O que se trama no país do “você sabe com quem está falando?”
Vacinas para quem mais precisa delas!v
Tem algo errado ou esquisito no projeto de lei aprovado pela Câmara que facilita a compra de vacinas pelo setor privado, permitindo que empresários adquiram imunizantes para sua família e funcionários fora do âmbito do Programa Nacional de Imunizações do governo. O projeto será votado pelo Senado.
Se o governo diz que não há vacinas no mundo porque a procura por elas é grande e a produção pequena, se os fabricantes repetem que só as vendem para governos, como a compra por particulares será possível? Ou o Congresso finge apenas render-se a pressões de empresários, ou tem coisa mal contada aí.
Com o atraso dos insumos que chegariam da China nesta semana, por exemplo, o Instituto Butantan parou de produzir a CoronaVac, vacina chinesa. A última vez que o processo de produção da CoronaVac foi interrompido aconteceu em 17 de janeiro, no início da vacinação no Brasil, e exatamente por falta de insumos.
O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), desembargador I’talo Fioravanti Sabo Mendes, derrubou as liminares que autorizam dez entidades privadas a importarem vacinas contra a covid-19 sem a obrigação de repassá-las ao Sistema Único de Saúde, como determina a lei.
“Subverter o critério indicado no Plano Nacional de Operacionalização contra a Covid, permitindo que um segmento da sociedade se imunize antes das pessoas que integram os grupos mais vulneráveis, representa um privilégio que desconsidera a equidade e a universalidade”, diz a Advocacia Geral da União.
Entre março de 2020 e fevereiro deste ano, a Câmara registrou 531 casos de Covid-19 de servidores efetivos e comissionados, segundo dados obtidos pelo jornal Folha de S. Paulo com base na Lei de Acesso à Informação. Desses, 21 resultaram em óbitos, três deles no Distrito Federal e os demais nos Estados.
Uma vez que empresários possam adquirir vacinas não se sabe onde e por que meios, a Câmara se sentiria autorizada a fazê-lo também? E o Senado? Por que não? E os tribunais superiores de justiça? E corporações como as dos policiais civis e militares? Derrubada a porteira, por ali passaria tudo e muito mais.
Só não passariam os que carecem de apadrinhamento no país do “você sabe com quem está falando?”.
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