Apesar de metas da COP26, mundo segue para aquecimento de 2,4°C
Valor ultrapassa limite de 2°C que planeta precisa estar 'bem abaixo' sob Acordo de Paris e o limite de 1,5°C almejado nas negociações da cúpula
Apesar de variados compromissos governamentais para cortes de emissões de carbono na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, o mundo está no caminho de níveis desastrosos de aquecimento global, ultrapassando os limites do acordo climático de Paris.
Segundo uma pesquisa apresentada nesta terça-feira, 9, em Glasgow, onde a cúpula está acontecendo, o aumento de temperatura irá ultrapassar 2,4 graus Celsius, com base nos objetivos de curto prazo estabelecidos pelos países. O valor ultrapassa o limite de 2 graus que o Acordo de Paris afirma que o mundo precisa estar “bem abaixo”, e o limite de 1,5 grau almejado nas negociações da COP26.
O objetivo principal da cúpula, que se encerra nesta semana, é elaborar um acordo, entre outros pontos, para elevar a ambição pela redução das emissões de carbono e garantir transferências financeiras dos países ricos para nações em desenvolvimento. No entanto, segundo o Climate Action Tracker, uma coalizão de análise climática, a COP26 possui um “vácuo gigantesco entre credibilidade, ação e comprometimento”.
Quando as políticas de fato dos governos são analisadas, ao invés de promessas, o aquecimento projetado para o mundo em 2100 é de 2,7 graus, segundo o grupo, formado por organizações como o Instituto Potsdam para Pesquisas de Impacto Climático, na Alemanha.
“Estamos preocupados que alguns países tentam retratar como se o limite de 1,5 grau estivesse perto. Mas não, estamos muito longe disso, e eles estão minimizando a necessidade de ter metas de curto prazo para 2030 em linha com 1,5 grau”, ressalta Bill Hare, chefe-executivo da Climate Analytics, uma das organizações por trás da coalizão, ao jornal britânico Guardian.
Em 2030, as emissões de gases causadores do efeito estufa serão duas vezes mais altas que o necessário para manter o aumento de temperatura baixo de 1,5 grau, ressalta o relatório.
“Este é um relatório devastador que, em qualquer mundo são, faria com que governos em Glasgow colocassem suas diferenças imediatamente de lado e trabalhassem com vigor para um acordo para salvar nosso futuro comum”, afirmou Jennifer Morgan, diretora-executiva da Greenpeace International.
Ainda que o panorama seja negativo, houve de fato uma melhora desde 2015, durante a cúpula climática de Paris. Na época, a Climate Action Tracker estimou que as políticas em vigor colocaria o planeta em curso para um aquecimento de 3,6 graus.
Para a coalizão, governos não se aproveitaram do momento para limitar cortes de emissões, fazendo com que o progresso tenha sido cessado.
Poucos dias antes do início da COP, a ONU alertou que os compromissos atuais dos países para cortar emissões de gases causadores do efeito estufa deixam o planeta no caminho de um “catastrófico” aumento da temperatura do planeta em 2,7 graus Celsius.
“Para ter a chance de limitar o aquecimento global a 1,5 grau, temos oito anos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa quase pela metade. O relógio está correndo ruidosamente”, enfatizou a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, após a divulgação do relatório “Emissions Gap Report”.
Para atingir o objetivo de minimizar os danos, e limitar o aumento da temperatura neste século para os patamares desejados, o relatório afirma que seria necessária uma redução anual adicional, acima dos compromissos atuais, de 28 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente, medida usada para quantificar a massa dos gases de efeito estufa a partir do potencial de aquecimento. O relatório, no entanto, estima que, na taxa atual, as emissões globais serão de 60 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente.
Em relatório publicado em agosto, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU indicou que o aquecimento global está avançando mais rapidamente do que o esperado e que a atividade humana está alterando o clima do planeta de maneiras “sem precedentes”. Além disso, algumas das mudanças já se tornaram “irreversíveis”.
Segundo o IPCC, os picos de temperatura passarão a ser mais frequentes conforme o planeta fica mais quente. Não existem mais dúvidas de que a humanidade é a responsável pelo avanço do aquecimento global. Para os cientistas, a questão não é mais se a temperatura poderá ou não subir, mas sim quanto.
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