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Viva a fumaça de gás carbônico!

O químico alemão Michael Braungart é um entusiasta de todas as porcarias que jogamos no planeta. Para ele, nosso lixo é oportunidade para criar produtos, repensar nossa relação com o meio ambiente e salvar o planeta

Por Da Redação Atualizado em 6 Maio 2016, 17h12 - Publicado em 10 nov 2010, 15h54

Michael Braungart acha os termos eco-eficiência ou desenvolvimento sustentável duas grandes bobagens. O químico alemão falou isso em alto e bom som no TEDx Amazônia, um evento realizado no meio da floresta amazônica para discutir ideias criadas para melhorar a vida do planeta. O TEDx Amazônia é um ‘filhote’ do TED (Tecnology, Entertainment and Design), conferência americana criada nos anos 1980 que já teve Bill Gates entre seus palestrantes – ele foi falar sobre combate à malária. No Brasil, a plateia de cerca de 500 pessoas acomodada em um hotel na beira do Rio Negro, a duas horas de Manaus, escutou do autor do livro Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things (Do Berço ao Berço: Repensando o Jeito que Fazemos as Coisas, sem edição no Brasil) que, se quisermos realmente continuar vivendo por aqui, precisamos deixar de ser bonzinhos com o planeta e virar pelo avesso nossa relação com o meio ambiente. O pesquisador de materiais e consultor da Ford e Nike conversou com o site de VEJA para explicar por que nossos produtos devem gerar impacto para o planeta – e salvá-lo.

Você fala de prédios que funcionam como árvores e de resíduos que podem melhorar a Terra. Como isso é possível?

Vem da ideia de que devemos fazer uma parceria com a natureza, aprendendo com ela, e não tentado salvá-la. Romantizamos a Terra e a cada vez que fazemos isso nos sentimos culpados por estarmos aqui. Não existe a boa e gentil Mãe Natureza. Somos parte dela como os ianomâmis ou as formigas. Mas por que as formigas não estão em perigo ou não se preocupam com isso ? Por que elas não geram restos tóxicos como nós. A natureza não cria lixo e é isso que temos que aprender.

É possível não criar resíduos?

Não, mas podemos olhar para eles como algo que não deve ser jogado fora. Entretanto, para isso precisamos reinventar nossos produtos e os materiais de que são feitos. O papel, por exemplo, não é criado para ser reciclado. Uma revista comum é feita com três ou quatro gramas de hidrocarbonetos tóxicos. Se transformarmos essa revista em um quilo de papel higiênico ele vai contaminar três ou quatro milhões de litros de água. E isso não é nada ecológico. Um vez, uma companhia de impressoras me mostrou um novo equipamento capaz de imprimir duas vezes mais rápido e com um consumo 20% menor de energia que o comum. Mas eu poderia compostar o papel que sai dela ? Comer esse papel ? Ou queimá-lo e usar as cinzas no meu jardim ? Esse é um exemplo de otimização da coisa errada. Temos um jeito muito primitivo de pensar o nossa relação com a natureza.

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Então não podemos ser sustentáveis?

Enquanto estivermos pensando em coisas como minimizar a emissão de gás carbônico, economizar a água ou consumir menos, não. Ora, se quisermos diminuir a emissão de gás carbônico é só beber menos água com gás, já que ela possui 3 vezes mais CO2 que a normal. Só dá para neutralizar as emissões de carbono se não existirmos. Existir significa não ser neutro no mundo.

E qual sua proposta para proteger o meio ambiente?

Não protegemos quando destruimos menos. Ser menos mau não não quer dizer ser bom. É como dizer : ‘Olha, Terra, desculpa estar aqui, vou tentar ser bonzinho com você, ok ?’ Eco-eficiência e desenvolvimento sustentável são só palavras diferentes para estagnação. Esse é o tipo de pensamento que nos faz perder materiais que deveriam voltar para o seu ciclo biológico. Por que minimizar a emissão de gases se podemos tirar benefícios deles ? A ideia do Cradle to Cradle (C2C) é fazer o sistema produtivo ser circular: matéria-prima gera produtos que geram resíduos que fazem novos produtos. Isso é a boa química, que olha para os materiais, hoje tratados como simples lixo, como oportunidades, como possibilidades de inovação e criação.

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Mas ela é economicamente viável?

Sim. Existem diversos exemplos, como o papel higiênico holandês Van Houtum ou as cadeiras americanas Steelcase, biodégradaveis e pensadas dentro do ciclo natural. A Lego está pesquisando os melhores polímeros para seus produtos, assim como a Phillips e a Nike que procuram produtos que estejam dentro do ciclo natural. A Holanda anunciou esse ano que até 2012 todas as suas compras públicas serão feitas dentro da proposta C2C.

Qual seria o impacto mundial se todos adotassem sua filosofia?

A celebração da inovação e criatividade. Eu realmente acredito que nos próximos dois ou três anos o C2C se transformará no rumo da indústria, porque ele gera impacto, mas um impacto positivo. Vamos celebrar as emissões de gás carbônico e dizer ‘uau! que bom que geramos tantas porcarias!’ Elas são o nosso futuro.

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