Maior poluidora do mundo, China enfrenta pressão máxima na COP26
Apesar de projetos gigantes, como maior fazenda de captura de energia solar do mundo, mais de 60% da energia do país ainda vem da queima de carvão
Sob forte pressão internacional por ser a maior fonte mundial dos gases causadores do efeito estufa, a China será o ponto de atenção da maioria dos presentes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). A cerimônia de abertura aconteceu na manhã desta segunda-feira, 1, na cidade escocesa de Glasgow e se estende pelas próximas duas semanas.
Muitos países ainda estão longe das metas para evitar o aumento catastrófico de temperatura neste século, segundo especialistas. Mesmo assim, sem a China, por representar 28% das emissões, não há acordo climático global.
O ponto foi ressaltado na última semana pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como um alerta às vésperas do encontro internacional.
“Meu apelo à China é muito simples”, disse o português, “que alcancem zero emissões líquidas antes de 2060 e cheguem ao pico e emissões antes de 2030”.
Na quinta-feira, Pequim apresentou suas metas climáticas atualizadas. No entanto, não havia nada muito novo, e atendendo aos pedidos de Guterres e outras lideranças, o texto focou nas promessas de começar a reduzir emissões de carbono antes de 2030 e alcançar neutralidade até 2060.
O novo plano inclui as metas do país de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e elevar a geração de energia eólica e solar. Algumas das novas represas hidrelétricas seriam construídas nas porções superiores dos rios Yangtzé, Mekong e Amarelo e há projetos para novas usinas nucleares, contando com reatores marítimos de pequena escala.
No entanto, apesar das promessas chinesas, e de projetos gigantes, como a maior fazenda de energia solar do mundo, com mais de 4 milhões de painéis, o cenário é bem distinto na teoria e na prática. Atualmente, mais de 60% da energia ainda vem da queima de carvão e, apesar dos planos de redução, o país continua construindo usinas termelétricas a carvão. Só nos primeiros seis meses de 2020, construiu mais de 60% das novas instalações do mundo – infraestruturas planejadas para permanecer utilizáveis por décadas.
Internacionalmente, Pequim diz estar “em completa linha” com o Acordo de Paris, mas ainda se caracteriza como um “país em desenvolvimento” que está em processo de urbanização e industrialização, disse uma autoridade da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma. “Então o consumo de energia continuará crescendo”.
Além disso, os planos de reduzir a dependência de combustíveis fósseis se mostraram problemáticos à medida que o país passa por um período sem precedentes de blecautes, que forçaram o aumento da produção de carvão para garantir os suprimentos do inverno. Serão produzidas 220 milhões de toneladas a mais em um ano – um aumento de 6%.
Há também duros custos financeiros: a Universidade Tsinghua, em Pequim, estima que atingir zero emissões líquidas custaria 46 trilhões de dólares.
Independentemente do que Estados Unidos ou Europa fizerem, a China é essencialmente a peça principal para alcançar as metas climáticas, ressalta Yanzhong Huang, membro do Council on Foreign Relations, à rede NBC. “Não podemos permitir que a China fracasse”.
O grupo de pesquisa Climate Action Tracker calcula que, se todos os governos cumprissem às promessas do acordo de Paris, o planeta aqueceria, em média, 2,7ºC até 2100 em comparação com as temperaturas pré-industriais. Se a China seguir sua promessa de zerar emissões líquidas de CO2 até 2060, feita pelo líder Xi Jinping no ano passado, a média é reduzida a 2,4ºC.
No entanto, as promessas chinesas são “altamente insuficientes” para atingir estas metas, de acordo com a Climate Action Tracker, um banco de dados sem fins lucrativos sediado na Alemanha. As políticas de Pequim, segundo o grupo, são consistentes com um mundo de 3ºC, o que representaria mais eventos climáticos, problemas para produção de alimentos, aumento do nível do mar.