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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O que Bruno Pereira achava ser a nova ameaça contra povos isolados; Ouça

Em conversa inédita, indigenista falou à coluna qual era a última investida do governo Bolsonaro contra indígenas. Hoje completa 30 dias de seu assassinato

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jul 2022, 09h35 - Publicado em 5 jul 2022, 20h23

Bruno Pereira acreditava que o próximo “embate” a ser travado para defender indígenas dos desmandos cometidos pela gestão Marcelo Xavier, na Funai, estava relacionado à proteção dos povos isolados e de recente contato, pelos quais o indigenista deu sua vida na Amazônia.

Assassinado por criminosos nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, região com mais isolados no mundo, Bruno Pereira havia afirmado – em conversa com a coluna – que a não renovação de portarias que protegem área com esses povos indígenas seria a próxima luta a ser travada contra o governo Jair Bolsonaro.

É o que revela uma declaração dele para a coluna, que este espaço ainda não havia divulgado:

“[É] o que os ruralistas querem. Porque vai ser o próximo embate, entendeu Matheus? O próximo embate vai ser acabando com as restrições de uso dos isolados. Eu sinto que é isso”.

Ouça aqui:

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A afirmação de Bruno Pereira é chocante para aqueles que acompanham o drama vivido por povos indígenas e isolados e de recente contato, especialmente após Jair Bolsonaro assumir a presidência da República, em 2019.

Há no Brasil 114 registros de índios isolados atualmente, dos quais cerca de 25% são confirmados. O restante ainda está sob investigação.

As portarias de restrição de uso servem para proteção desses indígenas – e dos seus territórios – até a demarcação da Terra que eles vivem. Assim, com esse mecanismo administrativo em vigor, fica vedada a entrada ou circulação de pessoas que não sejam da Funai. Os criminosos passam a ser considerados invasores, e a probabilidade de punição aumenta.

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Antes do governo Bolsonaro, todas as renovações dessas portarias eram feitas por até três anos. Agora, algumas delas – nem todas – são renovadas por apenas seis meses.

A Terra Indígena Jacareúba-Katawixi, no sul do Amazonas, não recebeu, por exemplo, uma portaria renovando sua proteção. A área tem mais de 640 mil hectares e está desprotegida há meses.

Com presença de grupos indígenas isolados confirmada pela própria Funai, a inexistência da portaria facilita a ação de criminosos, como os que assassinaram Bruno e o jornalista Dom Phillips no Vale do Javari.

Outra Terra Indígena que esteve prestes a ficar desprotegida foi a de Ituna Itatá, no sudoeste do Pará. Entre 2018 e 2019, a TI teve 119,92 km² desmatados, sendo a que mais sofreu corte ilegais de árvores durante o período.

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Devastação semelhante aconteceu na Terra Indígena Pirititi, localizada no sul de Roraima. Pirititi e a Ituna Itatá só tiveram a proteção renovada recentemente pelo governo Bolsonaro. E, somente após forte pressão do Ministério Público Federal e de campanhas da sociedade civil, como a #IsoladosOuDizimados.

Além dessas Terras Indígenas, os “isolados do Mamoriá Grande”, cuja existência no Amazonas foi confirmada recentemente, continuam sem proteção da Funai, que segue ignorando o pedido de ajuda para preservação deles, através da portaria.

É preciso lembrar que Jair Bolsonaro prometeu – na campanha de 2018 – que não iria demarcar nenhuma nova Terra Indígena. Ele tem cumprido à risca essa promessa, como você, leitor, pode perceber.

Um mês após o assassinado de Bruno Pereira, a coluna chama atenção do país sobre mais essa importante preocupação do indigenista. Registro aqui também que a Funai não retornou as ligações da coluna relacionadas a esta reportagem.

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GRAVAÇÕES

Este é o terceiro trecho de gravações com o indigenista Bruno Pereira publicado por esta coluna.

No segundo, Bruno Pereira mostrava como ala ideológica da extrema-direita, comandada por Bolsonaro, tomou de assalto a Funai (Ouça aqui). O indigenista denunciou, por exemplo, que Marcelo Xavier trabalhava para ruralistas.

A coluna também já havia informado, em 2019, que Marcelo Xavier agia em nome do grupo político dentro da Funai.

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Já no primeiro áudio publicado pela coluna… Bruno Pereira fez outra importante denúncia – esta sobre a desorganização na Fundação e a violência na região onde ele foi assassinado (ouça aqui).

A coluna tem conversas gravadas com Bruno Pereira sobre alguns importantes fatos. Por exemplo: a situação de risco no Vale do Javari, os muitos erros e as diversas perseguições que aconteceram nos últimos anos na Fundação Nacional do Índio.

As conversas ocorreram a meu pedido e são o resultado da relação de confiança estabelecida entre um jornalista e uma fonte que, por vários anos, trocaram informações, principalmente durante o governo Jair Bolsonaro, quando a crise da Funai se agravou.

A coluna traz trechos neste espaço porque os alertas do Bruno elucidam o ambiente de crime que este governo permitiu que se espalhasse pela floresta amazônica, e também são uma radiografia do cotidiano desse desmonte institucional na Fundação.

Na época que conversamos era para a não divulgação da fonte, mas agora a voz do Bruno é ainda mais importante para elucidar os graves fatos na região amazônica.

Trata também do custo para os país do desmantelamento da Funai no governo Bolsonaro, com a ausência do Estado e, agora, a crueldade cometida contra o indigenista e o jornalista Dom Phillips.

Por isso, esta coluna não deixará que as denúncias de Bruno Pereira morram com ele.

(Saiba aqui porque povos são considerados isolados, em explicação dada pelo pelo próprio Bruno Pereira à coluna em 2019)

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