Insetos veem o mundo em ‘câmera lenta’
Animais pequenos e com metabolismo rápido apreendem mais informações por unidade de tempo, o que os faz perceber o tempo passar mais lentamente
A imensa dificuldade enfrentada ao tentar matar uma mosca não é só uma questão de falta de mira. Um novo estudo mostra que insetos e outros animais pequenos veem o mundo de forma diferente dos humanos, em uma espécie de câmera lenta – como na famosa cena do filme Matrix, em que o personagem principal desvia de tiros movendo o corpo por entre as balas.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Metabolic rate and body size are linked with perception of temporal information
Onde foi divulgada: periódico Animal Behaviour
Quem fez: Kevin Healy, Luke McNally, Graeme D. Ruxton, Natalie Cooper e Andrew L. Jackson
Instituição: Universidade de St Andrews, Reino Unido, e outras
Resultado: Os insetos e outros animais pequenos veem o mundo em “câmera lenta”, por possuírem uma visão que reage aos estímulos de forma mais rápida do que humanos e outros animais maiores.
De acordo com a pesquisa, que será publicada na versão impressa do periódico Animal Behaviour, animais pequenos e com metabolismo rápido, como insetos e aves, são capazes de apreender mais informações por unidade de tempo. Isso faz com que eles percebam o tempo mais lentamente do que animais maiores e com metabolismos mais lentos, como os humanos.
Pesquisa – Os pesquisadores utilizaram a frequência crítica de fusão, um sistema que mede a velocidade com a qual o olho de um indivíduo percebe a luz. Mediu-se, então, em mais de trinta espécies, a menor frequência a partir da qual uma luz piscando é percebida como constante – isso foi feito a partir da observação das contrações oculares do animal diante da luz.
É devido a essa frequência de percepção da luz que não vemos a televisão, o computador ou o cinema piscando, mas como algo contínuo. Já os olhos das moscas, por exemplo, reagem aos estímulos quatro vezes mais rápido do que os dos seres humanos – o que nos torna muito lentos, na visão delas.
“Ter olhos que enviam atualizações para o cérebro em frequências mais altas não adianta nada se o cérebro não for capaz de processar essa informação também de forma rápida. Assim, o estudo destaca as impressionantes capacidades presentes mesmo nos menores cérebros”, afirma Graeme Ruxton, pesquisador da Universidade de St. Andrews e um dos autores do estudo.
Segundo Luke McNally, da Universidade de Edimburgo e também autor do estudo, essa variação na percepção do tempo também pode ser utilizada por alguns animais para enviar sinais escondidos. “Muitas espécies usam luzes que piscam para enviar sinais, como vaga-lumes e alguns animais que vivem nas profundezas do oceano. Predadores maiores e mais lentos não conseguem decodificar esses sinais se sua percepção visual não for rápida o bastante, o que dá a esses animais um canal secreto de comunicação”, afirma o pesquisador.
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