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Coreia do Norte: a nova vilã também em Hollywood

Tema constante do noticiário das últimas semanas, as ameaças feitas pela Coreia do Norte aos EUA não devem se materializar no mundo real. Na ficção, porém, os americanos não pensam em outra coisa

Por Carol Nogueira
6 abr 2013, 10h21

Nesta semana, as ameaças feitas pela Coreia do Norte aos Estados Unidos dominaram o noticiário. Curiosamente, elas são também tema de Invasão à Casa Branca, novo trabalho de Antoine Fuqua (diretor de Dia de Treinamento), que estreou no Brasil na sexta-feira. No longa, um terrorista do país asiático toma de assalto a residência oficial do presidente americano e ameaça explodir os EUA com uma bomba nuclear. O caso não é único – trata-se de mais um de vários produtos americanos recentes cujo foco é a rixa entre os dois países.

Entre eles, está o filme G.I. Joe: Retaliação, que estreou na semana passada e mostra o presidente americano (Jonathan Pryce) apresentando uma arma nuclear capaz de “destruir cada país catorze vezes, ou quinze no caso da Coreia do Norte”, deixando claro que este é o atual arqui-inimigo do país. Tem roteiro semelhante o filme Amanhecer Violento, remake do longa de 1984, que estreou em 1º de março, no qual soldados norte-coreanos invadem o país – mesmo tema do game Homefront, lançado em 2012 pela empresa THQ.

A Coreia do Norte não foi escolhida por acaso. “Há poucas opções: a União Soviética acabou, e ofender muçulmanos se tornou politicamente incorreto e perigoso”, diz Charles K. Armstrong, diretor do centro de pesquisas coreanas da Universidade de Columbia, em Nova York. As ameaças e as imagens bizarras, quase cômicas, que vem do país, só colaboram. “A única coisa que os americanos veem de lá são soldados marchando, mísseis, e (o ditador) Kim Jong-Un parecendo o Dr. Evil dos filmes Austin Powers. É o vilão óbvio”, diz Armstrong.

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Outro fator que pesa para os estúdios é que países que foram inimigos em filmes de ação do passado, como China e Rússia, hoje rendem fortunas em bilheteria. Em 2012, o cinema chinês teve receita de 2,7 bilhões de dólares, tornando-se o segundo mercado mais importante do mundo depois dos EUA, que registrou 10,7 bilhões de dólares. E não é só bilheteria. “Através do cinema, vende-se tudo”, lembra Paulo Sérgio Almeida, diretor do Filme B, sobre os produtos que surgem com os filmes.

“Há muito dinheiro da China nos EUA agora. E a Coreia do Norte, além de render boas manchetes nos jornais, não representa uma ameaça a Hollywood, já que os filmes americanos não são lançados oficialmente por lá”, diz o crítico alemão Johannes Schonherr, autor do livro North Korean Cinema: A History, lançado em 2012. Os produtores de Amanhecer Violento sabem bem disso. A princípio, o inimigo do filme original, a União Soviética, seria substituído pela China, mas os investidores não gostaram da ideia de perder o mercado asiático e o filme teve de ser redublado às pressas para fingir que os vilões eram norte-coreanos.

Velhos inimigos – Ter a Coreia do Norte como inimiga não é exclusividade de filmes novos. Antes, outros já colocaram o país nesse papel. É o caso de Salt (2010), no qual a protagonista de Angelina Jolie é torturada no país sob suspeita de ser uma espiã americana, e 007 – Um Novo Dia Para Morrer, de 2002, no qual o agente secreto britânico James Bond (Pierce Brosnan) é preso por soldados norte-coreanos. Na época do lançamento deste, aliás, o ditador Kim Jong-Il (1941-2011), cinéfilo convicto que, inclusive, escreveu um manual (A Arte do Cinema) com regras para as produções do país e dicas de atuação e direção, disse que o filme insultava os norte-coreanos.

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Não que na Coreia do Norte seja diferente. Segundo o crítico alemão Johannes Schonherr, longas em que os EUA são retratados como o inimigo são extremamente comuns no país. “Nos filmes de guerra norte-coreanos, os vilões estão sempre em carros ou aviões marcados com o símbolo do exército americano, embora sejam interpretados por coreanos ou, em alguns casos, russos”, afirma. “A Coreia do Norte se ofereceu de bandeja para Hollywood.”

(Com reportagem de Meire Kusumoto)

https://youtube.com/watch?v=bwJJkeOTT6Y

União Soviética

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Após o fim da Segunda Guerra Mundial e com o início da Guerra Fria, em 1945, os Estados Unidos se viram ameaçados por uma nova força, o comunismo, representado pela União Soviética. Em um exemplo de como a política influenciou os estúdios de Hollywood, muitos filmes produzidos entre 1945 e o final da década de 1980 tinham os soviéticos como os principais vilões. Com o desmantelamento da União Soviética, em 1991, o tema perdeu força e as produções procuraram outras nacionalidades para transformar em antagonistas.

A série de filmes do lutador de boxe Rocky Balboa, por exemplo, é um clássico nacionalista do ator e diretor Sylvester Stallone que faz questão de sugerir a supremacia dos Estados Unidos sobre a União Soviética. No quarto longa da franquia, de 1985, Rocky (Stallone) enfrenta e vence o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren) no ringue, devidamente uniformizado com um calção estampado com a bandeira americana.

Alemanha

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Em lado oposto ao da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos levaram a rivalidade para as telas do cinema e criaram vilões alemães não só durante o conflito, entre 1939 e 1945. Durante os anos subsequentes, Hollywood revelou antagonistas da Alemanha que exibiam frieza e, alguns, até mesmo uma suástica pregada em seus uniformes.

Os vilões alemães foram lembrados durante década por filmes cujo enredo se situavam nos 1930 e 1940. Em 1981, o primeiro filme da franquia do arqueólogo Indiana Jones, Os Caçadores da Arca Perdida, é um bom exemplo. A ação se passa no ano de 1936, quando o herói (Harrison Ford) entra em franco embate contra os nazistas pela Arca da Aliança, o baú bíblico que guarda o segredo da existência humana. A situação se agrava quando Jones descobre que caso os nazistas encontrem o objeto, suas tropas se tornarão invencíveis.

Oriente Médio

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Após os ataques aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 empreendidos pelo grupo fundamentalista islâmico Al-Qaeda, os estúdios de Hollywood se voltaram para um novo vilão, o Oriente Médio. 

Guerra ao Terror (2008) e A Hora Mais Escura (2012) são duas produções da diretora Kathryn Bigelow que abordam as relações difíceis entre Estados Unidos e os países islâmicos. O primeiro filme mostra a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque pela perspectiva dos soldados americanos. Já o segundo conta a história da caçada de uma agente da CIA por Osama bin Laden.

China

O rápido crescimento econômico da China já a coloca como a segunda maior economia do mundo, ameaçando seriamente os Estados Unidos. Apesar de grandes parceiros comerciais, os países não mantêm as melhores relações políticas, principalmente porque a nação asiática é liderada pelo Partido Comunista da China, que se opõe ao capitalismo defendido pelos EUA. Os estúdios de Hollywood, atentos a isso, começaram a incluir vilões chineses em suas produções.

Em Jogo de Espiões, dirigido por Tony Scott em 2001, o personagem principal, vivido por Brad Pitt, é um agente da CIA preso ilegalmente numa prisão chinesa do Exército de Libertação Popular que é interrogado sob tortura e corre o risco de ser executado friamente. Tudo para criticar o regime fechado da China, retratado como brutal e injusto.

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