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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Marcos Palmeira sobre a modernização de ‘Pantanal’: ‘Homem mais leve’

Em entrevista a VEJA, intérprete de José Leôncio no remake da Globo avalia diferenças da versão original exibida pela Manchete em 1990

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 jul 2022, 09h43

Presente nas duas versões de Pantanal, Marcos Palmeira é um dos artistas que mais conseguem identificar as mudanças na adaptação de Bruno Luperi da trama escrita por Benedito Ruy Barbosa e exibida pela extinta Manchete em 1990. Recentemente, em 4 de julho, a novela das 9 da Globo exibiu um importante discurso de José Leôncio (personagem de Palmeira) repreendendo a homofobia praticada pelos peões da fazenda contra Zaquieu (Silvero Pereira). Em entrevista a VEJA, o ator de 58 anos avalia que a modernização dos temas é de extrema importância para os tempos atuais.

Na versão original do folhetim, o ator deu vida justamente a Tadeu, hoje interpretado por José Loreto, que é o mais preconceituoso com o mordomo homossexual de Mariana (Selma Egrei). Diferentemente da Pantanal exibida em 1990, que mostrava um Zé Leôncio (Cláudio Marzo) despreocupado com as piadas feitas sobre Zaqueu (João Alberto Pinheiro), o remake fez um grande aceno à diversidade.

“Eu sou uma besta e ‘ocês’ tudo são umas bestas também. Todo mundo que achou graça na ‘esquisitice’ do Zaquieu… Mas é bom o povo se acostumar. Isso que ‘ocês’ fizeram não é piada, não. É homofobia e é crime”, repreendeu o Leôncio de Marcos Palmeira.

Além disso, o veterano pensa da mesma forma que o Jove atual, interpretado por Jesuita Barbosa, sobre os galãs serem mais sensíveis agora do que antigamente. 

Confira a entrevista na íntegra:

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Como foi o convite para estrelar o remake de Pantanal e qual é a sensação de retornar ao bioma após mais de trinta anos? O convite partiu de um contato inicial do Bruno Luperi, sabendo da minha disponibilidade. Eu me coloquei à disposição para qualquer coisa na novela, existia a possibilidade de ser um Zé Lucas de Nada, enfim, ninguém sabia direito. Depois o Papinha [diretor Rogério Gomes] confirmou que eu seria o Zé Leôncio e foi uma alegria. Se eu tivesse elasticidade o suficiente, teria dado vinte cambalhotas. Foi realmente, para mim, uma emoção gigante poder voltar trinta anos depois para o Pantanal, com um olhar de um novo ciclo se abrindo, pelo momento da minha carreira. Tudo muito rico para mim, estou aproveitando ao máximo. 

Quais são as diferenças que percebe entre a região pantaneira de 1990 e a de agora? E o que acha que está igual? O Pantanal é o grande protagonista dessa novela. Então é ele que aparece, eu nem preciso falar nada. Qualquer imagem é muito mais forte que qualquer palavra, um bioma que está sofrido. A gente vem sempre confiando nos ciclos, mas é o que eu digo: se o homem não fizer nada para ajudar, a natureza se transforma sem se regenerar, ela vira outra coisa. É isso, o Pantanal está precisando de ajuda. A água, a seca, o desmatamento da Amazônia, o entorno dele, a questão da produção de soja, todas as questões são muito delicadas. E fica claro nas imagens. Elas mostram que é o bioma um paciente que precisa de cuidados para se recuperar e tem grandes possibilidades de se recuperar. O Brasil não vai se deixar perder uma riqueza como essa. 

Teve medo de interpretar o papel que foi de Cláudio Marzo (1940-2015) na versão original, sabendo das inevitáveis comparações? Foi fácil lembrar de como ele dava vida ao personagem? Eu me senti honrado de poder desempenhar um papel que o Cláudio Marzo tinha feito. Um ator que era um querido, meu amigo, foi um galã dos filmes do meu pai [o cineasta Zelito Viana], né? Cláudio Marzo permeou a minha vida durante muito tempo. Eu procurei não me preocupar com isso, para não me cobrar além do normal. Porque já era uma novela em que o público sabia mais da trama do que a gente. Então era uma responsabilidade enorme. Mas eu foquei em fazer o personagem como o Bruno me apresentava, sem olhar trejeitos, mas fui olhar também a novela da época, como a gente tinha feito, para relembrar algumas coisas. Tudo muito leve. Todo o elenco carregava um pouco essa pressão e a gente fica feliz em dar uma descomprimida em saber que o público está embarcando nessa com a gente. E o texto do Bruno conseguiu dar uma atualizada em tudo também. 

Por ter interpretado o Tadeu na novela de 1990, é estranho estar “do outro lado” nessa relação de pai e filho de agora? O curioso foi no início, quando eu fazia as leituras. Eu lia como se fosse o Tadeu, então foi como se o Zé Leôncio tivesse a idade do Tadeu. Aos poucos eu fui trabalhando e me descolando disso. Não foi estranho, pelo contrário, isso foi uma grande diversão aqui. 

Como avalia a atuação de José Loreto como Tadeu? Acha que ele consegue imprimir o peão da mesma forma que a versão original? O José Loreto é incrível. Ele faz um outro tipo de Tadeu, completamente diferente de tudo que eu fiz, o que é lindo. Sem deixar de fazer alguma homenagem na brincadeira, mas é um ator brilhante, o Loreto já demonstrou isso em outros papéis no cinema. E eu acho que ele faz um Tadeu brilhante com todo seu potencial. Os personagens são muito ricos, e com bons atores facilita muito. 

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Acha que essa rejeição toda de José Leôncio com Tadeu e o abandono de Jove são justificáveis? Eu acho que existe uma coisa desse universo rural, desses homens rústicos que têm muita dificuldade de lidar com esses sentimentos, então acho justificável sim. Essa rejeição com Tadeu e abandono do Jove são coisas desses homens de cabeça dura, teimosos. Isso faz parte. Isso é uma das riquezas da novela, tocar em sentimentos tão nobres, de amor, ódio, ciúme, insegurança.

Como enxerga esse sucesso de Pantanal nas redes sociais? Tem acompanhado a recepção deste novo público? E o que acha desse comportamento dos internautas de viralizarem as cenas e acontecimentos da novela? É maravilhoso poder ver o sucesso dessa forma, de ver as pessoas curtindo. Isso é muito gratificante, né? É um bálsamo que a própria Globo merecia, por todo o esforço que ela faz em defesa da nossa cultura também. É muito legal ver as redes sociais bombando. Eu não acompanho muito, mas é muito bom ver essa repercussão. 

Como avalia a modernização da novela para se adaptar aos discursos mais politicamente corretos e atuais, como o feminismo de várias personagens e o jeito do Jove de não querer ostentar o estereótipo do homem hétero? Eu acho que o Bruno tem sido muito feliz nessa modernização da novela. Eu acho linda a relação do Joventino com a Juma, esse homem que não precisa estar no lugar do “macho” para ser homem, para amar e expressar seus sentimentos, eu acho que é muito linda essa coisa do homem moderno. A gente precisa encontrar na gente [homens], esse homem mais leve. Mais humano até. 

Muitas fotos dos bastidores da novela têm rodado a internet mostrando os atores bem descontraídos. Como tem sido a sua rotina no Pantanal? Tem alguma história curiosa ou engraçada para contar desses momentos fora das câmeras? Nesse mundo de hoje, nós somos nossos próprios paparazzi, o que não deixa de ser divertido. Um elenco muito animado, o astral entre a gente é muito bom, então temos o prazer de postar fotos da gente. Não é na intenção de aparecer, mas todos nós nos curtimos muito. Eu tô muito feliz com esse elenco. A nossa relação é uma dessas coisas fortes. Elenco, direção, equipe. A gente sempre acorda aqui e fala que é bom ir para o set, independentemente de quem vai dirigir no dia. Nosso set está muito preservado nesse lugar de ser onde a magia acontece. Os diretores, cada um com seu estilo, mas envolvidos com a história, a gente vê eles vibrando com os enredos. É quase uma concepção coletiva que a gente vive aqui. Muito linda. 

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