O Nobel da simplicidade
Laureado com o prêmio Nobel da Física, o alemão Peter Grünberg queria ser corredor quando criança e seu maior sonho é vencer o mal de Parkinson
“Queria correr 100 metros em 10 segundos, como os heróis das Olimpíadas”
“Gostaria de um dispositivo que pudesse cessar o tremor das minhas mãos, pois desejo muito voltar a tocar violão”
Peter Grünberg
Vencedor do prêmio Nobel de Física em 2007 por descobertas que possibilitaram a invenção de dispositivos como iPods e iPads, o alemão Peter Grünberg não se empolga mais com a Física.
Em 1988, junto com o físco francês Albert Fert, Grünberg descobriu a magnetorresistência gigante (MRG), um efeito que permitiu a ciência atravessar a barreira dos gigabytes nos discos rígidos e, em última instância, possibilitou a criação de pequenos equipamentos com grande capacidade de armazenamento.
Mas nada disso faz brilhar os olhos azuis do senhor de 71 anos, cabelos brancos e bigode grisalho. Grünberg veio ao Brasil na última segunda-feira (01) para participar de um encontro internacional apoiado pela FAPESP e coordenado pelo Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, com o complexo nome de Primeira Escola Avançada de Spintrônica e Computação Quântica. Mas ele não quer ver o homem chegar em Marte ou presenciar a invenção do teletransporte.
Se tivesse o poder de inventar algum dispositivo que facilitasse sua vida, Grünberg, que sofre do mal de Parkinson, gostaria de um dispositivo que pudesse fazer cessar o tremor de suas mãos. “Eu queria muito voltar a tocar violão”. Ou correr. Acometido também pelo Alzheimer, ele não sabe quem é Usain Bolt, mas se lembra dos sonhos de infância. “Queria correr 100 metros em menos de 10 segundos, como os heróis das Olimpíadas”, diz, revelando sua maior paixão, as corridas.
Professor profeta – Grünberg nasceu em 1939, logo no início da II Guerra Mundial, na cidade de Pilsen, então um protetorado nazista, hoje parte da República Checa. O garoto Grünberg, além de esportista, desejava desvendar os mistérios da natureza. “Se realmente queremos uma resposta boa sobre o que é a natureza e como ela funciona, a Física te dá a melhor informação. Ainda acredito nisso”, diz.
Aos 25 anos, o jovem pesquisador tinha a admiração de seu orientador de doutorado, na Universidade de Tecnologia de Darmstadt, na Alemanha. Quando os dois se encontravam no corredor, o mestre brincava: “Lá vem o futuro ganhador do prêmio Nobel”. Com um certo tom de galhofa, o pupilo concordava: “É isso mesmo!”. Mas pessoalmente, Grünberg não gosta que lhe tratem com muita deferência.
Vida simples – O laureado evitar falar de um futuro tecnológico. Prefere chamar a atenção para uma vida simples – quase espartana – que pretende levar até o fim de sua jornada. “Em algumas décadas não conseguiremos repor todo o combustível que usamos, é impossível”, disse, entre palavras apressadas, em meio ao burburinho de alunos que se encaminhavam para o auditório do Instituto de Física da Universidade de São Carlos.
Fazendo jus ao estilo de vida que professa, durante o encontro Grünberg vestia um casaco de lã marrom sobre uma camisa azul, calça de linho marrom escuro, sandálias de couro e meias pretas. Para os estudantes brasileiros, falou sobre o futuro da computação quântica. Nos bastidores do evento, Grünberg tratou de coisas bem mais simples. Falou de uma vida sem luxo nem desperdícios e contou ter decidido há muito tempo economizar água, energia e ainda comer apenas o necessário. “Minha próxima conquista será instalar painéis solares na minha casa”, concluiu com um sorriso tímido, chamando a atenção dos curiosos que se demoravam ali perto, antes do reinício das aulas.