O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, isolou-se em Mar-a-Lago, seu resort privado de golfe na Flórida, assim que deixou a Casa Branca no fim de janeiro. Durante as últimas semanas, foi visto praticando o esporte todos os dias. O cenário mudou na terça-feira 9, primeiro dia de seu segundo julgamento de impeachment no Senado, quando o republicano deixou os campos para assistir a cobertura televisiva do processo – e, segundo pessoas próximas a ele, não gostou do que viu.
Segundo o jornal americano The New York Times, Trump ficou ‘furioso’ com a defesa monótona de quase uma hora feita por seu advogado Bruce Castor. Uma pessoa familiarizada com a reação do ex-presidente disse que, em uma escala de um a 10, com 10 sendo o mais furioso, ele “foi um oito”.
Seu outro advogado, David Schoen, fez uma defesa com mais cor, mas Trump, que já tem o hábito de ficar pendurado na TV mesmo quando não está sendo processado, terminou o dia “irado” mesmo assim.
Seria de se esperar que ele estivesse acostumado, sendo que não é a primeira vez que seu mandato está sob escrutínio do Congresso. A grande diferença é que agora o ex-presidente foi privado da sua ferramenta favorita – e mais eficaz – de defesa: o Twitter. Em janeiro passado, chegou a postar 142 tuítes em um único dia enquanto os promotores expunham o caso de seu primeiro processo de afastamento, do qual foi absolvido.
Sua conta na plataforma foi suspensa “devido ao risco de mais incitação à violência”, em referência ao seu papel no incentivo à invasão do Capitólio. O mesmo ocorreu no Facebook e YouTube, deixando-o sem megafone virtual.
Com todo papel de argumentação sobre os ombros de seus advogados, Trump ficou “cada vez mais frustrado” com o contraste entre a abertura maçante de sua defesa e um vídeo mostrado pelos deputados democratas responsáveis pela acusação, segundo o portal de notícias Politico. O ex-presidente também não gostou nada que sua equipe jurídica pareceu admitir que Joe Biden havia vencido a eleição.
O republicano enfrenta uma acusação de “incitamento à insurreição” por seu suposto papel no ataque ao Congresso no dia 6 de janeiro, realizado majoritariamente por seus apoiadores. O incidente provocou cinco mortes, inclusive de um policial, durante um cerco de mais de uma hora ao Capitólio.
De acordo com o conservador jornal local Washington Examiner, Trump parecia estar enfrentando seu segundo impeachment com calma, jogando golfe, preocupado com a sua empresa, Trump Organization, e assistindo ao Super Bowl da NFL.
Sua estadia em Mar-a-Lago, contudo, está sob ameaça, porque o conselho municipal de Palm Beach discute se ele pode usar o resort como residência em tempo integral, frente a reclamações dos vizinhos. Caso o conselho decida contra Trump, ele precisará encontrar uma nova casa – de preferência não em Nova York, sua cidade natal, onde não é mais bem-vindo.
De qualquer forma, mesmo enfurecido com a defesa e sob o risco de ficar sem-teto, o ex-presidente provavelmente não será condenado no julgamento. Ao menos 17 republicanos precisariam pular a cerca para votar junto aos 50 democratas do Senado, satisfazendo a necessidade da maioria de dois terços.
Se a decisão de terça-feira de que o julgamento é constitucional serve de exemplo, em que apenas seis senadores do Partido Republicano apoiaram a promotoria, Trump estará seguro – por mais que se enfureça.