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Grimes, a fada pop do ‘faça você mesmo’

Abraçada por Jay Z e queridinha da moda e das redes sociais, a cantora indie dá pistas sobre os novos rumos que a indústria musical deve seguir

Por Vivian Carrer Elias
23 jan 2016, 14h53

Em um cenário futurista, um carro rosa sem teto ou portas corre pela rua conduzido por um grupo de jovens com roupas estranhas e cabelos coloridos. De repente, uma batida eletrônica conduz ao início da música, e surge a voz da cantora, alterada por computador. O clima é psicodélico. No clipe,a jovem de cabelo ruivo com as pontas azuis e roxas aparece em uma plataforma de metrô suja e vazia e, ao fim, em uma festa onde todos acabam ensanguentados.

As imagens fazem parte do clipe de Kill V. Maim, canção da cantora canadense Claire Boucher, que se apresenta ao mundo com seu alter ego Grimes. Lançado nesta semana, o vídeo ajuda a entender quem é essa artista e o motivo pelo qual ela vem recebendo tanta atenção da indústria musical. Afinal, a jovem de 27 anos cada vez mais dá pistas sobre o que a música pop se transformou, ou está em vias de se tornar, no século XXI.

Grimes costuma tingir os cabelos de cores como pink ou verde e se veste como quem não tem medo algum de se destacar, usando de ternos masculinos a sandálias da Adidas com meias descombinadas. Às vezes parece uma personagem de mangá. Em outras ocasiões brinca com grifes famosas. Ela já é uma queridinha do mundo da moda: apareceu em uma campanha do estilista Alexander Wang, passou a frequentar desfiles em Paris e seu estilo foi definido por Karl Lagerfeld, da Chanel, como “novo” – elogio máximo quando se trata de moda.

Assim como David Bowie, Madonna e, mais recentemente, Lady Gaga, Grimes faz mais que música: ela é o centro de um projeto artístico. Carrega, além disso, o “sotaque” de sua geração: é desbocada, engajada, e sente-se muito à vontade nas redes sociais.

O traço mais notável de Grimes é que ela vai passando do alternativo ao pop sem abrir mão da autossuficiência. A exemplo de Kill V. Maim, ela escreve, produz e grava as suas canções, assim como dirige seus vídeos e desenha a capa de seus álbuns. Não à toa, foi chamada pelo jornal americano The New York Times de “a sensação indie do D.I.Y”, em referência à sigla para “do it yourself”, ou “faça você mesmo”. “Eu quero ser a cara disso que eu estou construindo, eu quero ser a pessoa que constrói. Ninguém que vai tomar o controle além de mim”, diz ela em um documentário sobre a produção de seu último disco, Art Angels, lançado em novembro de 2015 e considerado um dos melhores álbuns do ano pela crítica especializada.

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Há outro motivo pelo qual Grimes é a rainha do cenário independente: seu feminismo. A cantora denuncia com frequência o sexismo na indústria musical. Ela acredita que há homens demais comandando a carreira de artistas femininas. “Quase sempre uma artista mulher é veículo para uma voz masculinas. Alguns trabalhos muito bons saem disso, mas metade da população não está sendo ouvida de verdade”, disse ela à revista The New Yorker.

Por isso, Grimes prefere não envolver homens em seu processo criativo e decidiu ser a sua própria produtora. Ela conta que, no ano passado, aprendeu sozinha a lidar com uma bateria eletrônica para não ter de chamar um especialista. “Quando eu era adolescente, admirava Billy Corgan, Trent Reznor e Marilyn Manson porque não existiam mulheres com quem eu pudesse me identificar”, disse ela à revista americana Rolling Stone. Com isso, a canadense está se tornando uma espécie de ícone para a próxima geração de cantoras. No ano passado, ela lançou o coletivo Eerie Organization, em que financia o trabalho de outras artistas mulheres. O primeiro resultado do projeto foi o disco Natural Born Losers (2015), da cantora Nicole Dollanganger. “Eu me perguntou se as letras das cantoras pop seriam tanto sobre sexo e amor se não houvesse por trás um monte de caras produzindo”, disse a cantora.

‘Genesis’

Genesis é o primeiro single de Grimes, embora a canção esteja presente no quarto álbum da cantora, Visions (2012) –  a canadense optou por não divulgar nenhum single de seus dois discos de estúdio anteriores. Lançado em 2012 e dirigido por ela mesma, o clipe da música conta com a participação da rapper Brooke Candy e tem mais de 30 milhões de visualizações no Youtube. A revista NME elegeu a canção como a 1uma das dez melhores música de 2012. 

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‘Oblivion’

Oblivion, a principal música do álbum Visions, narra um episódio de agressão sexual que Grimes revela ter sofrido no passado. A letra também fala sobre o mdo que ela sentiu de se relacionar com qualquer homem depois disso. A cantora co-dirigiu o clipe, que já foi visto mais de 21 milhões de vezes no Youtube. O vídeo é gravado em cenários tipicamente masculinos, como um estádio de futebol e um vestiário, para ilustrar a faixa. Em 2014, o site Pitchfork elegeu Oblivion como a melhor música desta década até aquele momento.

‘Go’

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Em uma época em que cogitou ser apenas compositora, Grimes escreveu Go com Blood Diamond, seu amigo, dj e produtor que já trabalhou com artistas como Madonna. A intenção era que Rihanna gravasse a canção, o que não aconteceu. Grimes, então, lançou a sua própria versão da faixa. Ao lado do irmão, ela dirigiu o clipe da música, que já acumula mais de 7 milhões de visualizações no Youtube,e foi a responsável pela edição, direção de arte e o figurino do vídeo.

‘Flesh Without Blood’

Em 2015, Grimes lançou o álbum Art Angels, que tem como primeiro single Flesh Without Blood. O single foi eleito pela revista Time como a melhor música de 2015. E, mais uma vez, a cantora assumiu a direção na hora de produzir o clipe para a canção. O vídeo com mais de 6 minutos também traz a faixa Life In the Vivid Dream, presente no mesmo álbum.

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‘Kill V. Main’

Este é o single mais recente de Grimes, lançado em janeiro de 2016. A faixa composta e produzida pela cantora também ganhou um clipe futurístico digno de um filme de ficção científica. O vídeo é o quinto dirigido pela própria cantora, desta vez com a ajuda do irmão Mac.

‘Scream’

A faixa faz parte do álbum mais recente de Grimes, Art Angels, e é uma parceria entre a canadense e a rapper taiwanesa Aristophanes. A música é cantada em chinês fala sobre uma vontade de gritar e se expressar, mas ao mesmo tempo de um bloqueio que faz com que isso seja reprimido, ficando entalado na garganta.  O vocal é dominado pela artista convidada, que abusa dos gritos em cima de um riff de guitarra que deixa a faixa com uma certa cara de surf music. Grimes conheceu o trabalho de Aristophanes por recomendação de um amigo e gostou do estilo único e agressivo da artista asiática.

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Construindo uma estrela – Grimes passou a chamar mais a atenção de pessoas fora do mundo alternativo com o lançamento do disco Visions, em 2012. Segundo a cantora, ela produziu sozinha o álbum inteiro em um mês. Com a ajuda do GarageBand, um popular aplicativo da Apple que ajuda a criar músicas, ela escreveu as canções, produziu as batidas eletrônicas e tocou todos os instrumentos.

Em março daquele ano, Visions, um CD indie, ficou entre os 100 álbuns mais vendidos dos Estados Unidos na lista da Billboard. A principal faixa do disco é Oblivion e narra um episódio de assédio sexual. A música – dançante e ao mesmo tempo sinistra – foi descrita como “canção para uma festa em um castelo gótico”. O clipe da faixa já acumula mais de 21 milhões de visualizações no Youtube. E, em 2014, o Pitchfork, site americano especializado em música, classificou a faixa como a melhor canção lançada na década, até aquele momento.

Grimes acabou chamando a atenção do rapper americano Jay Z, que em 2013 a incluiu no seleto grupo de artistas, como Rihanna e Shakira, representados por sua empresa RocNation. Desde então, a canadense ganhou tração: amada pela crítica e requisitada pelos maiores festivais do mundo e pelo mundo da moda.

Jay Z, porém, não está em uma empreitada para transformar Grimes em uma nova versão de popstar. Uma situação narrada pela própria artista à Rolling Stone americana prova que o rapper não a vê no papel de diva do pop – ao menos não como são as divas atuais. Certa vez, Grimes apareceu em uma sessão de fotos para a imprensa sem ter depilado as axilas. Após seu time de relações públicas entrar em pânico, a equipe resolveu mandar as imagens para “Big Jay” aprovar ou não. Jay Z deixou que as fotos fossem divulgadas. “Ele é artista. Ele entende a gente”, disse a jovem cantora.

Futuro – O que Jay Z parece compreender é que as excentricidades de Grimes fazem dela uma artista preparada para enfrentar uma indústria musical que está mudando. Primeiro disco da cantora desde sua entrada para a RocNations, Art Angels, foi produzido de forma parecida com o álbum anterior. A canadense lançou o CD por uma gravadora pequena, a 4AD, e enfrentou boa parte das etapas do projeto em um estúdio montado na sua casa. Ela contou com ajuda externa – de um homem – somente para a mixagem das músicas. O escolhido foi Spike Stent, produtor de nomes como Madonna e U2.

Art Angels prova uma teoria que Grimes tem sobre si mesma: a de que ela faz parte de uma geração “pós-internet”, a qual teve livre acesso a downloads de músicas de todos os gêneros. Por isso, seu novo álbum tem faixas indies e outras prontas para serem tocadas em uma rádio pop, além de canções comparadas às de artistas tão diversos quanto o grupo country Dixie Chiks, a banda de rock pesado Korn ou o Rage Against the Machine, que toca rap-metal.

Grimes com frequência declara o seu amor pelo pop e por divas desse gênero, como Mariah Carey. Mas não é com elas que ela deseja se comparar. “O pop é apenas um gênero. Algumas das minhas músicas são influenciadas pelo pop, outras não. Tentar constantemente colocar um rótulo na música não faz sentido”, disse ela ao jornal britânico The Guardian. Para eliminar esses rótulos, a cantora diz ter passado um ano sem ouvir canções pop para gravar Art Angels. “Eu não quero parecer atual. Se eu soo atual, é porque eu criei o novo atual”.

Se Grimes não será a próxima Mariah Carey ou Rihanna, porque tantos olhares estão voltados para ela – e por que o interesse de Jay Z? Na opinião da cantora, a RocNation não a enxerga como uma fonte de fortuna, mas como uma possibilidade de diversificar os negócios. Na verdade, é muito mais do que isso. Grimes faz músicas que agradam públicos diferentes. Ela produz seus álbuns sozinha e em casa: ou seja, o processo sai barato. Além disso, sua presença na Internet – onde ela levanta bandeiras, critica a indústria musical e expõe suas fraquezas – está se tornando ainda maior que a sua música. Um tipo de comportamento que sua geração costuma recompensar.

“Eu construí uma estrela pop. Mas eu faço uso de mim mesma. Eu dirijo todos os vídeos, fiz a arte dos álbuns, e produzi todas as músicas. Eu criei uma marca, uma empresa, que é a Grimes, que é a minha vida, eu acho. Na verdade acho que a Lady Gaga fez isso primeiro. Mas foi D.I.Y, foi totalmente D.I.Y”, disse, ao canal Hunger TV, a sensação indie – ou seria pop? – do estilo “faça você mesmo”.

Charli XCX

Em 2008, aos 14 anos de idade, a cantora britânica lançou seu primeiro álbum, 14. Mas ela ficou mais conhecida depois de participar das músicas I Love It, da Icona Pop, e Fancy, de Iggy Azalea. Charli XCX também é uma grande compositora de canções pop e já escreveu faixas para artistas como Selena Gomez, James Blunt e Gwen Stefani. O maior sucesso dela foi Boom Clap, que fez parte da trilha sonora do filme A Culpa É das Estrelas.

FKA Twigs

FKA Twigs trabalhava como dançarina de vários artistas, como Jessie J e Kylie Minogue, quando, em 2012, resolveu mostrar que sabe cantar e lançou suas primeiras músicas. A britânica, assim como Grimes, se aventura na direção de vídeos. Um exemplo é o EP M3LL155X (leia Melissa), que rendeu um vídeo de 16 minutos com cinco músicas. A cantora também ganhou notoriedade em 2014, quando começou a namorar o ator Robert Pattinson.

Birdy

A britânica começou a compor músicas bem cedo, aos 8 anos de idade, mas ficou conhecida por fazer covers de outros artistas, como Ed Sheeran. Em 2011 ela lançou seu primeiro álbum, BIrdy. Em seguida, foi convidada a participar das trilhas-sonoras dos filmes Jogos Vorazes e A Culpa é das Estrelas. Birdy se prepara para lançar seu próximo disco, Beautiful Lies, em março deste ano. Esse será o seu primeiro CD desde 2013.

Karen Marie Ørsted, mais conhecida como MØ, nasceu na Dinamarca e já declarou que quem a fez se interessar por música foi o grupo Spice Girls. A cantora lançou suas primeiras músicas em 2013, mas alcançou fama mundial ao fazer uma parceria com o Major Lazer, no hit Lean On. Após isso entrou em uma parceria bem-sucedida com o produtor Diplo, que já havia trabalhado com nomes como Sia e The Weeknd. Juntos, já lançaram a faixa Kamikaze e agora estão produzindo o novo álbum da cantora.

Brooke Candy

A rapper americana era stripper antes de se tornar cantora. Ela já trabalhou com vários artistas, como a própria Grimes e Charli XCX. Mas a grande parceira de Brooke Candy é a cantora e compositora Sia, que a descobriu nas redes sociais. Ela ajudou a escrever a música Opulence, que conta com a produção de Diplo, que já trabalhou com Sia e The Weeknd. Atualmente Brooke se prepara para lançar seu primeiro álbum, Freaky Princess, que está sendo produzido por Sia.

Nicole Dollanganger

Assim como Grimes, Nicole nasceu no Canadá. Ela costumava publicar covers no Tumblr e, em 2012, escreveu e lançou o seu primeiro álbum, Curdled Milk. Ao lado da conterrânea Grimes, abriu os shows da turnê de Lana Del Rey em 2015. A canadense é uma das grandes apostas da própria Grimes, que a incluiu em um coletivo musical só para mulheres, chamado Eerie Organization.

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