Acontece no domingo, 9, a 92ª edição do Oscar. Confira abaixo trechos das resenhas de todos os títulos indicados ao prêmio de melhor filme, assinados pela colunista de VEJA Isabela Boscov.
Engraçado, cortante e devastador: o formidável sul-coreano Parasita
“O cinema sul-coreano em geral ignora as compartimentalizações ocidentais de gênero; é comédia, suspense, drama e melodrama (e às vezes fantasia, ou ficção científica) não propriamente ao mesmo tempo mas, melhor dizendo, em sequência — curvas perigosas e mudanças de marcha abruptas são sua especialidade. Parasita trabalha esses fundamentos em um patamar alto: seu senso de humor acessível, a engenhosidade com que arma o cenário e a sua fluência visual e narrativa aliciam a plateia, jogam-na dentro da história, fazem com que ela se sinta confortável — e então Joon-ho Bong puxa as navalhas que vinha escondendo e desfere golpe atrás de golpe. É cinema no seu melhor: tão perfeito e envolvente que nada pode fazer com que ele se perca na tradução.” Leia o texto completo aqui.
1917 lança a plateia no desespero da guerra, sem pausa
“Muito da eficácia de 1917 está na concisão que Sam Mendes, antes um cineasta mais dado ao grandioso, aprendeu a praticar desde o excelente 007 — Operação Skyfall. Aqui, ele exclui o contexto histórico (1917 foi o ano em que os Estados Unidos entraram na guerra, em que a Rússia mobilizada pela revolução comunista saiu dela e em que os alemães intensificaram sua ofensiva). Também não alude ao atual reavivamento do nacionalismo e do fascismo — uma conjunção similar àquela na qual a I Guerra eclodiu. Com o foco fechado em uma missão e dois personagens, ele faz com que esse clima se forme sozinho na imaginação do espectador: é de um mundo em ruínas, reais e metafóricas, que ele fala. Em particular, de um mundo em que não há volta, de nenhum ponto do caminho.” Leia o texto completo aqui.
O Irlandês: o arrebatador olhar de Martin Scorsese sobre a máfia
“O Irlandês parece em tudo uma escolha natural para Martin Scorsese, um descendente de sicilianos que cresceu no Queens nova-iorquino cercado por tipos como os que frequentemente retrata em seus filmes. Mas, à medida que a história transcorre, outros temas que soam bem mais íntimos começam a subir à superfície: velhice, obsolescência, reputação, a desconexão entre o passado e o presente. Scorsese não sublinha esses temas. Com seu estupendo domínio de cena, ele apenas os reitera de maneira que impregnem o filme, como se fossem um pensamento que nunca se articula completamente. Mas é nesse eco que está a razão de ser do filme.” Leia o texto completo aqui.
Coringa: Maestro do caos
“Fã muito assumido do cinema americano dos anos 70 e início dos 80, e em particular de Martin Scorsese, o diretor Todd Phillips conjura uma Gotham suja, malcuidada e perigosa como a Nova York de Taxi Driver (1976) — onde, como o personagem de Robert De Niro naquele filme, Arthur Fleck tenta sobreviver à hostilidade da cidade e aos próprios traumas. O crucial, porém, é que o diretor encontrou em Joaquin Phoenix um parceiro tão destemido quanto ele próprio. Phillips queria um Arthur Fleck magérrimo, para acentuar a ideia de pobreza e fragilidade, e Phoenix o atendeu com uma dieta que descreve como ‘obsessiva’ e que o fez perder 23 quilos. Em seu 1,73 metro de altura, o efeito é devastador e, ao mesmo tempo, libertador: curvado, cavado e de aspecto doentio, Arthur tem no entanto uma elasticidade e uma fluidez de movimentos que só em um físico assim reduzido seria possível.” Leia o texto completo aqui.
Adoráveis Mulheres renova com brio um clássico da literatura
“Leitora atenta não só do romance [Mulherzinhas] como também da biografia de Louisa May Alcott, a diretora e roteirista Greta Gerwig aparou quase todas as lições de moral que irritavam a autora e também muitos leitores. As que restaram aparecem em uma nova perspectiva: não são algo a ser ensinado, mas sentido na pele como o exasperante exercício de resignação que as mulheres do século XIX tinham de impor a si mesmas, enquanto olhavam de fora da festa a invejável liberdade masculina.” Leia o texto completo aqui.
Tarantino e Era Uma Vez em… Hollywood: a reinvenção da história
“A catarse violenta é um sine qua non dos filmes de Tarantino, mas aqui ele não a usa apenas para corrigir a história, como o fez em Bastardos Inglórios e em Django Livre: usa-a para preservar, na sua imaginação e na de seu público, algo delicado e precioso, tão cheio de promessa quanto cada uma daquelas curvas fechadas com que seus personagens se divertem numa Hollywood que era então, ainda, um sonho.” Leia o texto completo aqui.
História de um Casamento, da Netflix, é bom – mas nem tanto assim
“Scarlett Johansson dá tudo o que tem ao papel, e Adam Driver dá mais ainda; é um desempenho com tantas nuances diferentes de desolação e de perda que é difícil elogiá-lo o suficiente. Durante o filme, é mencionado que Charlie não tem contato com a família; sua infância foi marcada por alcoolismo e violência doméstica, e na mãe de Nicole ele encontrou a compensação para essa falta. A certa altura, porém, ele flagra a sogra em um momento de alegria genuína com o novo namorado de Nicole, e lê-se no rosto de Driver a profusão de perdas que o divórcio está trazendo para ele. É, de longe, a melhor cena do filme, e uma prova de que, desde Frances Ha, Mistress America e Enquanto Somos Jovens, o cinema de Noah Baumbach vem incorporando elementos de generosidade e graça que no início não estavam lá.” Leia o texto completo aqui.
Com Damon e Bale, Ford vs Ferrari voa da largada até a bandeirada final
“Tenho aqui o mesmo problema que tive com Rush em 2013: convencer aqueles espectadores que não dão a mínima para automobilismo de que Ford vs Ferrari não é um filme só para fãs de velocidade. É um filme que, sim, recria as sensações de uma corrida com gosto e com uma competência de provocar vertigens e arrepios – mas é antes de tudo a história exuberante, colorida e bem-humorada de dois sujeitos completamente diferentes entre si que têm um ponto importante em comum: o fraco por fazer aquilo que os outros dizem que não pode ser feito.” Leia o texto completo aqui.