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Plantas de proveta

O Brasil que dá certo tem muitos exemplos de como a pesquisa constante é o caminho mais seguro para o sucesso no campo

Por Gabriel Castro e Kalleo Coura
19 jun 2014, 23h38

Do solo da região de Petrolina, no sertão de Pernambuco, nasce um tipo exótico de fruta: a uva com sabor de algodão-doce. Não se trata de uma anomalia. Pelo contrário. A variedade é resultado de investimentos elevados. Há três anos, as Fazendas Labrunier decidiram aplicar 4 milhões de reais em pesquisa e criar no entorno da cidade pernambucana, com a participação de cinco geneticistas estrangeiros e da Embrapa, a maior área experimental de uvas do planeta. Dos 880 hectares produtivos, 374 são usados para pesquisas com 110 novos tipos de uva. “Só conseguimos competir com o exterior porque fazemos muitos estudos. Se há um lado positivo no custo Brasil é que ele nos obriga a buscar soluções para termos a maior eficiência possível”, diz Arnaldo Eijsink, presidente do Grupo JD, que controla as fazendas.

Em Petrolina, a tecnologia e a irrigação adequada transformaram o terreno seco em uma área fértil de cultivo de uvas, mangas e outras frutas. A maior parte do que lá é produzido acaba exportada para a Europa e os Estados Unidos. E não é possível ganhar esses mercados sem inovação constante. Desde que as pesquisas começaram, a produtividade anual das Fazendas Labrunier saltou de 25 para 35 toneladas por hectare. No ano passado, a cidade passou a abrigar também um centro de pesquisas da multinacional Monsanto, que investiu ali até o momento mais de 20 milhões de dólares, sem nenhuma contrapartida do município ou do estado. O clima ensolarado da cidade facilita o trabalho. “Este é um dos melhores lugares do planeta para fazer pesquisa. Temos aqui a segunda mais importante unidade de pesquisas da Monsanto no mundo”, diz o chileno Alejandro Inojosa Arriagada, responsável pela unidade.

As pesquisas que permitem o desenvolvimento de novos tipos de fruta em laboratório são a face mais recente da evolução tecnológica do campo brasileiro. A 2 300 quilômetros de Petrolina, em Três Lagoas (MS), a Expedição VEJA conheceu a Eldorado, a maior fábrica de celulose do planeta, e uma unidade da Fibria, outro gigante do setor. As indústrias se instalaram na cidade há menos de cinco anos. As florestas de eucalipto que abastecem as fábricas se espalham pela região e exibem árvores com altura e folhagem idênticas a distância. O conjunto não forma a paisagem mais interessante do mundo, mas a técnica utilizada proporciona ganhos maiores aos produtores: as pragas são controladas, e os pesquisadores preveem com segurança as etapas do ciclo de produção. Não é preciso ajustar as máquinas constantemente, já que os troncos das árvores possuem espessura igual. “Nossas plantações têm baixa mortalidade e alta produtividade porque são homogêneas”, diz Miguel Cadini, coordenador de silvicultura da Fibria. As pesquisas que permitiram a criação de espécies próprias de eucalipto, mais adaptadas ao clima e ao solo brasileiros, começaram ainda na década de 70. A iniciativa foi da Aracruz Celulose, hoje incorporada à Fibria. Os eucaliptos plantados no Brasil estão prontos para a derrubada em até sete anos, um tempo menor do que a média internacional. Além disso, a tecnologia torna possível um aproveitamento maior do espaço plantado. O uso da clonagem fez a produtividade dobrar. E os testes para a produção de mudas mais resistentes continuam.

Enquanto isso, os vizinhos matogrossenses contam os ganhos de mais uma colheita recorde. Na safra 2012/ 2013, a produtividade da soja nacional ficou em 2,94 toneladas por hectare, 10% acima da dos Estados Unidos, o principal concorrente do Brasil. Em Mato Grosso, o resultado foi de 3,35 toneladas por hectare. A região de Sorriso (MT) é a que mais contribui para esse número. Nos últimos anos, a agricultura de alta precisão vem ganhando espaço em Mato Grosso. Em vez de colherem apenas amostras do solo e calcularem os fertilizantes com base em uma estimativa geral, os produtores passaram a mapear áreas inteiras das propriedades e a corrigir o solo de acordo com a gradação de cada pequeno pedaço de terra. Isso permite o uso de máquinas de alta precisão, com GPS, para fertilizar o solo e plantar. Os tratores operam praticamente sozinhos. O incentivo às inovações é uma das explicações para o sucesso de Sorriso e se deu graças à iniciativa privada. O Estado veio a reboque, como quase sempre acontece no Brasil que dá certo.

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