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Coronavírus: número de mortes no Brasil está acima do esperado

Nesta sexta-feira o país superou a marca de 1.000 mortos, após apenas 25 dias da confirmação do primeiro óbito

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 abr 2020, 21h10 - Publicado em 10 abr 2020, 20h44

De acordo com dados do Ministério da Saúde o Brasil registra nesta sexta-feira, 10, 1.056 mortes em decorrência do novo coronavírus e 19.638 casos confirmados. São 1.781 novos diagnósticos confirmados e 115 mortes registradas nas últimas 24 horas. O marco de 1.000 óbitos foi atingido no país apenas 25 dias após a confirmarão da primeira morte. A Itália, país com o maior número de mortos pela epidemia, demorou 21 dias para atingir essa marca.

De acordo com o epidemiologista e infectologista e mestre em saúde pública Bruno Scarpellini, o número de mortos está acima do esperado para a curva de infecção no Brasil. “O número de mortes está acima do esperado para este momento. Os números de hoje refletem o que foi feito nas últimas duas a quatro semanas, período em que o isolamento social foi mais intenso no país. Portanto, a expectativa era que a quantidade de mortos fosse menor com todas essas medidas. Esse aumento mostra que o isolamento que fizemos não foi suficiente.”, explica. Desde o final de março, diversos estados adotaram modelos de distanciamento social, incluindo suspensão de aulas, adoção de home office por empresas, fechamento do comércio, entre outros.

Caso esteja se perguntando, isso não quer dizer que o isolamento não funciona. Pelo contrário. Significa que o isolamento praticado não foi forte o suficiente. “Muitas pessoas alegam que não há prova científica que o isolamento funciona. Mas todos os países que optaram por não fazer um isolamento social rígido acabaram com um número alto de casos. Esses números no Brasil mostram que o isolamento que fizemos até agora não foi suficiente. Talvez tenhamos que intensificar ainda mais para que não evolua tanto a ponto de termos que fazer um lockdown.”, diz o epidemiologista e infectologista.

O lockdown nada mais é que a quarentena. Engana-se quem acha que o Brasil está em uma quarentena. Por aqui, a estratégia adotada até o momento é a de distanciamento social horizontal. Quarentena é o que foi aplicado em Wuhan, na China e o que está acontecendo na Itália e na Espanha. “No lockdown, a quarentena é forçada. Existem leis que permitem as autoridades mandarem as pessoas voltarem para casa se estiverem na rua sem motivo. É bem mais intenso do que o isolamento horizontal que estamos vivendo, quando há a recomendação das pessoas ficarem em casa”, explica Scarpellini.

Na Itália, por exemplo, as pessoas só podem sair de casa para ir ao supermercado ou à farmácia. Além disso, há limitação de quantas pessoas por família podem ir a esses lugares ao mesmo tempo e está proibido ir para outra cidade. Um cenário bem diferente do enfrentado aqui.

Na última semana, a taxa de distanciamento social tem caído no país. Dados de São Paulo mostram que houve uma redução de 13% no isolamento social na última semana. Com o afrouxamento do distanciamento social, Scarpellini alerta para um aumento no número de casos e mortes nas próximas semanas. “O afrouxamento do isolamento social agora pode refletir em um aumento ainda maior no número de mortes registradas daqui a duas ou quatro semanas, que o período necessário para ver as consequências das medidas de isolamento”, diz.

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Poder de transmissão do vírus

Um estudo recente mostrou que o poder de transmissão do novo coronavírus é maior que o esperado. Acreditava-se que cada pessoa infectada transmitia o vírus para duas a três pessoas. Esse novo estudo mostrou que, na verdade, é o dobro. Cada infectado contamina até seis pessoas. Diante disso, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), passou a recomendar o uso de máscara dentro de casa, mesmo para pessoas sem sintomas de coronavírus. “O objetivo é proteger não só você, mas também sua família, caso você seja um infectado assintomático.”, explica o especialista.

Um artigo publicado na terça-feira 7 na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical aponta que o pico de casos no país ocorrerá entre abril e maio. O estudo também indica que a circulação da doença, a Covid-19, se dará até meados de setembro. Neste cenário, o material aponta que “existem preocupações quanto à disponibilidade de unidades de terapia intensiva (UTI) e ventiladores mecânicos necessários para pacientes hospitalizados”.

O objetivo do distanciamento social, junto com outras medidas como o uso de máscaras, a realização de testes, a higienização das mãos e a etiqueta da tosse não é acabar com a epidemia, mas reduzir a taxa de transmissão e achatar a curva. O isolamento social compra tempo. “Tempo para termos mais ventilador mecânico, pra termos equipe de saúde para atender em sistema de rodízio a medida que alguns desses profissionais são afetados pela Covid-19 ou tem burnout. Tempo para que a ciência possa descobrir uma medicação especifica e desenvolver uma vacina. Porque até que apareça uma vacina ou algo que possa prevenir a infecção, a medida mais eficaz que a gente tem é o isolamento, infelizmente.”, diz Scarpellini.

(Veja/VEJA)

Ocupação de hospitais

Para Scarpellini, uma forma efetiva de exemplificar a gravidade da infecção no Brasil seria divulgar o estado de ocupação de leitos hospitalares em todo o país. “Ajudaria a população a entender o que está acontecendo, a gravidade da situação e a importância do isolamento social”, disse.

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Apesar do alto número de pessoas infectadas, hospitalizadas e mortos, os hospitais, na maioria das regiões, ainda não estão lotados e o sistema de saúde não está sobrecarregado. O que pode mudar em breve. “É preocupante porque se o número de mortes já está alto com os hospitais dentro da da capacidade de atendimento, como vai ficar como eles estiverem lotados? A redução da intensidade do isolamento com os hospitais cheios pode levar a um aumento muito grande no número de mortes nas próximas semanas.”, alerta Scarpellini.

Cada um faz a sua parte

A estimativa do Mapa Brasileiro da Covid-19 informa que 50% da população está de quarentena em casa, número não satisfatório para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, de acordo com especialistas. As estimativas são feitas sobre 60 milhões de telefones celulares e não contam como dados oficiais.

“Modelos matemáticos mostram que uma mudança na curva da epidemia pode ser alcançada a partir de 75% de isolamento. O futuro é preocupante. A mensagem de ficar em casa tem que ser intensificada. Estamos em um momento de reflexão individual. De pensar o que eu, como indivíduo, posso fazer para melhorar essa situação, para minimizar esse problema. Se todo mundo pensar assim e fizer sua parte, a gente pode resolver. Senão vai acontecer igual na Itália e nos Estados Unidos, que demoraram para adotar medidas de isolamento e viram os números dispararem.”, alerta o médico.

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