Futebol feminino dá lição de fair play
As mulheres precisam melhorar a qualidade de seu futebol. Assim como os homens poderiam se inspirar e jogar limpo como elas
As duas últimas partidas das seleções brasileiras de futebol exemplificaram as diferenças entre o futebol masculino e feminino – na questão técnica, e, sobretudo, na comportamental. Enquanto a vitória dos homens sobre a Colômbia foi uma verdadeira batalha, com excesso de faltas e lances antidesportivos em São Paulo, a partida da seleção feminina nesta terça-feira contra a Suécia foi uma ode ao jogo limpo. Não por acaso, terminou com aplausos efusivos no Maracanã mesmo após uma frustrante derrota das brasileiras.
É evidente – ainda que muitos tenham caído no erro de comparar tecnicamente o futebol apresentado por homens e mulheres – que as equipes femininas precisam se desenvolver fisicamente e com a bola no pé. Os Jogos do Rio mostraram novamente erros grotescos, sobretudo das zagueiras e goleiras, além de um jogo lento e com finalizações imprecisas. É claro também que o futebol masculino precisa de uma reforma moral. E poderia se espelhar nas equipes femininas.
O espírito olímpico passou longe das partidas da chave masculina. Simulações de faltas, entradas violentas e reclamações constantes com os árbitros foram vistas em todas as partidas. Até o time do Iraque abusou de lentas reposições de bola e de simulações de faltas no empate em 0 a 0 com o Brasil, na segunda rodada. Os brasileiros reinam entre os “malandros”, no sentido mais negativo na palavra.
Jogadores como Gabigol ou Neymar têm o hábito de se atirar em campo em toda disputa de bola e entrar em qualquer confusão. Postura oposta à vista nas partidas femininas. Nesta terça, a equipe sueca, que se propôs a apenas se defender, fez seis faltas em 120 minutos – nenhuma no primeiro tempo –, contra 12 do Brasil. Suas defensoras levaram incontáveis dribles de Marta, Cristiane e Andressinha, mas em nenhum momento foram violentas. Em Itaquera, em jogo com 30 minutos a menos, foram registradas 39 faltas (22 da Colômbia e 17 de Brasil).
Além de entrarem nas jogadas de forma mais leal, as atletas não perdem tempo reclamando com a arbitragem, até quando têm razão – diante de uma mão na bola na segunda etapa, as suecas protestaram timidamente e um segundo depois já estavam correndo atrás da bola.
Nesse sentido, Marta é, sem dúvidas, a atleta a ser emulada. Talentosa e inteligente, é também generosa (e também dura) com as companheiras, exercendo com perfeição a condição de capitã. Além disso, batalha por todas as disputas de bola, vibra, demonstra interesse mesmo quando as pernas já não aguentam. A tola comparação entre Neymar e Marta não deveria se ater à habilidade, mas à postura.
Diante da enorme frustração e da perspectiva de seguirem marginalizadas nos próximos quatro anos, todas as atletas brasileiras atenderam a imprensa com paciência e educação. Até Andressinha, a jovem de 21 anos que perdeu a penalidade decisiva, assumiu o erro e chorou sobre os microfones e gravadores. O futebol feminino tem muito a aprender com o masculino em campo. E vice-versa.