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Resíduo de medicamentos altera comportamento de peixes

Restos de fluoxetina, componente do Prozac, e de anticoncepcionais eliminados pelo ser humano contaminam água e habitat dos animais

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h25 - Publicado em 19 nov 2012, 16h41

Resíduos de medicamentos ingeridos pelo homem são eliminados pela urina e seguem direto para o sistema de esgoto, acabando em rios e lagos. A ciência já sabe há alguns anos que esse processo de despejo acontece, mas os levantamentos que tentam precisar as consequências do fenômeno para a flora e a fauna ainda são recentes. Um estudo apresentado durante o encontro anual da divisão norte-americana da Sociedade de Toxicologia Ambiental e Química, na Califórnia, no entanto, conseguiu quantificar parte dessa influência. De acordo com pesquisadores da Universidade Wisconsin-Milwaukee, restos de remédios podem alterar o comportamento natural de peixes de rios. As informações são da revista científica Nature.

Quando tratado, o esgoto consegue eliminar resíduos sólidos e até mesmo metais pesados, mas é ineficiente para descartar alguns compostos de remédios. Ecologistas do Great Lakes Water Institute, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, estudaram, então, os efeitos da concentração de fluoxetina, o componente do antidepressivo Prozac, em populações de Pimephales promelas, um peixe encontrado em ambientes de água doce nos Estados Unidos. Em situações normais, os machos dessa espécie constroem ninhos nos quais as fêmeas depositam seus ovos. Depois, eles os vigiam para protegê-los de ameaças externas, como fungos.

Quando a equipe liderada por Rebecca Klaper elevou a fluoxetina da amostra a níveis comparáveis à concentração mais elevada encontrada na natureza em ambientes de água doce, o comportamento dos machos começou a mudar: eles demoravam mais para construir os ninhos. A mudança comportamental tornou-se ainda mais radical à medida que Klaper simulou cenários com mais fluoxetina. “Optamos por avaliar a influência em níveis altos de fluoxetina, e não na média, porque acreditamos que há diversos outros componentes de drogas nas águas. É possível, então, que a concentração de químicos esteja muito elevada por um efeito cumulativo de todos esses componentes”, disse Klaper ao site de VEJA.

Ao aumentar em dez vezes os níveis de vestígios de fluoxetina, por exemplo, os machos se tornaram tão obsessivos a ponto de ignorar as fêmeas. Em simulações com concentrações ainda mais elevadas, com 100 vezes mais componentes, a reprodução foi totalmente interrompida e os machos começaram a matar as fêmeas. Segundo a pesquisadora, o estudo é fundamental para que se avalie quais produtos estão agredindo a fauna dos rios. “Precisamos saber quais químicos têm as consequências mais severas e que, portanto, precisam ser removidos via técnicas de processamento de esgoto.”

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Queda populacional – Em outro estudo apresentado no mesmo encontro, pesquisadores da St. Cloud State University, em Minnesota, mostraram que a presença de um elevado grau de estradiol (encontrado em pílulas anticoncepcionais) em ambientes de água doce retarda o reflexo de fuga do Pimephales promelas. Esse reflexo é importante, já que é utilizado para escapar de predadores.

Para a pesquisa, os cientistas separaram dois grupos de larvas do peixe. Um deles foi exposto ao estradiol, o outro, não. Em seguida, os dois grupos foram colocados em um ambiente com a presença de predadores. Como resultado, 55% das larvas não contaminadas sobreviveram, número maior do que o observado nas larvas não expostas, de 45%. Apesar da diferença parecer pequena, os pesquisadores alertaram que o impacto seria suficiente para causar uma grande redução populacional em peixes expostos ao estradiol. “Há razão para nos preocuparmos”, diz Dan Rearick, toxicologista aquático da St. Cloud State University.

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