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Festival de Berlim confirma passado nazista de fundador

Alfred Bauer atuou como conselheiro de Joseph Goebbels em órgão que fiscalizava filmes durante o regime nazista alemão

Por Amanda Capuano 30 set 2020, 18h15

O Festival de Berlim reconheceu nesta quarta-feira 30 que houve uma estreita ligação de seu fundador, Alfred Bauer, com o alto escalão do regime nazista, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o seu domínio na Alemanha. Um estudo do Instituto Leibniz de História Contemporânea, divulgado nesta quarta-feira, 30, no site do Berlinale, revelou que Bauer foi uma figura central nas estratégias de propaganda de Joseph Goebbels, atuando como conselheiro do Reichsfilmintendanz — o braço do nazismo que fiscalizava as produções cinematográficas para que estivessem alinhadas aos ideais hegemonistas de Hitler.

Nascido em Berlim em 1911, Bauer adotou os ideias nazistas ainda na juventude. De acordo com o documento, integrou várias organizações nacionais socialistas a partir de 1933, ano em que Hitler assumiu o poder, e filiou-se ao NSDAP — partido do Führer — em 1937, aos 26 anos. Em um outro documento recuperado pela pesquisa, Bauer refere-se a si mesmo como um “membro devoto” da SA, o braço paramilitar do partido nazista.

Com a derrota do regime, em 1945, a defesa pública dos ideais nazistas foi para debaixo do tapete, e Bauer ocultou seu envolvimento com a censura ao cinema alemão e a propaganda de Goebbels através de “declarações deliberadamente falsas e meias-verdades”, diz o comunicado. Ele ainda construiu a própria imagem sobre a falácia de que teria sido um opositor de Hitler, e conseguiu manter-se relevante o suficiente na indústria cinematográfica alemã para ser escolhido como cabeça do Festival de Berlim, que teve a sua primeira edição em 1951.

O estudo sobre o passado de Bauers foi encomendado pela diretoria do festival em fevereiro, depois que o jornal alemão Die Zeit publicou uma reportagem que questionava a participação do fundador no terceiro Reich. Segundo a pesquisa, conduzida pelo historiador Tobias Hof, Bauer “contribuiu para o funcionamento, estabilização e legitimação do governo nazista.”

Ironicamente, durante décadas, Bauer assumiu um papel simbólico à frente dos valores de diversidade e tolerância propagados pelo Festival de Berlim — chegou a ganhar, depois de sua morte, em 1986, um prêmio com o seu nome, em reconhecimento ao seu papel na “abertura de novas perspectivas na arte cinematográfica”. A revelação de sua participação no regime hitlerista, divulgada em fevereiro e agora confirmada, levou o festival a cancelar a homenagem.

Diretor Andrzej Wajda com o Prêmio Alfred Bauer recebido pelo filme Tatarak (Sweet Rush)em no Festival de Berlim de 2009. Estatueta não existe mais desde fevereiro, quando vazaram informações sobre o passado nazista do homenageado – (Sean Gallup/Getty Images)

Bauer, porém, não é o único figurão envolvido com os horrores do regime nazista — boa parte da população alemã, por vontade própria ou não, apoiou Hitler, multinacionais famosas do país como Volkswagen, BMW e Mercedes beneficiaram-se do trabalho forçado dos campos de concentração, o Deutsche Bank confiscou bens de judeus e vendeu ouro de vítimas do holocausto e o Papa emérito Bento XVI integrou a juventude Hitlerista, que tinha alistamento obrigatório. O fundador do Berlinale, porém, nunca assumiu sua participação no regime, que, segundo as novas revelações, transpõe a simpatia condenável pelo hegemonista, e seu papel-chave no maquinário de Goebbels.

Sobre o estudo, Mariette Rissenbeek, diretora executiva do festival, declarou em nota que “é um elemento importante no processo de lidar com o passado nazista de instituições culturais fundadas depois de 1945.” Mariette ainda reconheceu que as novas revelações sobre Bauer indicam que ainda há buracos na história da indústria cinematográfica alemã pós-guerra.

 

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