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A matemática é o problema

Para manter o ritmo da economia, o Brasil precisa importar os profissionais que dominam essa arte exata e mal ensinada nos colégios do país

Por Manuela Franceschini
8 dez 2010, 05h32

Pouco menos da metade da população com idade entre 15 e 64 anos, com ensino médio e superior completos, pode ser considerada plenamente alfabetizada em matemática

O célebre matemático inglês Godfrey Hardy disse que um teorema não pode ser desfeito. Um teorema, por sua vez, é uma afirmação que pode ser provada. Provou-se, no último relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), por a+b, que a matemática é o ponto mais fraco de 3.292.022 alunos brasileiros. Ironia dos gregos, que batizaram “prazer de aprender” com a palavra mathemátikos. Problema do Brasil, que precisa importar aqueles que concordam com a etimologia dessa arte exata.

Neste ano, o país terá trazido para cá 4.800 engenheiros estrangeiros. A cada ano, são formados 32.000 novos profissionais dessa área. Muito pouco, já que só a indústria automobilística e a Petrobras precisam de 34.000. A conta já foi feita: um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, se a economia crescer 3,5% ao ano, a partir de 2015 nosso estoque de engenheiros não atenderá a demanda e a escassez será um grave problema. Segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), a China forma em torno de 400.000 engenheiros por ano. A Índia, em torno de 280.000. A Coreia, 80.000.

O problema, acreditam os especialistas, está na primeira casa decimal. Os primeiros anos da educação básica no Brasil são ensinados por professores que cursaram pedagogia, onde não se ensina matemática. “E a matemática tem peculiaridades. Ela é sequencial, se não aprender a somar, não aprende a multiplicar. Se não aprende a multiplicar, não aprende a dividir. Se em algum momento a criança não foi bem nesse processo, ela está condenada a não ir bem nas outras etapas”, afirma Suely Druck, diretora das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas e professora do curso de matemática da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Quando você ensina uma criança que se ela colocar a plantinha no sol e der água vai crescer, ela entende, mesmo sem saber o que acontece exatamente na fotossíntese. Com a matemática não, ela tem que entender tudo desde muito pequena. Isso exige professores preparados, infraestrutura, uma série de fatores. Tem todo um contexto para dar errado.”

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Para tentar desfazer o teorema de que brasileiro não sabe e não gosta de matemática, Suely criou o evento que distribui 1.100 medalhas de ouro, 1.800 de prata e 2.700 de bronze. Aqueles que alcançam os 3.000 primeiros lugares recebem uma bolsa de iniciação científica “e são mergulhados em mundo de ciência e tecnologia, de uma maneira que nunca mais queiram viver sem isso”, explica Suely. Eles descobrem algo que estava à disposição deles, e do qual não faziam idéia. “É muito emocionante ver a reação das famílias, aquelas senhoras que chegam a ir carregadas à premiação, para ver o neto receber uma medalha de matemática, uma coisa inalcançável para a maioria delas”, conta.

Essa ciência é mesmo difícil de se dominar no Brasil. Em 2007, o Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, entrevistou pessoas de todas as faixas etárias buscando mapear o analfabetismo funcional matemático, um paralelo com o que é feito na área das humanas, identificando aqueles que sabem ler, mas não entendem o que estão lendo. Pouco menos da metade da população com idade entre 15 e 64 anos, com ensino médio e superior completos, pode ser considerada plenamente alfabetizada em matemática.

A Sociedade Brasileira de Matemática identificou o problema, e criou um mestrado profissionalizante, para professores do ensino básico. “Claro que a formação de um professor de matemática não se encerra na própria matemática, é preciso dominar a relação entre o conhecimento matemático e a sua vivência em sala de aula. Mas uma formação sólida dos professores é uma condição sine qua non para um ensino de qualidade”, afirma Maria Aparecida Ruas, representante da instituição. “E saber matemática é uma questão de cidadania, como saber ler e escrever.”

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