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Por Raquel Carneiro
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‘Vermelho, Branco e Sangue Azul’: um insosso romance gay na política

Na onda de 'Young Royals', 'Heartstopper' e outros, filme da Amazon tenta trazer o romance homoafetivo para o topo do poder global, mas acaba no vazio

Por Thiago Gelli Atualizado em 11 ago 2023, 17h26 - Publicado em 11 ago 2023, 16h56

A fantasia é a última tendência no universo de romances homoafetivos do cinema e da televisão — longe de dragões e castelos, porém, a imaginação repousa em pensar realidades paralelas, idílicas e pasteurizadas, onde o amor e o erotismo entre dois homens habita os mesmos espaços dominantes da sociedade heterossexual sem ressalvas. Depois de Heartstopper, que imagina uma experiência de ensino médio com pouca homofobia, e Young Royals, série sueca em que um príncipe adolescente se entrelaça com um plebeu, chega Vermelho, Branco e Sangue Azul, filme original da plataforma Amazon Prime Video que se ancora na paixão gradual entre Alex (Taylor Zakhar Perez) e Henry (Nicholas Galitzine) — que são ninguém menos do que o filho da presidente americana e o herdeiro da coroa britânica, respectivamente.

A narrativa é derivada do livro homônimo escrito por Casey McQuiston, autora de sucesso entre internautas adolescentes aficionados pela leitura, do mesmo filão de Taylor Jenkins Reid e Jenny Han. A obra do subgênero “young adult” — dedicado a enredos infantojuvenis com a liberdade de temas sexuais leves — acompanha o par protagonista a partir de sua rivalidade de egos. Se bicando pela diferença de altura e antipatia mútua, eles acabam arruinando o enorme bolo de um casamento real, e assim iniciam um vexame midiático que devem enfrentar juntos. Unidos pelo infortúnio, eles acabam se conhecendo intimamente, e assim vão de rivais a amigos e, então, namorados — como dita qualquer boa e velha comédia romântica jovem.

Ao longo dos 112 minutos, o filme do estreante Matthew López implora de joelhos ao espectador que considere tudo uma mera piada, algo estúpido, bobo e inócuo demais para não ser entretenimento — mas, logo, pedras do tamanho das maiores potências ocidentais surgem dentro de seu sapato. Preso entre ser uma fantasia levemente erótica liderada por atores tão bonitos quanto insossos e ser uma pretensa obra importante e politicamente representativa, o longa acaba em demonstrações superficiais de virtuosidade (afirmações genéricas sobre poder feminino e menções deslocadas a autores e figuras como Shirley Chisholm), mas logo redobra o patriotismo de ambas as nações. 

Nessa urgência de dizer a coisa certa sem dizer algo espinhoso, os próprios personagens se tornam finos como papel. Alex e Henry não só carecem de química romântica, como recitam seus monólogos sentimentais feito quem apresenta um trabalho escolar. Sem aderir a “estereótipos”, os protagonistas nunca parecem ser algo além dos atores convencionais que os interpretam: se vestem como manequins e escutam enquanto coadjuvantes acessórios de um texto forçoso declaram seus gostos e personalidades sem qualquer esforço de demonstrá-los, abrindo margem para falas dolorosas como “tão gay quanto as primeiras 50 fileiras de um show de Lady Gaga”. 

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Uma Thurman interpreta a primeira presidente mulher dos Estados Unidos em 'Vermelho, Branco e Sangue Azul'
Uma Thurman interpreta a primeira presidente mulher dos Estados Unidos em ‘Vermelho, Branco e Sangue Azul’ (Amazon Prime Video/Divulgação)

Sob tal esvaziamento de símbolos, o resultado é uma mise-en-scène desértica, que apenas ressalta a pobreza de apuro visual. Neste romance político, reinam paredes de papelão e jardins medíocres que pouco tentam replicar a Casa Branca ou o Palácio de Buckingham. Nada sobre Vermelho, Branco e Sangue Azul parece pensado, e tudo perde o sentido. No meio do vazio, Uma Thurman — com o sotaque sulista mais forte de sua carreira desde Até as Vaqueiras Ficam Tristes — e o ícone Stephen Fry reluzem como os únicos capazes de trazer autenticidade e humor ao roteiro, mas não é suficiente. Assim que um sorriso é provocado por algum absurdo em tela, sejam os comentários de Thurman sobre infecções sexualmente transmissíveis ou o jeito como Fry enuncia a palavra “homossexual”, um monólogo autoindulgente e simplório sobre a suposta coragem e urgência do texto enche a paciência.  

O tapete também é puxado na hora do erotismo, sempre acompanhado de cortes secos ou pieguice ao extremo. Para um filme sobre estadistas apaixonados, Vermelho, Branco e Sangue Azul muito carece em ousadia ou tato para o mundo que reinterpreta. Quem busca uma comédia romântica despretensiosa fica melhor com O Diário da Princesa 2 ou até mesmo Heartstopper; quem quer sensualidade pode a encontrar nos trabalhos de Gregg Araki ou James Ivory; e quem quer um filme “importante” e político pode se esbanjar no cânone do chamado “Novo Cinema Queer”. Sobra Vermelho, Branco e Sangue Azul a quem interessar o charme de telefilmes baratos. 

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