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Bilionário russo quer comprar controversas estátuas colonialistas dos EUA

Estátuas polêmicas, como de Theodore Roosevelt, foram removidas devido a protestos antirracistas; agora, dono de galeria russa deseja se apossar dos restos

Por Da Redação
Atualizado em 22 set 2020, 18h35 - Publicado em 22 set 2020, 17h38

A fundação Art Russe (Arte Russa) tem mais de 250 peças e se autodenomina uma “colecionadora da arte russa, datada principalmente de 1917 a 1991”, para “aumentar a consciência internacional” sobre a produção cultural do país. Seu dono, contudo, parece estar ampliando os horizontes.

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Em junho, o bilionário Andrey Filatov expressou seu desejo aos governos das cidades de Nova York e Sitka, no Alasca, de adquirir uma estátua de 3 metros de altura de Theodore Roosevelt montado em um cavalo e um bronze de Alexander Baranov, um colonialista russo.

Ambos os monumentos foram removidos de seus locais originais – o primeiro, da frente do Museu Americano de História Natural de Manhattan, e o segundo, de um centro cívico de Sitka –, devido a pedidos de manifestantes do movimento antirracista Black Lives Matter.

Estátua de Theodore Roosevelt foi encomendada em 1925 pelo Museu de História Natural para homenagear o ‘naturalista devoto’, mas especialistas dizem que ex-presidente compõe história de exploração de afro-americanos – 22/05/2020 (Spencer Platt/Getty Images)

Protestos demandando o fim da violência policial contra negros e a remoção de monumentos escravistas avançaram nos Estados Unidos e no mundo após a morte no fim de maio de George Floyd, um afro-americano que morreu durante uma ação policial em Minneapolis, quando foi imobilizado no chão durante uma detenção.

Do outro lado do mundo, Filatov resolveu salvar as estátuas.

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Mercado inédito

Em entrevista ao jornal americano The Washington Post, a diretora da Art Russe, Rena Lavery, afirmou que a fundação ficaria contente em comprar os monumentos, caso fossem ser descartados, arcando com os custos de transporte para a Rússia. “A ideia é preservar esses objetos para a história”, disse Lavery. “A história sempre tem dois lados. Bom ou ruim, é uma obra de arte.”

Apesar de remoções de estátuas colonialistas já terem se tornado habituais, não há consenso sobre o que deve ser feito com elas depois. Entre as possibilidades, existe o arquivamento pelo governo ou a exibição em museus, onde as obras poderiam ser melhor contextualizadas. Contudo, há aqueles que acham que devem ser destruídas, como manifestantes em Baltimore que derrubaram uma estátua de Cristóvão Colombo. Com o bilionário Andrey Filatov surge mais um caminho: a venda para colecionadores de artes.

A estátua de Cristóvão Colombo, no bairro italiano de Little Italy, em Baltimore, foi arrancada de seu pedestal e arrastada para o porto por manifestantes em julho – 09/04/2020 (Raymond Boyd/Getty Images)

Segundo o Washington Post, há diversos empecilhos para que isso aconteça. Além dos monumentos serem sujeitos a leis complexas, o custo para desmontar, transportar e remontar um monumento de grande porte é astronômico – a escultura do general confederado Robert E. Lee, em Richmond, Virgínia, pesa 13 toneladas, por exemplo.

Investir nessas peças também é uma aposta. Enquanto prefeitos na antiga Confederação – conjunto de sete estados escravistas que se separaram dos Estados Unidos no século 19 – podiam encomendar uma estátua de bronze de um catálogo por 450 dólares, é impossível afirmar quanto elas valem exatamente hoje, já que não há registros de vendas desses objetos.

Mesmo assim, outros colecionadores já expressaram interesse em transações deste mercado inédito. Donnie Greenwell, dono de uma empresa de reforma de casas móveis, quer criar um parque cheio de monumentos e enviou uma carta ao governo de Richmond para fazer a compra.

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E os russos com isso?

Alexander Baranov foi um colonialista e governador do início do século 19 do Alasca russo. Ele fundou Sitka em 1804 em uma terra há muito habitada por nativos do Alasca, muitos dos quais ele matou ou escravizou. Por muitos anos, sua figura em bronze sentou-se sobre uma pedra, pensativa, observando de cima os habitantes de Sitka.

A fundação Art Russe diz que Baranov é uma figura importante na história da Rússia, enquanto Roosevelt ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1906 por seu papel nas negociações para encerrar a Guerra Russo-Japonesa, que garantiu termos favoráveis ​​para a Rússia. O bilionário Filatov procurou comprar os monumentos com o objetivo de “preservar o patrimônio cultural”.

A diretora Lavery não comentou sobre o racismo e colonialismo dos monumentos que seu chefe decidiu comprar, dizendo que eram “questões que estão além de nossa competência”, segundo o Washington Post.

Pouco depois de Filatov expressar interesse na obra, Sitka anunciou que a estátua de Baranov seria transferida para um museu local. Enquanto isso, a cidade de Nova York recusou seu pedido de compra da estátua de Roosevelt. Por enquanto, a escolha de qual patrimônio cultural será preservado permanece fora das mãos de colecionadores privados.

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