Um estudo publicado na revista científica Nature nesta quarta-feira, 30, mostra que o gelo da Groenlândia está derretendo mais rápido do que em qualquer momento dos últimos 12.000 anos, desde a última era do gelo. Além de afetar o ecossistema, o nível do mar deve aumentar e impactar as correntes oceânicas.
O ritmo acelerado da perda deste gelo pode, sozinho, elevar o nível do mar de 2 a 10 centímetros até o final do século, de acordo com a pesquisa. Com as emissões de gases do efeito estufa atuais, o derretimento pode se intensificar ainda mais e atingir uma taxa quatro vezes maior do que nos últimos 12 séculos.
O extenso manto de gelo diminuiu entre 10.000 e 7.000 anos atrás, voltando a se acumular lentamente nos últimos 4.000 anos. Contudo, o derretimento atual reverte o padrão. Se o aquecimento global continuar, a camada de gelo desaparecerá por completo nos próximos 1.000 anos.
“Nossas descobertas são mais um alerta, especialmente para países como os Estados Unidos“, diz Jason Briner, professor de geologia da Universidade de Búfalo e líder do estudo. “Os americanos usam mais energia por pessoa do que qualquer outra nação do mundo. Nossa nação produziu mais CO2 que reside na atmosfera hoje do que qualquer outro país. Os americanos precisam fazer uma dieta energética”, completa.
Os dados sem precedentes provam que o derretimento não é apenas parte da variabilidade natural da camada de gelo: é a primeira vez que seu estado atual foi colocado em um contexto de longo prazo. As estimativas foram obtidas por meio de um modelo de computador de uma seção da Groenlândia, que mapeia a posição das pedras de gelo usando o isótopo berílio-10 e medições de satélite.
Outros alertas
Na semana passada, uma outra equipe de cientistas descobriu que o derretimento da calota de gelo da Antártida continuaria mesmo se o mundo cumprisse a meta do acordo de Paris – um aquecimento de, no máximo, 2ºC em relação ao período industrial –, levando a um aumento de 2,5 metros no nível do mar. O estudo descobriu que a tendência de derretimento causada pelas mudanças humanas seria quase impossível de reverter.
O Ártico também está perdendo gelo em ritmo acelerado, atingindo o segundo mais baixo nível de gelo marinho nos últimos 40 anos. Ao contrário do manto de gelo da Groenlândia, que fica em terra, a calota polar ártica flutua e, portanto, seu derretimento não produzirá muito impacto no nível do mar. Contudo, por reduzir o reflexo da luz e expor água mais escura, que absorve mais calor, contribui para o aquecimento do planeta.
As descobertas recém-publicadas na revista Nature também são precedidas por uma pesquisa no mês passado que descobriu que o degelo na Groenlândia em 2019 foi provavelmente o pior em séculos.
“Estamos cada vez mais certos de que teremos taxas sem precedentes de perda de gelo da Groenlândia, a menos que as emissões de gases do efeito estufa sejam substancialmente reduzidas”, escreveu Andy Aschwanden, do Instituto Geofísico da Universidade do Alasca, em um comentário que acompanha o estudo.