Pizzolato forjou documentos e fugiu do Brasil dois meses antes do mandado de prisão
Fuga do ex-diretor do Banco do Brasil começou na fronteira da Argentina e passou pela Espanha até chegar à Itália. Mensaleiro usou documentos em nome do irmão, morto há quase quatro décadas
Preso na manhã desta quarta-feira na cidade italiana de Maranello, o mensaleiro Henrique Pizzolato começou a tramar sua fuga do país em 2007, forjando documentos brasileiros e italianos em nome do irmão, Celso Pizzolato, morto em 1978 em um acidente em Foz do Iguaçu (PR). Foi naquele ano que Pizzolato tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por participar do esquema do mensalão, cujo julgamento, seis anos depois, terminou com sua condenação a doze anos e sete meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
Nesta quarta, a Polícia Federal divulgou detalhes da operação de captura do ex-diretor do Banco do Brasil no norte da Itália. Ele está preso na cidade de Maranello, onde será interrogado pela polícia local – um adido policial brasileiro acompanhará o interrogatório. Segundo o adido italiano no Brasil Roberto Donati, a prisão foi feita a pedido da Polícia Federal – o nome dele constava do alerta vermelho da Interpol desde o ano passado.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que o governo pedirá ao Supremo a extradição do mensaleiro. Porém, como ele possui dupla cidadania, o pedido pode ser recusado pelo Judiciário italiano. Mas, ainda que a extradição não ocorra, a trama para fugir do país acarretará a Pizzolato uma lista de novos crimes para responder seja em solo brasileiro ou italiano, como falsificação de documentos e falsidade ideológica.
Falsificações – De acordo com a PF, os primeiros documentos começaram a ser falsificados por Pizzolato em Santa Catarina: em 2007, ele produziu RG, CPF e título de eleitor em nome do irmão morto. Com esses documentos, Pizzolato conseguiu passaportes falsos em nome de Celso tanto do Brasil – em 2008 – quanto da Itália – em 2010, no consulado do país europeu. Como teve de entregar seus passaportes verdadeiros quando foi condenado pela Justiça, foram esses documentos falsos que ele usou para deixar o Brasil no ano passado.
A fuga de Pizzolato começou no dia 11 de setembro de 2013, na pequena cidade de Dionísio Cerqueira, no oeste catarinense, onde cruzou a fronteira para Bernardo de Irigoyen, na província de Misiones, na Argentina. De lá, percorreu 1.314 quilômetros até Buenos Aires. Na capital argentina, embarcou em um voo da Aerolíneas Argentinas, no dia 12 de setembro, com destino a Barcelona, na Espanha, onde sua mulher já estava há meses. A entrada em solo italiano foi registrada no dia 14 de setembro.
Embora tenha conseguido deixar o país, o trajeto do mensaleiro foi rastreado pela polícia porque no aeroporto de Ezeiza, na Argentina, uma foto e suas impressões digitais foram registradas antes do embarque para Barcelona. Uma perícia policial feita na sequência atestou que as impressões digitais não eram compatíveis com a identidade de Celso Pizzolato.
Prisão – Pizzolato foi capturado nesta manhã no apartamento do sobrinho Fernando Grando, que mora em Maranello porque trabalha na fábrica da Ferrari. Ao ser abordado pela polícia italiana, Pizzolato apresentou os documentos falsos e tentou se passar por Celso. Porém, após os policiais encontrarem no local documentos com seu verdadeiro nome, acabou confessando a real identidade.
Além dos documentos forjados, ele tinha cerca de 15 mil euros e 2 mil dólares. Sua mulher, Andréia Eunice, e o sobrinho não foram presos, mas, segundo o adido policial italiano no Brasil, serão investigados se ajudaram na operação de fuga e esconderijo. A participação de Andréia foi crucial para que o plano de fuga desse certo: a passagem para Barcelona foi comprada por ela no dia 12 de setembro. Ela também é dona do carro, um Punto vermelho com placa de Málaga, na Espanha, supostamente utilizado pelo fugitivo para chegar à Itália.