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UFC 214: boa chance para Dana recordar que Brasil merece respeito

Chefe do UFC entrou em conflito com lutadores (e até árbitro) do país. Neste sábado, Demian e Cris Cyborg podem conquistar cinturão e aliviar tensão

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h13 - Publicado em 28 jul 2017, 18h20
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  • O auge de Anderson Silva, José Aldo, Vitor Belfort e Júnior Cigano ficou para trás, assim como a boa vontade do presidente Dana White e dos outros chefes do UFC com o MMA brasileiro. Nos últimos anos, diversos acontecimentos revelaram uma espécie de rompimento entre Dana e os atletas do país. Recentemente, até um árbitro brasileiro, Mario Yamasaki, experimentou a fúria do cartola americano que o criticou duramente, inclusive de forma pouco profissional. O Brasil detém hoje apenas um cinturão, de Amanda Nunes – que também foi atacada por Dana no mês passado – no peso-galo feminino. Na madrugada deste sábado, Demian Maia e Cris Cyborg poderão conquistar títulos em um megaevento, o UFC 214, em Anaheim, na Califórnia, e melhorar a imagem do país na organização (que foi criada, diga-se, sob fortíssima influência brasileira).

    Depois que o UFC foi vendido a um grupo chinês por incríveis 4 bilhões de dólares, Dana – que seguiu sendo presidente e o rosto oficial do UFC – passou a entrar em mais divididas e tomar medidas contestáveis (contanto que favorecessem seus negócios). A falta de meritocracia (esportiva) nas disputas de cinturão do Ultimate ficou escancarada, sobretudo no caso de alguns brasileiros pouco “vendáveis”, como Ronaldo Jacaré e o próprio Demian Maia, que precisou vencer sete lutas para receber, às pressas, uma chance neste sábado, contra o campeão peso-meio-médio Tyron Woodley, no UFC 214.

    “Acho que minha chance demorou tanto porque depende de quem escolhe as lutas. Existe uma concepção de que o americano é melhor para a empresa e de que lutas sem pancadaria são mais chatas… Por mais profissional que seja a empresa, sempre tem pessoas por trás que tomam decisões com base na emoção e não na razão”, contou Demian, em São Paulo, no início do mês.  “O que vai acontecer com o UFC no Brasil não depende só dos brasileiros, mas da direção do UFC querer ser mais plural. Essa chance, que conquistei com muito esforço, poderia ter sido dada ao Jacaré e outros. Não basta só ser bom, é preciso ter a oportunidade para ser campeão.” Conformado, ele diz saber que o UFC o escalou já pensando num provável retorno do astro canadense Georges St. Pierre, em novembro. “Eles querem essa luta, que dará mais dinheiro. Para eles tanto faz se for eu ou o Woodley contra o GSP.”

    Spider e Aldo desprestigiados

    Dana White e Anderson Silva na coletiva em Las Vegas: 'Foi uma batalha trazê-lo aqui'
    Dana e Anderson Silva, no auge do brasileiro (Jeff Bottari/Zuffa LLC/Getty Images/VEJA)

    Até mesmo grandes ídolos e ex-campeões como Anderson Silva e José Aldo sofreram nas mãos de Dana nos últimos anos. Mas também fizeram suas bobagens. Derrotado por Chris Weidman (e também por sua soberba), Anderson perdeu o cinturão e iniciou uma derrocada. Se lesionou gravemente, foi pego no doping e se enrolou todo ao tentar provar inocência. Depois, ganhou uma boa chance contra o britânico Michael Bisping (hoje campeão dos médios) e foi superior ao adversário, mas acabou derrotado em uma decisão muito controversa da arbitragem em Londres, em fevereiro de 2016. Diante de protestos pesados de Anderson, Dana disse que também viu vitória do brasileiro na luta, mas o estrago já estava feito e a derrota consumada.

    O brasileiro ainda livrou o UFC de um grande problema quando topou substituir, em cima da hora, o dopado Jon Jones no UFC 200. Fora de seu peso e sem treinamento adequado, foi derrotado por Daniel Cormier. Na época, Anderson reclamou de não ter recebido sequer um “obrigado” de Dana por ter quebrado um enorme galho para o UFC. O dirigente retrucou.Provavelmente há caras que podem dizer que se sentiram maltratados pelo UFC. Anderson Silva não é um deles. Se tem um cara que está longe de ter sido maltratado é ele. Bem longe disso”, afirmou Dana, em entrevista a Fox Sports americana.

    José Aldo também teve motivos de sobra para reclamar. Foi destronado de forma impiedosa por Conor McGregor em 13 segundos e, desde então, o falastrão e talentoso irlandês passou a ser o queridinho de Dana. Uma revanche imediata era mais do que óbvia, visto o longo domínio de Aldo na categoria dos penas. O brasileiro pediu e McGregor topou, mas o UFC não quis. Dois anos depois, a revanche jamais aconteceu e todas as vontades de McGregor foram atendidas. Inclusive disputar lutas em outras categorias: em março de 2013, em categoria acima, McGregor foi dominado por Nate Diaz, um lutador de poucas glórias na carreira, com direito a constrangedores tapas na cara, fato que o UFC fez de tudo para apagar. Concedeu-lhe uma revanche e McGregor bateu Diaz, em agosto daquele ano. Depois, o irlandês arrasou Eddie Alvárez e se tornou o único campeão em duas categorias do UFC de forma simultânea – teve de abrir mão do título dos leves na sequência.

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    Além de ser carismático, McGregor é um excelente lutador e tem seus méritos, claro. Mas para promovê-lo, o UFC permitiu que o irlandês “travasse” a categoria dos penas, fazendo de Aldo, que manteve o cinturão por quatro anos, o maior prejudicado. O lutador manauara se rebelou, com toda razão, depois de ter conquistado o cinturão interino ao bater Frankie Edgar, no UFC 200, e, mesmo assim, ter sua revanche com McGregor negada. “De saco cheio”, Aldo chegou a anunciar a aposentadoria, o que seria um verdadeiro nocaute ao show fabricado do UFC. Infelizmente, após negociações com Dana White, o brasileiro se mostrou refém dos negócios, pois ainda tinha contrato com o UFC, e entrou para o grupo de “ex-aposentados”  de forma quase melancólica. Já o consagrado McGregor largou o UFC temporariamente para desafiar outro astro “trash-talker”, a lenda do boxe Floyd Mayweather. A mais nova “luta do século”, que será de boxe e não de MMA, em agosto, em Las Vegas, vem sendo promovida por, adivinhe, Dana White.

    Confusão durante evento do UFC 189 em Dublin, na Irlanda em 2015
    Dana tenta conter Aldo na promoção da luta contra McGregor, vencida pelo irlandês (Jeff Bottari/Zuffa LLC/Getty Images)

    Preconceito com brasileiros?

    Demian Maia não acredita em perseguição explícita aos brasileiros, mas ressalta um preconceito que vai além do esporte.  “Eu acho que não só nos Estados Unidos, mas em muitos países desenvolvidos, existe a tendência de as pessoas acharem que são melhores ou mais inteligentes que as de países subdesenvolvidos, isso é normal. Não sei o quanto isso tem a ver com meu caso, mas em geral, tende-se a colocar pessoas no mesmo balaio. E é assim que surgem guerras, preconceito, isso é da natureza do ser humano, essa coisa de se colocar em grupos e imaginar que os que não fazem parte dele são inferiores.”  O atleta, formado em jornalismo, não descarta que os problemas com Anderson Silva, José Aldo, Amanda Nunes, Yamasaki e companhia o prejudicaram “por tabela”. “Não sei… não deveria, porque cada pessoa é uma pessoa independente da nacionalidade, mas pode ser que sim.”

    Mario Yamasaki
    O árbitro brasileiro Mário Yamasaki (Jeff Bottari/Zuffa LLC/Getty Images)

    Mario Yamasaki, o árbitro brasileiro criticado por uma suposta falha no UFC Oklahoma (o lance é passível de discussão) e comparado por Dana a “uma menina de 12 anos” por fazer “coraçõezinhos” para a câmera (um mero gesto de carinho aos familiares), não quis entrar em mais polêmica com o dirigente. “Acredito que o Dana White é um excelente empresário, elevou o esporte a um nível que ninguém imaginava, mas continua sendo um show e ele tem o direito de dar sua opinião, é preciso respeitar”, afirmou nesta sexta-feira, direto de Maryland, nos Estados Unidos. Ele não foi convocado para o UFC 214 e diz não ter conversado com Dana White desde o último evento que participou.

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    Segundo Yamasaki, um dos fatores que desestimula o UFC a investir nos brasileiros é a dificuldade da maioria com a língua inglesa – confirmando que, na balança de Dana White, irmãos Fertitta e companhia, o entretenimento sempre terá mais peso que o desempenho esportivo. “Vejo a falta de comunicação como o maior empecilho para os brasileiros brilharem no evento. Digo isso em termos de idioma mesmo, na minha percepção. Nossos atletas precisam ser os embaixadores da marca e não ‘apenas lutadores’. Claro, isso também é importante, mas é um combo, é preciso saber se comunicar com o mundo.”

    O respeitado árbitro, que há 18 anos trabalha nas principais lutas do UFC, acredita que as possíveis vitórias de Demian Maia, no peso-meio-médio, e de Cris Cyborg, no inédito peso-pena feminino – ambos falam inglês muito bem – podem dar novo fôlego ao MMA brasileiro dentro da organização. “Demian é um super exemplo para o esporte e aprendeu a se defender também no inglês. É culto e seria ótimo para o Brasil, assim como a Cyborg. É uma boa oportunidade para os dois e para nosso país, incentiva ainda mais os lutadores, e mesmo que o UFC aparente ter alguma questão com os brasileiros, é lá dentro do octógono que está o foco, independente de nacionalidade.”

    As rixas de Dana White, porém, não têm se limitado a brasileiros ou sul-americanos. Nesta semana, outra lenda do MMA, o americano Jon Jones, admitiu mágoa com o presidente do UFC. Voltando após escândalos de doping e problemas pessoais, o atleta de 30 anos disse se sentir “abandonado” pelo ex-amigo. “Eu acho que, quando você faz dinheiro para a companhia, é uma atração de pay per view e coloca dinheiro no bolso dele, você significa muito para ele. Mas no momento que você não faz essas coisas, você não significa mais nada e ele deixou isso claro”, disse , ao jornal LA Times. Neste sábado, Jon Jones também poderá dar a volta por cima, diante do campeão dos meio-pesados Daniel Cormier, na luta principal do UFC 214. Assim como o Brasil, Jones merece muito respeito de Dana. O card principal do evento começa às 23h (de Brasília), com transmissão do canal Combate. 

    UFC 214 – 29 de julho, em Anaheim, nos Estados Unidos

    Card principal:

    Peso-meio-pesado: Daniel Cormier x Jon Jones

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    Peso-meio-médio: Tyron Woodley x Demian Maia

    Peso-pena: Cris Cyborg x Tonya Evinger

    Peso-meio-médio: Robbie Lawler x Donald Cerrone

    Peso-meio-pesado: Jimi Manuwa x Volkan Oezdemir

    Card preliminar:

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    Peso-pena: Ricardo Lamas x Jason Knight

    Peso-casado (63,5kg): Aljamain Sterling x Renan Barão

    Peso-pena: Renato Moicano x Brian Ortega

    Peso-pena: Andre Fili x Calvin Kattar

    peso-palha: Kailin Curran x Alexandra Albu

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    Peso-mosca: Eric Shelton x Jarred Brooks

    Peso-leve: Josh Burkman x Drew Dober

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