Covid-19: Mesmo quebrado, Líbano garante milhões de doses da vacina
Em acordo com Banco Mundial, país garante doses suficientes para todos os grupos de risco – um terço da população – em meio a crise econômica
O Líbano, conhecido em seu auge como a “Suíça do Oriente”, hoje acumula crise em cima de crise.
O país é o terceiro mais endividado do planeta – 150% do PIB –, calamidade econômica exacerbada pela pandemia do novo coronavírus. Mais recentemente, uma grande explosão abalou o Porto de Beirute e destruiu parte da cidade, matando quase 200 pessoas e gerando prejuízo de até 15 bilhões de dólares.
Mesmo assim, o governo libanês anunciou na semana passada que fechou um acordo de 34 milhões de dólares com o Banco Mundial para comprar vacinas contra a Covid-19. Com o financiamento, planeja-se imunizar mais de 2 milhões de pessoas com a vacina da Pfizer/BioNTech, que deve chegar ao país no início de fevereiro.
O Líbano pagou 4 milhões de dólares diretamente para a Pfizer. Com o valor negociado a 18 dólares a dose, que leva em conta os problemas econômicos locais, o resto será pago com o empréstimo do banco. Além disso, deve receber da Organização Mundial da Saúde (OMS) seis geladeiras nas quais o agente pode ser armazenado entre 80º C e 60º C negativos, totalizando 18.
O país também inscreveu-se para receber vacinas da COVAX, aliança global financiada pela OMS e outras organizações para vacinar ao menos 20% da população de países de renda baixa. Mediante o depósito de 4,3 milhões de dólares para o programa, outras 1,5 milhão de doses entraram na roda – ou seja, 2,7 milhões de pessoas poderão ser imunizadas no país de 6 milhões de habitantes.
Também foi reportado que o Líbano está em negociação com a Rússia sobre sua vacina Sputnik V, sem muitos detalhes. O governo garantiu que a imunização seria oferecida de forma gratuita aos libaneses.
A campanha terá como alvo inicial os grupos prioritários: trabalhadores da área da saúde que trabalham diretamente com pacientes com coronavírus, população acima de 65 anos de idade, equipe epidemiológica e de vigilância e pessoas entre 55 e 64 anos com comorbidades.
“Ao priorizar esses grupos, o programa de vacinação do país tem o potencial de reduzir as consequências da pandemia, mesmo em condições de restrições de oferta”, afirma o Banco Mundial em comunicado.
Alguns hospitais privados sugeriram comprar vacinas (de forma estritamente regulamentada) às suas próprias custas para vacinar seus funcionários. Dada a desastrosa situação financeira do Líbano, tais esforços podem salvar vidas ao acelerar o processo de vacinação.
Agências das Nações Unidas, por sua vez, se responsabilizaram por vacinar a vasta população de refugiados no país, estimada em 1,5 milhão. Contudo, não está claro se pretendem cobrir todos os refugiados, quando a campanha vai começar e como evitará tensões adicionais com a população libanesa cada vez mais prejudicada e empobrecida.
Em 2019, políticas equivocadas do Banco Central resultaram em uma dívida pública de 150% do PIB. No ano passado, o governo restringiu os saques nos bancos, a libra virou pó, a inflação chegou a 50% e um empréstimo de 10 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional empacou. Prevê-se que metade dos libaneses cruzará a linha da pobreza este ano. Até a pandemia, que estava controlada em médias móveis de cerca de 1.000 casos e 13 mortes diários, agora registra recordes de contágio e óbitos.
Apesar disso, o governo garantiu doses suficientes para imunizar todo grupo de risco – cerca de um terço da população –, garantindo que as mortes cairão bruscamente. Com apenas 8,3 milhões de dólares e primoroso trabalho diplomático, o país está dando exemplo para muitos quando o assunto é vacina contra a Covid-19.
A realidade brasileira é bem diferente. Se cerca de 30% dos libaneses já tem uma vacina com seu nome, apenas 3% dos brasileiros encontram-se na mesma situação. Para o presidente Jair Bolsonaro, o país está “quebrado” e “não posso fazer nada”, mas o Líbano mostra que falta de dinheiro não é desculpa pra não avançar nas vacinas.