Depois de ter sido adiado por um ano em decorrência da pandemia, o Rock in Rio retornou para a Cidade do Rock em clima de reencontro. Durante os sete dias de festival, entre 2 e 11 de setembro, cerca de 700.000 pessoas passaram pelo lugar, sem máscaras, sem distanciamento, com muitos abraços e beijos. A vida, enfim, retornou ao normal. Se por um lado o Rock in Rio escalou atrações manjadas como Guns N’ Roses, Iron Maiden, Jota Quest, Capital Inicial e Ivete, que já foram testadas e possuem uma força inquestionável de atrair o público, por outro lado, inovou ao trazer nomes inéditos como Dream Theater, Maneskin e Green Day. Aparentemente uma aposta arriscada, a escalação do funk e do rap se mostrou acertada, com o histórico show dos Racionas MC’s e a presença de jovens ídolos da nova geração do funk, como L7nnon e Biel do Furduncinho (que fez uma participação no palco Mundo no show de Camila Cabello).
Confira a seguir os pontos altos e baixos da edição de 2022 do Rock in Rio
Desce:
Musical Uirapuru
Criado por Roberto Medina, com direção musical de Zé Ricardo e produção de Charles Möeller e Claudio Botelho, o tedioso musical que ocupou uma das arenas olímpicas fala sobre “amor e felicidade” e tem como pilar o slogan do festival “Por um Mundo Melhor”. O espaço acabou se tornarno o lugarzinho preferido das pessoas que queriam tirar uma soneca antes dos shows, conforme mostrou o colunista de VEJA, Valmir Moratelli.
Trânsito e confusão na hora de ir embora
No primeiro final de semana, o público que tentou ir de carro, uber ou táxi precisou ter paciência para chegar até a Cidade do Rock. A alternativa pelo transporte público falhou no primeiro final de semana, quando o público deixou praticamente ao mesmo tempo o festival, causando confusão no embarque dos ônibus. O problema foi sanado no segundo final de semana, com sistemas para organizar as filas.
Volume baixo e qualidade do som ruim
Além dos gritos de “Fora Bolsonaro”, o que mais se ouviu na plateia eram os gritos de “aumenta o som”. O volume de shows importantes como o do Iron Maiden no palco Mundo ou Living Colour, no Sunset, foram os mais gritantes. Os organizadores justificaram o problema dizendo que o comando do som fica a cargo dos técnicos dos próprios músicos.
Aperto no show de Avril Lavigne
Escalada para o palco menor, o Sunset, o show de Avril Lavigne ficou superlotado e boa parte do público não teve uma boa experiência. A qualidade do som estava sofrível e quem estava mais ao fundo – ou mesmo nas laterais do palco – não conseguiu ver nem ouvir nada. A expectativa pela apresentação era tão grande que o público migrou em massa para o lugar, esvaziando o show de Billy Idol, que aconteceu uma hora antes no palco Mundo.
Furtos, roubos com facas e falhas na segurança
De nada adiantou convocar o tal do cachorro-robô para fazer a segurança do festival. Problemas recorrentes de outras edições, como furtos de celulares ou até mesmo roubo com armas brancas ocorreram dentro do festival. Nas redes sociais, diversas pessoas relataram ter sido furtadas e assaltadas no gramado. A VEJA, a vice-presidente do evento, Roberta Medina, disse que não constava nenhum boletim de ocorrência nas polícias civil e federal sobre o assunto.
Sobe:
Manifestações políticas
Apesar da declaração da vice-presidente executiva do Rock in Rio, Roberta Medina, em entrevista a VEJA, que “política não se faz em festival”, os músicos ficaram livres para se manifestar. E não faltou artistas se posicionando politicamente, como a banda Black Pantera, os Racionais MCs, e até o Green Day, que empunhou uma bandeira brasileira com frases anti-fascismo. Na plateia, o grito que mais se ouviu foi “Fora Bolsonaro”.
Diversidade de atrações
Em 2017, em entrevista a VEJA, o criador do Rock in Rio, Roberto Medina, comentou a ausência do funk e da Anitta no festival daquele ano. “Simplesmente não nos programamos para incluir funk no Rock in Rio”, ele disse na época. Cinco anos depois, quanta diferença. A edição de 2022 contou com inúmeros artistas de funk, rap e hip-hop no festival, abandonando o velho preconceito contra os ritmos populares. Destaque para a histórica apresentação dos Racionais MCs e também da cantora Ludmilla, ambos no palco Sunset, além das atrações do espaço Favela, que contou com uma curadoria que trouxe os artistas emergentes do gênero.
Pontualidade
Outro ponto que merece todos os aplausos foi a pontualidade. Mesmo no caso do Guns N’ Roses, notório por atrasar suas apresentaçõe por horas, eles conseguiram entrar no palco rigorosamente no horário. Atrasos, como se sabe, podem acontecer, mas desta vez, a organização conseguiu manter tudo dentro da programação, mesmo quando Justin Bieber pediu para antecipar o seu show em uma hora.
Dia delas
Pela primeira vez na história do festival, o último dia de evento, no domingo, 100% das atrações dos quatro principais palcos foram femininas: Mundo, Sunset, New Dance Order e Favela. No Mundo se apresentaram Ivete Sangalo, Rita Ora, Megan Thee Stalion e Dua Lipa. O Sunset contou com Liniker, Luedji Luna, homenagem a Elza Soares, Macy Gray e Ludmila. Os estilos também foram variados, passando por pop, soul, axé e funk.
Grandes shows
“Só houve um momento como o de hoje, o de Freddie Mercury em 1985. Foi incrível, foi memorável”, disse Roberto Medina, presidente do Rock in Rio a respeito da apresentação do Coldplay, no sábado, 10. De fato, o festival entregou algumas apresentações históricas nesta edição. Além do Coldplay, vale o destaque para o divertido e enérgico show do Green Day, banda que nunca havia se apresentado no Rock In Rio. O arroz de festa Iron Maiden também fez uma excelente apresentação, com mudanças de cenário e setlist afiado, apesar do som na plateia estar baixo. A grande vitória do festival, no entanto, foi o não cancelamento da apresentação de Justin Bieber. O músico aceitou fazer no Brasil apenas o show do Rock in Rio, cancelando as outras apresentações. Depois do trauma de ter lidado com o cancelamento do show de Lady Gaga em 2017, o festival evitou mais um vexame ao garantir a presença do artista.