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Prestes a retornar aos negócios, Trump vê risco de colapso financeiro

Ataque ao Capitólio por apoiadores do presidente aumentou a pressão sobre a Trump Organization, após um ano de crise devido à pandemia de coronavírus

Por Amanda Péchy 20 jan 2021, 08h00

Apesar das inúmeras tentativas de Donald Trump de permanecer na Presidência dos Estados Unidos após perder as eleições, sua saída da Casa Branca está definida para esta quarta-feira, 20.

Uma aposentadoria tranquila parece improvável: em meio a um processo de impeachment que pode impedi-lo de concorrer novamente em 2024, ele deve enfrentar uma série de processos civis. É certo que ele voltará a ter participação ativa na sua empresa Trump Organization. Contudo, nem mesmo a familiaridade dos negócios vai evitar a instabilidade pós-Salão Oval.

O ataque ao Capitólio, em Washington, D.C., por apoiadores do presidente na semana passada aumentou a pressão sobre a Trump Organization, após um ano de profunda crise devido à pandemia de coronavírus. Em um intervalo de apenas quatro dias, a empresa perdeu sua loja online, a publicidade gratuita dos tuítes do presidente, um dos torneios de golfe mais prestigiados do mundo e foi exilada da borbulhante cidade de Nova York. Para diversas instituições, foi a gota d’água em um relacionamento já deteriorado.

O Deutsche Bank, principal credor do republicano, já procurava justificativas para encerrar seu relacionamento com Trump desde que ele começou a contestar o resultado eleitoral. As alegações infundadas de fraude eleitoral geraram publicidade negativa ao banco, e a invasão ao Congresso foi a deixa perfeita para cortar relações.

O presidente é acusado pela oposição, pela mídia e, agora, por um processo de impeachment em andamento no Senado, de incitar a multidão a impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden pelo legislativo no dia 6 de janeiro. O incidente levou a um cerco no Capitólio e cinco mortes, incluindo um policial. 

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“Temos orgulho de nossa Constituição e apoiamos aqueles que buscam defendê-la para garantir que a vontade do povo seja mantida e uma transição pacífica de poder ocorra”, escreveu Christiana Riley, chefe das operações do banco nos Estados Unidos, em uma publicação no LinkedIn.

A Trump Organization deve ao Deutsche cerca de 340 milhões de dólares em empréstimos, com vencimento em 2023 e 2024. A empresa será forçada a refinanciar a dívida ou quitá-la, possivelmente através da venda de ativos.

Outros bancos, como o Signature Bank, de Nova York, e o Professional Bank, da Flórida, anunciaram que vão fechar as contas de Trump. O Signature, onde Trump mantinha 5,3 milhões de dólares, inclusive pediu a renúncia do mandatário: “Nós testemunhamos o presidente dos Estados Unidos encorajando os desordeiros e abstendo-se de chamar a Guarda Nacional para proteger o Congresso no cumprimento de seu dever”, comunicou.

A cidade de Nova York, na verdade, está em um processo de apagamento da imagem de Trump. Seu nome já foi retirado de propriedades privadas, incluindo o hotel Trump SoHo – agora Dominick – e alguns antigos condomínios em Manhattan. Agora, a cidade anunciou que encerrará todos os seus contratos com a Trump Organization.

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A medida afetará dois rinques de patinação no gelo e um carrossel no Central Park (queridinhos do filho mais velho do presidente, Eric) e um campo de golfe no Bronx, eliminando cerca de 17 milhões de dólares em lucros para a empresa por ano.

O prefeito Bill de Blasio já buscava uma saída para a relação conflituosa com a família Trump, mas como a violência em Washington pode qualificar-se como atividade criminosa, a cidade tem direito de romper laços com a empresa.

“Incitar uma insurreição contra o governo dos Estados Unidos claramente constitui atividade criminosa e ele desonrou a cidade com suas ações”, disse de Blasio. “Nova York não terá mais nada a ver com a Trump Organization”, completou.

Também fora de Nova York um número crescente de empresas e instituições tomaram medidas contra o líder americano e seus associados desde a invasão. A plataforma de pagamento online Stripe disse que deixou de processar pagamentos para o site da campanha de Trump, enquanto o Shopify, fornecedor de sites de e-commerce, fechou duas lojas online ligadas a empresas do presidente.

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Os gigantes da tecnologia Google, Facebook e Microsoft suspenderam gastos políticos e vão reavaliar suas doações. O anúncio do Facebook veio quatro dias depois de banir o presidente da plataforma pelo menos até o final de seu mandato (Twitter, YouTube, Twitch, Reddit e Snapchat também limitaram ou suspenderam as contas digitais do republicano). Do dia para a noite, o republicano perdeu a publicidade gratuita de suas contas presidenciais com milhões de seguidores.

Um dos campos de golfe de Trump em Nova Jersey também sofreu sanções: a Associação de Jogadores de Golfe dos Estados Unidos rescindiu um acordo para realizar em 2022 um dos mais prestigiados campeonatos da modalidade em sua propriedade. O presidente da associação, Jim Richerson, disse que tornou-se claro que usar o campo de Trump “seria prejudicial para a marca”.

Eric Trump, atualmente no controle da Trump Organization junto ao seu irmão mais novo, Donald Jr., disse que os duros golpes não são ameaça aos vastos ativos imobiliários do grupo. “Vivemos na era da cultura do cancelamento. Se não gostam de você, eles tentam cancelar você”, afirmou em entrevista à agência Associated Press.

Contudo, os boicotes ocorrem após um ano já muito duro para as empresas do republicano, já que a maioria das receitas dos negócios da família vem de viagens e lazer – uma das áreas mais afetadas pela pandemia.

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O jornal americano The Wall Street Journal relatou em abril que o coronavírus estava causando perdas de mais de um milhão de dólares por dia à Trump Organization. A empresa teve um prejuízo de 4,6 milhões de dólares nos dois resorts de golfe do presidente na Escócia, totalizando perdas de 75 milhões de dólares em oito anos. Os registros federais mais recentes mostram que as receitas de 2018 da empresa guarda-chuva foram lentas, com queda na receita de propriedades exclusivas, como a queridinha Mar-a-Lago, na Flórida.

A família já está tentando arrecadar pelo menos 500 milhões de dólares com a venda de seu hotel de Washington, e pretende fazer um pé de meia com a venda de sua participação de 30% em duas torres de escritórios em Nova York e São Francisco.

Contudo, antes da pandemia o hotel só recebeu ofertas em torno de 350 milhões de dólares (ainda assim seria o mais caro de Washington por quartos) e o grupo só consegui refinanciar os escritórios. E agora, durante a crise econômica gerada pelo coronavírus, as operações estão em pausa.

Pessoas envolvidas com a Trump Organization acreditavam que a polarização em torno da figura de Trump se suavizaria depois que ele deixasse a Presidência, reporta o Wall Street Journal. A “insurreição” de Washington a 14 dias do fim de seu mandato torna isso menos provável.

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Não seria a primeira vez que a empresa dos Trump passa por apuros. Nas mãos do atual presidente americano desde os anos 1970, a empresa conseguiu manter o sucesso conquistado pelo pai do republicano, Fred Trump, por mais 15 anos. Depois disso, o dinheiro foi por água abaixo: Donald Trump perdeu 1,17 bilhão entre 1985 e 1994.

Os investimentos em cassinos e outros empreendimentos comerciais foram fracassos. Seu único sucesso duradouro foi comprar ações de uma imobiliária chamada Vornado, administrada de forma totalmente independente, sem responder aos pitacos dados por Trump. O império mantinha-se à tona apenas com a herança de 413 milhões de dólares deixada por Fred após sua morte em 1999 – e seu talento para convencer bancos a refinanciar seus empréstimos.

Nesse meio tempo, Donald Trump construiu para si mesmo uma marca de “magnata”. Em 2003, começou a trabalhar como produtor do reality O Aprendiz, e ele passou a vender seu nome para outras empresas que queriam usá-lo para projetar uma imagem de luxo. Dois anos depois, ele ganhou mais de 80 milhões de dólares com o reality, dividendos da Vornado e propaganda.

Foi uma sorte inesperada. Pode ser que a Trump Organization ainda se beneficie com o apoio de seus leais apoiadores – nas semanas após a eleição, a campanha de Trump e o Comitê Nacional Republicano arrecadaram mais de 200 milhões de dólares. Mas o golpe de sorte precisará ser avantajado diante da gravidade de suas ações.

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