Após fuga de americanos, Cabul tem ruas desertas e medo
Moradores da capital agora encontram membros do grupo extremista por toda parte, ocupando os postos de controle que costumavam ser da polícia e do Exército
Com a capital do Afeganistão tomada pelo Talibã no último domingo, 15, os moradores de Cabul agora encontram membros do grupo extremista por toda parte, ocupando os postos de controle que costumavam ser da polícia e do exército afegão.
No primeiro dia do Talibã no poder, a situação se mostra um pouco mais calma, à medida que as pessoas parecem estar com medo de ir às ruas depois da confusão e caos no domingo. Contabiliza-se que mais de 10.000 pessoas estavam no aeroporto, sem passaporte ou nem mesmo passagem, em tentativas sem sucesso de entrar em qualquer avião e deixar o país.
O Talibã agora controla os portões da entrada principal do aeroporto com armamento pesado e dá tiros para o alto com frequência para dispersar a multidão no local. Houve, no entanto, alguns poucos determinados a entrar, pulando os portões e passando por cima até mesmo do arame farpado nos muros.
O grupo começou sua investida para retomar o controle do Afeganistão em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras do país, sobretudo americanas. No último dia 11, o serviço de inteligência dos EUA apontou que os extremistas poderiam tomar a capital em 90 dias, porém a sua queda ocorreu mais rápido do que o esperado.
Após conquistar uma série de capitais provinciais na última semana, os fundamentalistas sitiaram Cabul no último domingo, movimento que fez com que o presidente Ashraf Ghani partisse para o Uzbequistão com sua esposa e dois assessores próximos. Poucas horas depois, o grupo entrou no Palácio Presidencial e fez um pronunciamento à mídia afirmando que tem o total controle sobre o país.
Nas estradas, o cenário era similar: famílias inteiras caminhavam por quilômetros na esperança de sair do país. No centro de Cabul nesta segunda-feira, as ruas estavam desertas. Os talibãs controlam o tráfego, revistam os carros que passam pelo centro de controle, usando para uso próprio veículos que pertenciam à polícia e ao Exército.
A maioria das lojas está fechada e poucas mulheres andam pelas ruas, mas algumas foram vistas sem nenhum acompanhante homem e sem burca, medidas decretadas pelos extremistas da última vez em que estiveram no poder, há 20 anos.
O contexto presente remete à situação em que o país se encontrava há mais de vinte anos, quando os soviéticos deixaram os afegãos. A saída do Exército Vermelho em 1989 provocou o início de uma violenta guerra civil entre facções, que fez quase 100 mil mortos em dois anos e culminou na ascensão do Talibã. Ainda hoje, os extremistas representam uma porção ultraconservadora da sociedade e uma ameaça aos direitos individuais.