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Vendas de Natal devem crescer em 2020, sinalizando recuperação do varejo

Expansão do e-commerce e auxílio emergencial são peças-chave para retomada, mas inflação e dólar alto podem encarecer itens e preocupam o comércio para 2021

Por Diego Gimenes
Atualizado em 18 dez 2020, 02h42 - Publicado em 16 dez 2020, 08h39
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  • Portas fechadas e comerciantes sem trabalhar: o cenário era assustador em meados de março e durante boa parte de abril, quando a pandemia de Covid-19 eclodiu no Brasil. Todavia, a recuperação do varejo – alavancada pelo comércio eletrônico e pelo auxílio emergencial – foi bem acima das expectativas no início da pandemia. O setor deve encerrar 2020 com alta de 3,4% nas vendas de Natal, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

    As cinco parcelas de 600 reais aumentaram o poder de compra da população, mas trouxeram de volta a inflação, uma vez que faltou estoque para tamanha demanda. Agora, a redução do benefício pela metade deve fazer com que as pessoas o direcionem quase que exclusivamente para a alimentação, um dos fatores que sustentam a previsão da CNC de um Natal superior ao de 2019, em vista que a categoria deve representar a maior parte do faturamento para a data (41,8%). Porém, este é um indício de que o fôlego trazido pelo auxílio emergencial à economia possa estar perto do fim. Nesta semana, a Caixa começou a depositar a última semana do auxílio e, até o momento, não há expectativa de prorrogação. O Congresso Nacional vota nesta quarta-feira, 16, o orçamento para 2021 sem a previsão de gastos extras, como o programa emergencial de renda.

    A categoria de vestuário e calçados é a segunda com maior intenção de compra dos consumidores (18,7%), seguida pelos artigos de uso pessoal e domésticos (17,4%). Já os móveis e eletrodomésticos aparecem apenas na quarta colocação do levantamento realizado pela CNC (9,3%). A explicação para esse movimento está relacionada aos preços.

    Os valores das 30 categorias de bens e serviços são medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que apresenta avanço médio de 9,4% nos doze meses encerrados em novembro, enquanto o acumulado geral do índice acelerou 4,2%. Mantido esse ritmo de reajuste, o Natal de 2020 apresentará a maior alta de preços desde 2015, quando eles subiram 11%. Outro fator importante é a escalada do dólar frente ao real, que reduziu as importações para a data. Em relação a 2019, a queda foi de 16,5%, totalizando 439,5 milhões de dólares (2,2 bilhões de reais), o menor valor para o período desde 2009. À exceção de bebidas, todos os demais segmentos acusaram recuo ante 2019.

    Boa parte do crescimento esperado para o Natal se dará em função do comércio eletrônico, que deve ter um expressivo incremento de 64% nas vendas em relação a 2019. Desde o início da pandemia, o e-commerce brasileiro tem sido fundamental para a recuperação do comércio. “As lojas físicas terão um crescimento abaixo das vendas online pois a circulação nos shoppings e no próprio varejo de rua ainda não está normalizada. Veremos sim cenas de aglomerações nos próximos dias, mas serão bem menores do que em anos anteriores”, analisa Fabio Bentes, economista da CNC. A confederação projeta para as lojas físicas um aumento de apenas 1% nas vendas.

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    Ainda que o cenário seja positivo para o setor, fatores de ordem econômica impedem que a recuperação do varejo seja ainda mais expressiva. O 13° salário dos aposentados, por exemplo, foi antecipado para os meses de abril e maio, além de que alguns trabalhadores que tiveram seus contratos suspensos durante a pandemia vão receber um benefício menor em 2020. “Esses recursos devem ser alocados sobretudo para o pagamento de dívidas. O consumidor está mais cauteloso pois o comprometimento das famílias com dívidas é o maior da série histórica calculada pelo Banco Central”, enxerga Bentes. O economista ainda afirma que 211 bilhões de reais serão injetados na economia em forma de 13° salário, contra 216 bilhões em 2019, ou seja, a primeira redução do valor nominal na história.

    Um fenômeno que vem impactando as vendas de Natal na última década é a Black Friday. A primeira edição no Brasil foi realizada em 2010, mas foi a partir de 2012 que as grandes varejistas entraram de cabeça no festival de descontos, que se transformou em uma das datas mais importantes para o comércio brasileiro. “Uma parte dos consumidores realmente faz essa antecipação, mas muita gente ainda vai comprar presentes depois que o evento termina. O efeito maior é de postergação de compra de outras datas, como o Dia das Crianças, do que uma antecipação do Natal. A Black Friday veio para somar positivamente com as vendas de final de ano”, afirma Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do FGV Ibre. Na data, as pessoas preferem presentear a si mesmas e compram principalmente os bens de consumo durável.

    Fato é que o auxílio emergencial ainda terá fôlego para sustentar as compras de fim de ano. Contudo, o fim desse gás adicional para o comércio aliado a uma inflação mais alta mostra um cenário desafiador tanto para o setor quanto para a economia brasileira como um todo em 2021. “O início do próximo ano deve trazer uma dificuldade muito grande, pois a recuperação do mercado de trabalho ainda não se consolidou. O primeiro trimestre vai ser chave, principalmente para as pessoas de baixa renda”, projeta Tobler. O ano de 2020 foi de fortes emoções para o varejo, que deve seguir a caminhada do crescimento em 2021, de acordo com as políticas econômicas de substituição do auxílio emergencial, que está próximo do fim.

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