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Murakami: escrever é ‘descer ao segundo subsolo da alma’

Por Da Redação
6 Maio 2013, 21h02

Escrever um romance é como descer ao segundo subsolo escuro da alma, cujas saídas você desconhece. Foi assim que o recluso Haruki Murakami, autor do ótimo 1Q84, definiu o ofício de escrever. Em sua primeira fala pública em dezoito anos, o prestigiado escritor japonês, que não costuma conceder entrevistas, deu uma palestra na Universidade de Kioto com o tema “Observar a alma e escrever” em homenagem ao psicólogo Hayao Kawai, um amigo que morreu recentemente.

Cerca de 500 fãs do escritor, escolhidos por sorteio, puderam assistir à palestra. Jornalistas foram admitidos, mas sem autorização para gravar suas palavras ou a tirar fotos. “Para criar alguma coisa, os romancistas ou os músicos têm a necessidade de descer as escadas e encontrar uma passagem que os leve ao segundo subsolo”, disse o escritor, seguindo com a metáfora entre edifício e alma.

Na conferência desta segunda-feira, Murakami falou também do livro que lançou há cerca de um mês no Japão, Shikisai wo Motanai Tazaki Tsukuru to Kare no Junrei no Toshi (algo como O Descolorido Tsukuru Tazari e seus Anos de Peregrinação), publicada com 1 milhão de exemplares. Foi o seu primeiro livro depois do último volume da trilogia 1Q84, que saiu em 2010 no Japão e ainda está sendo editada no Brasil. Shikisai wo Motanai Tazaki…, um romance de 370 páginas, conta a história de Tsukuru Tazaki, jovem que enfrenta o passado, servindo-se de uma história de amor para sair de sua situação.

O escritor disse que havia vivido algo parecido com o personagem. “Quando você está realmente mal, quer esconder seu trauma dos demais e tentar superar, mas não é uma coisa fácil”, disse. O autor lembrou do dia em que entrevistou uma jovem que acabava de perder o marido no atentado com gás sarin praticado pelos membros da seita Aum (Verdade Suprema) no metrô de Tóquio, em 1995. “Falei cerca de meia hora depois da entrevista, quando eu andava de trem, que comecei a chorar. Não consegui parar de chorar por uma hora.”

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Murakami afirma, no entanto, que gosta mais de rir e de fazer rir do que de provocar choro. “Algumas pessoas me dizem que choraram ao ler meus romances, mas fico mais feliz se elas dizem que riram. A tristeza é algo muito pessoal, que prolonga a introversão. Mas o riso é uma coisa que se propaga entre as pessoas”, explica Murakami, considerado um dos autores japoneses contemporâneos mais importantes, citado há vários anos como candidato ao Prêmio Nobel. Seus livros, nos quais o absurdo se mistura com o mal-estar social de japoneses fora do comum, foram traduzidos a 40 idiomas.

O autor justificou suas aparições escassas por sua firme vontade de passear em paz e não ser reconhecido ou incomodado pelas ruas. “Por favor, me considerem uma espécie em risco de extinção e se contentem em me observar tranquilamente de longe”, disse. “Se eventualmente tentarem falar comigo ou me tocarem, posso me sentir intimidado e mordê-los. Então, por favor, sejam prudentes.” Segundo a imprensa japonesa, as últimas aparições públicas de Murakami ocorreram durante as sessões de leitura que se seguiram ao terremoto de 1995, quando grande parte da cidade de Kobe (oeste) foi destruída e 6.400 morreram.

(Com agência France-Presse)

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