Após vetos, EUA dão sinal verde a resolução da ONU sobre guerra em Gaza
Não está claro se demais membros do Conselho de Segurança, em particular a Rússia, aceitarão mudanças propostas pelos americanos; votação é nesta sexta
Os Estados Unidos declararam que estão prontos para apoiar uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que será votada nesta sexta-feira, 22, destinada a aumentar o fluxo de ajuda humanitária a Gaza, após pedir alterações no texto, incluindo a remoção de um apelo à “suspensão urgente das hostilidades”. Washington, com poder de veto no órgão, barrou diversas propostas a respeito do conflito, inclusive uma do Brasil, e o Conselho de Segurança segue sem resolução quase 80 dias após a eclosão da guerra Israel-Hamas.
Na quinta-feira 21, a votação da resolução foi adiada pelo quarto dia consecutivo, após uma semana de negociações intensas. Mas a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que seu país e os estados árabes apresentaram uma versão alterada da proposta, que Washington poderia apoiar.
+ População inteira de Gaza corre risco de fome e inanição, diz ONU
“Estamos prontos para votar. E é uma resolução que levará assistência humanitária aos necessitados”, disse Thomas-Greenfield. “Isto apoiará a prioridade que o Egito tem em garantir que colocamos no terreno um mecanismo que apoiará a assistência humanitária e que estamos prontos para avançar.”
Porém, não ficou claro se outros membros do conselho com poder de veto, em particular a Rússia, aceitariam as mudanças.
Propostas
O atual projeto de resolução fazia um apelo à “suspensão urgente das hostilidades” para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Este ponto, no entanto, foi removido e substituído por um apelo a “medidas urgentes para permitir imediatamente o acesso humanitário seguro e sem entraves, e também para criar as condições para uma suspensão sustentável das hostilidades.”
Além disso, uma seção pedia ao secretário-geral das Nações Unidas para criar um mecanismo que seria “exclusivamente” responsável pelo monitoramento dos envios de insumos ao enclave, sem a intervenção de Israel. O ponto também foi foi alterado, e agora pede a nomeação de um “coordenador humanitário sênior e de reconstrução” com responsabilidade de “facilitar, coordenar, monitorar, e verificar em Gaza, conforme apropriado, a natureza humanitária de todas as remessas de ajuda”.
+ Hamas pausa negociações de reféns até Israel interromper ataques a Gaza
Este coordenador, que será nomeado “rapidamente”, deverá “estabelecer um mecanismo das Nações Unidas para acelerar o fornecimento de remessas de ajuda humanitária a Gaza” enquanto consulta “todas as partes relevantes” – em referência, principalmente, a Israel.
Por fim, o projeto de resolução “exige que as partes em conflito cooperem com o coordenador para cumprir o seu mandato sem atrasos ou obstruções”.
+ Israel ordena que moradores esvaziem 20% da maior cidade do sul de Gaza
Veto dos EUA
Nas negociações desta semana, os Estados Unidos argumentaram que a redação original da proposta, que dava às Nações Unidas “controle exclusivo” de um mecanismo de entregas humanitárias que duraria um ano, era inflexível.
Já o apelo à suspensão das hostilidades, para Washington, aumentaria a pressão internacional sobre Israel. Por isso Thomas-Greenfield defendeu um parágrafo que, ao invés disso, “condena firmemente todas as violações do direito humanitário internacional, incluindo todos os ataques indiscriminados contra civis e bens civis, toda a violência e hostilidades contra civis, e todos os atos de terrorismo”.