmo no manto.
“Se você observa a superfície da Lua, ela é cheia de crateras. Todos os planetas rochosos parecem ter essa forma, incluindo a Terra”, disse Zuber, cientista-chefe do GRAIL. Essas evidências do fenômeno na Terra, no entanto, foram apagadas pelos movimentos das placas tectônicas, pela erosão e outros eventos naturais. “Se queremos estudar esses períodos iniciais, precisamos ir a outro lugar para fazê-lo, e a Lua é o exemplo mais próximo e mais acessível”, afirmou. Ela informou ainda que 98% da crosta lunar está fragmentada, resultado dos impactos massivos.
Com a relação a Marte, a descoberta de que a crosta de um planeta pode ter fraturas tão profundas tem implicações na busca de vida extraterrestre. As fraturas proporcionam um caminho para a água se mover de dentro do planeta para a superfície e vice-versa. Os cientistas acreditam que Marte já foi muito mais quente e úmido do que o deserto frio e seco que é hoje. “Se algum dia houve micróbios na superfície que tiveram de partir para um ambiente melhor, eles podem ter ido para o fundo da crosta de Marte”, afirmou Zuber.
Parecida com a Terra – As duas sondas gêmeas também revelaram a espessura e a composição dos diferentes estratos da Lua, até o seu núcleo. Deixaram claro, por exemplo, que a crosta lunar é muito mais fina do que pensavam os cientistas, com uma espessura de 34 a 43 quilômetros. Isso representa entre seis a 12 quilômetros a menos do que o que se tinha calculado até então.
A composição da Lua aparece, portanto, como similar à da Terra, o que alimenta a teoria de que ela foi formada por materiais terrestres espalhados após um enorme impacto contra o nosso planeta no começo da história do Sistema Solar, segundo Mark Wieczorek, do Instituto de Física do Globo de Paris, autor de um dos estudos sobre os resultados da missão GRAIL.
As pesquisas foram publicada na revista Science desta semana. (Com agências Reuters e France-Presse)