A Alemanha deve retirar com urgência cerca de 10.000 pessoas que estão sob sua responsabilidade no Afeganistão, após o Talibã tomar o controle do país. O anúncio foi feito pela chanceler Angela Merkel em uma reunião com membros de seu partido, a União Democrata-Cristã, nesta segunda-feira, 16.
“Nós estamos presenciando momentos difíceis. Precisamos manter o foco na missão de resgate”, disse Merkel, que alertou que as consequências do conflito irão durar muito tempo.
Entre os que precisam de retirada estão ativistas de direitos humanos, advogados e outros que o governo alemão considera em risco, além de 2.500 funcionários de apoio afegãos. Merkel afirmou ainda que Berlim deveria cooperar com países que fazem fronteira com o Afeganistão para fornecer suporte para aqueles que tentam fugir do país.
No entanto, o secretário-geral do partido, Paul Ziemiak, disse que a Alemanha não deve repetir a política adotada durante a crise migratória de 2015, quando abriu suas fronteiras para milhões de imigrantes, em sua maioria sírios que fugiam da pobreza e da guerra civil do país. Na época, a medida recebeu elogios do exterior, porém se mostrou controversa internamente e corroeu a posição do partido.
“Para nós, está claro que 2015 não deve ser repetido. Nós não resolveremos o problema do Afeganistão trazendo todos os imigrantes para a Alemanha”, disse Ziemiak à uma emissora de televisão local.
Merkel, que está no poder desde 2005, planeja deixar o cargo após as eleições federais marcadas para 26 de setembro. Armin Laschet, que será o candidato do partido na votação, disse que a crise humanitária no país é o maior fiasco da OTAN desde sua fundação, em 1949.
De acordo com o Ministério da Defesa, a Alemanha enviou membros de suas forças especiais para ajudar no resgate planejado, acrescentando que a operação é extremamente perigosa para as tropas alemãs.
Todos os voos comerciais do aeroporto de Cabul foram cancelados após uma multidão de pessoas invadir as pistas para tentar escapar do país. Quarenta funcionários da embaixada alemã foram levados de avião para Doha, no Catar, durante a noite, de acordo com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
O Talibã começou sua investida para retomar o controle do Afeganistão em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras do país. No último dia 11, o serviço de inteligência dos EUA apontou que os extremistas poderiam tomar a capital em 90 dias, porém a sua queda ocorreu mais rápido do que o esperado.
Após conquistar uma série de capitais provinciais na última semana, os fundamentalistas sitiaram Cabul no último domingo, 15, movimento que fez com que o presidente Ashraf Ghani partisse para o Uzbequistão com sua esposa e dois assessores próximos. Poucas horas depois, o grupo entrou no Palácio Presidencial e fez um pronunciamento à mídia afirmando que tem o total controle sobre o país.