Serra e FHC viajam ao Uruguai para impedir que Venezuela lidere Mercosul
Principal temor é de que uma eventual presidência da Venezuela prejudique as negociações de um acordo comercial entre o bloco e a União Europeia
O ministro das relações exteriores, José Serra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram na manhã desta terça com o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, em Montevidéu. O encontro, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi para pedir “mais tempo” antes de o país, que atualmente lidera o Mercosul, passar o posto para a Venezuela – o que estava previsto para acontecer no próximo dia 12.
A liderança do Mercosul funciona em esquema de rodízio e a presidência do bloco deveria ser transmitida neste segundo semestre ao país venezuelano. O principal temor dos integrantes do bloco é de que uma eventual presidência da Venezuela prejudique as negociações de um acordo comercial entre o bloco e a União Europeia, que se arrastam há vários anos. Além disso, a Venezuela é alvo de um pedido do Paraguai para aplicação da cláusula democrática, o que poderia resultar em sua suspensão.
Leia mais:
Venezuela terá até 2016 para se ajustar às regras do Mercosul
Após a reunião, Serra explicou que o Brasil busca uma posição intermediária. Já o ex-presidente FHC, que viajou como convidado do governo uruguaio, disse que o país compreende a posição do Uruguai de que é preciso “respeitar as regras”. “Não estamos pedindo para não respeitar as regras, mas que se possa discutir, mais adiante, se a Venezuela fez a lição de casa para ingressar no Mercosul”, declarou o ex-presidente, acrescentando que esse cuidado não se aplica só aos venezuelanos, mas a qualquer nação que em algum momento esteja em processo para ingressar no bloco.
De acordo com o jornal, a proposta apresentada no encontro foi esperar até agosto para decidir a sucessão no comando do Mercosul. “É o prazo para a Venezuela cumprir exigências para seu ingresso no Mercosul”, explicou Serra. Segundo informou, Tabaré concordou em voltar a conversar nesse prazo. Não ficou claro, porém, qual punição o Brasil defenderia para a Venezuela, caso essas exigências não fossem cumpridas.
O governo do Uruguai anunciou a convocação de uma reunião de chanceleres do Mercosul na próxima segunda-feira, para discutir a situação da Venezuela, que, quatro anos depois de integrar o bloco, ainda não cumpriu com as regras. O governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, é acusado de manter presos políticos, incluindo o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López, e de manobrar para evitar a realização de um referendo – convocado pela oposição – para revogar seu mandato.
A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, reagiu às declarações de Serra e escreveu em sua conta no Twitter: “A República Bolivariana da Venezuela rechaça as insolentes e amorais declarações do chanceler de facto do Brasil”. A chanceler também insistiu que há no um golpe de Estado no Brasil “que vulnera a vontade de milhões de cidadãos que votaram na presidenta [sic] Dilma”, e atacou: “O chanceler de facto José Serra se soma à conspiração da direita internacional contra Venezuela e vulnera princípios básicos que regem as relações internacionais”.
(Da redação)