Candace Owens foi elogiada por Donald Trump.
Candace Owens comprou briga com Cardi B. E gostou: “Estou adorando cada segundo”.
Candace Owens fez um comentário enviesado sobre Hitler. Precisou explicar que o considerava um “homicida psicopata que matou seu próprio povo” e, portanto, não poderia ser rotulado como nacionalista.
Kanye West disse que adora “o jeito de falar de Candace Owens”.
Candace Owens é membro de carteirinha da NRA, a organização mais pró-armas da galáxia.
Ela também é contra o aborto, o Black Lives Matters e o movimento #MeToo, “baseado na premissa de que as mulheres são burras, fracas e inconsequentes”. Mas a favor do casamento gay.
Já deu para perceber que Candace Owens é uma encrenca daquelas, uma mulher que construiu a própria reputação – péssima, dizem os inimigos – com base na rejeição às ideias preconcebidas ou convencionais.
Com uma capacidade inesgotável de falar e fazer provocações, bem ao estilo americano de debatedores de programas de televisão, Candace procurou várias vias para a persona política que criou.
E para a qual certamente não faltam patronos conservadores, emocionados com a pedra rara que é uma mulher com as ideias que ela defende – ainda por cima, jovem e bonita.
Seu grupo atual se chama BLEXIT – uma referência ao Brexit que conjumina as palavras “black” e “exit”, significando que os negros americanos deveriam sair do curral do Partido Democrata onde, diz ela, são tratados como massa de manobra e reserva de votos a ser usada apenas em época eleitoral.
Foi assim que comprou briga com Cardi B, a cantora de rap sem freios na língua, vinda de uma vida pré-fama como membro de gangue e stripper.
Candace alegou que Joe Biden deu uma entrevista à cantora sem fazer ideia de quem era, baseando-se apenas na ideia degradante de que precisava falar ao público negro e uma cantora de rap era o melhor instrumento para isso.
Também disse que Cardi B estava entrando num terreno desconhecido, o da política, onde é “analfabeta”.
“Tenho miiiilhões de seguidores”, respondeu a cantora. “E você está sendo cafetinada por homens brancos”.
Pois é, o nível do debate às vezes cai a vários metros abaixo da superfície.
Mas Candace certamente não deixou de perceber que um bate-boca com uma celebridade do show business rende projeção.
O argumento de conservadores negros como Candace é o mesmo feito por Donald Trump, com uma boa dose de verdade.
Em cidades como Chicago ou Detroit, onde os democratas dominam a política há muitas décadas, os bairros negros são decaídos, cobertos de lixo e assolados pela criminalidade das gangues que disputam o tráfico de drogas.
Como é possível que isso se perpetue na maior potência do planeta é a mensagem que ancora a plataforma de Candace Owens.
Muita gente pode não gostar da mensageira, chamá-la de cooptada ou de oportunista. Ou, o pior dos epítetos, de traidora da raça que até na hora de se casar escolheu não só um marido branco, mas um inglês, filho de barão da Câmara dos Lordes.
Ela também é acusada de ter bancado a ida de participantes negros levados para aplaudir um Trump recém-saído do hospital, fazendo um discurso triunfalista na sacada da Casa Branca.
Sem falar na sua opinião sobre George Floyd, o homem cuja morte detonou a onda de protestos violentos no país inteiro.
Evocando a ficha criminal dele, disse Candace: “O senhor Floyd era um bandido. Não mereceria morrer, mas homenagear um bandido é irresponsável”.
“O policial nunca deveria ter tratado (Floyd) daquele jeito e o matado. Mesmo assim temos que nos perguntar: ele é um herói? O fato de ser apresentado como mártir me deixa doente”.
Donald Trump retuitou. E os céus desabaram sobre a cabeça dela.
Depois da tempestade, ela dobrou a aposta: “Tive tempo de refletir sobre meu vídeo sobre #GeorgeFloyd e vocês estavam certos. Eu estava muito errada. Ele foi preso nove vezes, não sete. Eu deixei passar duas condenações anteriores com roubo e drogas”.
Como se vê, aos 31 anos e com cancha de sobra em polêmicas, Candace Owens já está bem grandinha para saber se defender.