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Eleições na Rússia: Por que Putin é tão popular?

Progresso econômico, controle da imprensa e populismo patriótico garantem estabilidade longevidade de Putin no poder

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h25 - Publicado em 16 mar 2018, 09h29

As pesquisas de opinião mais recentes mostram que o atual presidente Vladimir Putin deve conquistar entre 65 e 70% dos votos nas eleições da Rússia no próximo domingo. Em junho de 2017, uma pesquisa do think tank americano Pew Research Center indicou que 87% da população confiava em Putin como líder.

A popularidade do presidente seria inimaginável em qualquer uma das grandes nações ocidentais, principalmente para alguém que está há 18 anos no poder. Ainda que existam diversas acusações de fraude contra os centros de pesquisa controlados pelo governo, a maioria dos especialistas acredita que sua aprovação no país seja, de fato, arrebatadora. Mas por quê?

Putin assumiu o governo pela primeira vez como primeiro-ministro em 1999 e, logo em seguida, em 2000, foi eleito presidente. Sua ascensão aconteceu em um momento muito específico da história russa, o fim da desastrosa década de 1990.

(Christian Hartmann/Reuters)

Seu antecessor, Boris Iéltsin, assumiu a Presidência com grandes promessas de modernização e crescimento após a queda da União Soviética em 1991. Sua era, contudo, foi de grande decepção e dificuldades para os cidadãos da maior nação do planeta — com colapso econômico, inflação altíssima, queda na expectativa de vida, desastre na saúde pública, alta criminalidade e surgimento de oligarquias. Já era de se esperar que a transição do comunismo para uma economia capitalista não seria simples, mas as expectativas da população eram muito altas.

E então veio a era Putin. O presidente nacionalizou as grandes companhias de petróleo que haviam sido privatizadas e reconquistou o poder das mãos dos oligarcas. Os anos que se seguiram foram de grande crescimento econômico, em larga medida por conta da valorização do preço do barril de petróleo – principal base da economia russa – no mercado mundial nos anos 2000.

O caixa do governo foi usado para investir no setor humano e pela primeira vez uma classe média começou a emergir. Com maior estabilidade econômica e política, a vida dos cidadãos melhorou consideravelmente e o presidente ganhou todos os créditos pela mudança. “Os cidadãos são totalmente gratos a Putin por tudo isso; ele passou a ser visto quase que como uma figura religiosa”, diz Mohsin Hashim, professor de ciência política e especialista em Rússia do Muhlenberg College, no estado da Pensilvânia, Estados Unidos.

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Nacionalismo

Contudo, com a crise global de 2008, a economia russa voltou a enfrentar grandes problemas, e Putin, novas cobranças. Contudo, ele tinha outra grande carta na manga quando retornou à Presidência em 2012 após fazer uma pausa e ocupar o cargo de premiê: o incentivo ao nacionalismo e ao patriotismo no país.

O presidente se aproximou mais da Igreja Ortodoxa e voltou a promover a Rússia como uma grande potência conquistadora e poderosa, assim como a antiga União Soviética. Putin emprega e fala sobre os símbolos do czarismo com frequência e trouxe o hino soviético de volta, implantando sua melodia no hino nacional.

“Ele não revive o comunismo, mas revive essa ideia da Rússia como uma grande potência”, diz Hashim. Além disso, Putin ressuscitou a rejeição aos valores ocidentais entre a população, que ainda guardava resquícios patrióticos da era soviética.

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O Kremlin usa o fracasso da era Iéltsin para incentivar a antipatia pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que segundo o governo “roubaram” alguns dos países satélites da Rússia e levaram a economia a um colapso. As sanções empregadas pelos europeus e americanos também são utilizadas para criar a imagem de um inimigo externo, que quer prejudicar os russos a todo custo.

Através do populismo, Putin tornou-se o grande protetor da nação, que revive sua grandiosidade diante de adversários ocidentais. “Isso tudo dá muito certo com a população. É calculado para ganhar mais apoio”, diz David White, do Centro de Estudos Russos, Europeus e Eurasiáticos da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

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A anexação da península ucraniana da Crimeia à Federação Russa, por exemplo, e a interferência no conflito sírio são medidas que fazem parte da agenda nacionalista e que possuem a aprovação de grande parcela da população.

Imprensa e oposição

A imagem de Putin também é impulsionada pela imprensa local, controlada pelo Estado. As fontes de informação alternativas no país são pequenas e quase não possuem espaço, e a maioria dos russos se informa por meio da televisão, que pinta um cenário perfeito em relação à liderança do presidente.

O poder dos meios de comunicação influencia diretamente as campanhas eleitorais de seus adversários, que não representam qualquer ameaça. “Os candidatos da oposição quase não têm oportunidade de passar suas mensagens”, afirma David White.

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O Kremlin também faz de tudo para assegurar a liderança do atual presidente. Candidatos considerados uma ameaça são impedidos de concorrer às eleições pelo Comitê Eleitoral Central.

“Em seu governo, Putin enfraqueceu a sociedade civil. Há relatos de agressões brutais contra indivíduos e até assassinatos de oponentes políticos”, diz o cientista político Mohsin Hashim.

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O líder opositor Alexey Navalny teve sua candidatura negada por condenações criminais passadas, mas garante que o pleito é uma farsa e que a decisão foi motivada politicamente.

Sem uma oposição forte, Putin tem o caminho livre para se reeleger. Entre os candidatos para o pleito de domingo, aquele que deve conquistar mais votos depois do atual presidente é o empresário Pavel Grudinin, do Partido Comunista, que possui apenas 8% das intenções.

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