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Pai de Bernardo diz que madrasta odiava o menino e o chamava de ‘semente do mal’

Em depoimento à Polícia Civil, médico Leandro Boldrini admitiu relacionamento ruim em casa e disse que usava o mesmo sedativo encontrado no corpo

Por Da Redação
7 Maio 2014, 21h36

O médico Leandro Boldrini, preso por suspeita de envolvimento no assassinato do filho Bernardo, de 11 anos, admitiu à Polícia Civil gaúcha que a madrasta odiava o menino e dizia que o enteado era “uma semente do mal”. Depois de ser presa, a enfermeira Graciele Ugulini, com quem Leandro passou a viver após a morte da mãe de Bernardo, confessou aos investigadores ter dopado o menino com sedativos que podem ser a principal causa da morte. Ela alega que “foi um acidente”, embora a polícia sustente que Graciele planejou matá-lo.

Leandro Boldrini, que sustenta ser inocente, depôs à polícia no dia 16 de abril. Ele disse que não sabia que Graciele, chamada pelo apelido de Keli ao longo da oitiva, havia tentado asfixiar o garoto antes. Trechos do interrogatório foram publicados nesta quarta-feira pelo jornal Zero Hora.

A polícia registrou as palavras do médico: “Perguntado qual a motivação da Keli [Graciele] em ter cometido o crime contra Bernardo, o interrogado diz que ela tinha ódio do ‘guri’, e esclareceu que esse ódio se manifestava nos (sic) ‘arranca’ [brigas] que dava entre os dois, eis que o Bernardo não aceitava ‘não’. Que Keli, enquanto estava sozinha com o interrogado, se referia ao Bernardo dizendo que ‘ele era uma semente do mal’, ‘que ele não tinha puxado em nada pelo interrogado, tudo por aquela louca da mãe dele que tinha se matado’ [referência ao suicídio de Odilaine Uglione, mãe do menino, em 2010]. Que perguntado se tinha conhecimento que Keli tentou asfixiar o Bernardo com o travesseiro, o interrogado diz que não tinha conhecimento deste fato: ‘nunca o Bernardo me contou’.

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Leandro Boldrini também admitiu à polícia que usava o medicamento midazolam em procedimentos médicos realizados em consultório na cidade de Três Passos (RS). Um laudo concluído na semana passada atestou a presença da mesma substância no organismo do menino. O midazolam, uma espécie de tranquilizante indutor do sono, foi encontrado em exame laboratorial em tecidos do cadáver de Bernardo. O Instituto Geral de Perícias (IGP) ainda tenta provar se a madrasta chegou a aplicar uma injeção letal no garoto depois de dopá-lo. O fato foi relatado pela assistente social Edelvânia Wirganovicz, a amiga de Graciele que confessou ter auxiliado a madrasta a esconder o corpo. Os peritos não indicaram se o medicamento foi retirado do consultório de Boldrini, nem se o medicamento foi ministrado por via oral ou injetado.

O pai de Bernardo também disse que estava no trabalho no dia da morte do filho, no dia 4 de abril. Ele afirma que permaneceu no hospital até a noite. Boldrini repetiu a versão de que o menino teria ido dormir na casa de um amigo e que não estranhou o fato de garoto não ter atendido a um telefonema seu. Ele tentou contato telefônico com o filho nos dias seguintes. O Judiciário sustenta, porém, que o pai respondeu, no domingo dia 6 de abril, a pessoas que telefonaram para o celular de Bernardo. A Justiça suspeita, portanto, que as ligações do pai para o filho tenham sido forjadas. As circunstâncias dos telefonemas são tratadas como indícios de que o pai acobertou o crime.

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Na sala de endoscopia, por volta das 10h, a Keli disse ao interrogado ‘eu vou dar um pulo em Frederico para comprar uma televisão, em duas horas vou lá e volto’. Disse que o ‘guri’ (sic) tava muito contente, ‘comeu e repetiu a comida’. Esse fato chamou a atenção do interrogado, que acreditou que as coisas estavam engrenando, (sic) tavam dando certo. Que ficou no hospital até por volta das 20h. Perguntou pelo Bernardo e Keli contou que estava dando banho na Maria [Valentina, filha mais nova do casal], quando ouviu barulho nas escadas e perguntou ‘é você Bernardo?’ e ele respondeu ‘sim, (sic) tô indo no Lucas’. Keli então disse ‘mas teu pai disse que não era para sair’ e Bernardo disse ‘o pai sabe que eu posso sair final de semana’. Que na sexta-feira do dia 4 ligou uma vez para o telefone celular do Bernardo, ocasião em que caiu direto na caixa de mensagem. Que ligava para Bernardo para saber onde ele estava e não se preocupou com o fato de Bernardo não ter atendido o telefone.

Sábado de manhã [dia 5 de abril] foi para o hospital e Keli o acompanhou. Diz que não ligou para Bernardo de manhã e pelo que lembra, no início da noite de sábado, ligou para o telefone celular do Bernardo, dando da mesma forma na caixa postal. Que ligou para o Bernardo porque era costume o Bernardo ligar para o interrogado, e como ele não tinha ligado, o interrogado pensou ‘deve estar com o telefone desligado lá no amiguinho’. Que sábado à tarde ficou em casa e tudo transcorreu normalmente. E sábado à noite foram para Três de Maio.

[No domingo] por volta das 16h, passou a ligar para o celular do Bernardo, e continuava direto na caixa postal. (sic) Se propôs a esperar até as 19h e caso Bernardo não aparecesse, iria buscá-lo e ficou esperando, [já que] ele sempre chega. Perguntado pela autoridade policial acerca das ligações efetuadas pelo interrogado para o celular do Bernardo no período de 4 de abril a 6 de abril, respondeu que foram feitas por iniciativa do interrogado e em nenhum momento Keli pediu. (…) Que após procurar o Bernardo como já relatado em seus depoimentos anteriores, foi de livre vontade, como obrigação de pai, registrar o Boletim de Ocorrência. Que desde o dia 4 de abril até a prisão não notou nenhuma alteração no comportamento da Keli. Salienta que ela ajudou a procurar o Bernardo pela cidade, pelos matos, em Tenente Portela, por tudo. Que em casa os assuntos cogitados eram de possível sequestro, sumiço por conta própria e homicídio, sendo que essa possibilidade o interrogado imaginava como muito pequena.

Leandro Boldrini comunicou à polícia sobre o desaparecimento de Bernardo no domingo, dia 6 de abril – quando ele já estava morto havia dois dias. Os investigadores passaram a fazer buscas na região, mas só encontraram o corpo no dia 14 de abril, quando a amiga da madrasta indicou a localização, uma cova improvisada em um terreno de Frederico Westphalen. O médico soube da morte do filho, ao menos oficialmente, na Delegacia Regional de Três Passos. A polícia anotou que ele não reagiu emocionalmente. Boldrini relatou que Graciele, também detida na delegacia, chegou a confirmar o que teria ocorrido com o menino Bernardo. Ele sugeriu, no depoimento, que o assassinato poderia ter sido evitado se o casal tivesse se separado por causa dos problemas de convivência entre o filho e a madrasta.

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