Pai e madrasta de Bernardo perdem guarda da filha
Justiça determinou que a criança fique provisoriamente com Simone Ugulini, irmã de Graciele
Atualizado às 22h08
O juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Três Passos, no Rio Grande do Sul, retirou de Leandro Boldrini e Graciele Ugulini a guarda da filha de um ano e cinco meses do casal. Eles são acusados da morte de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, filho do primeiro casamento de Leandro. A guarda provisória da criança foi concedida neste sábado a Simone Ugulini, irmã de Graciele, com quem a bebê já estava morando. A decisão tem caráter liminar e foi emitida pela Comarca de Santo Augusto, onde vive Simone.
De acordo com a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, a perda da guarda da filha caçula do casal está fundamentada em dois argumentos: “O primeiro é que os pais da menina são suspeitos do assassinato de seu irmão, Bernardo. Caso isso seja confirmado e o MP venha a denunciá-los, ainda que obtenham liberdade durante o processo, não é seguro para a criança permanecer com eles”, explica. “O segundo é que precisamos aferir se os avós da menina apoiam os possíveis atos praticados por Leandro e Graciele, pois, caso isso seja evidenciado, também não estariam aptos a ficar com a neta e transmitir a ela valores de dignidade e fraternidade humana”.
Herança – Nesta sexta-feira, o Ministério Público ingressou com uma Ação Cautelar pedindo a indisponibilidade de todos os bens móveis e imóveis de Boldrini. A iniciativa foi tomada por Dinamárcia, mesma promotora que recebeu Bernardo quando ele procurou sozinho a Justiça pedindo para ser adotado por outra família, já que seu pai não lhe dava atenção e sua madrasta o maltratava.
Leandro é o herdeiro legítimo do filho morto e, por consequência, da herança deixada pela mãe do garoto, Odilaine Uglione, morta em 2010 num caso de aparente suicídio. Dinamárcia argumenta que, com a medida, ela pretende evitar que Boldrini use parte dos bens que seriam de Bernardo para, por exemplo, custear a própria defesa. Caso se prove sua culpa na morte do filho, ele perde o direito à herança, que dividiria com o filho, conforme mostrou reportagem de VEJA. Leia também: Pai de Bernardo precisaria dividir herança com ele Laudo descarta que Bernardo tenha sido enterrado vivo
Policiais que prenderam pai de Bernardo prestam depoimento
Relembre o caso – Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, desapareceu em 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos. De acordo com Leandro, de 38 anos, o menino teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, de 32, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade e pelos municípios vizinhos de Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens de um rio. Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o pai do menino, a madrasta e a assistente social Edelvânia Wirganovicz, que confessou ter participado do crime e colaborou com a identificação do corpo.
Um laudo pericial divulgado nesta sexta-feira não apontou sinais de terra na traqueia nem nos pulmões de Bernardo, o que afastou a possibilidade de ele ter sido enterrado vivo. Investigadores chegaram a cogitar a hipótese depois que Edelvânia revelou que a madrasta de Bernardo não checou sua pulsação antes de enterrá-lo. Graciele está isolada das demais presas em uma cela de 12 metros quadrados. Antes mesmo de saber da decisão de conceder a guarda provisória a Simone, o advogado de Graciele, Vanderlei Pompeo de Mattos, contou que ela se alegrou ao ser informada de que a filha estava morando com a irmã em Santo Augusto, dado que o lugar fica “pertinho” dali e que ela poderá visitar a criança “quando sair da cadeia”.