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Informação e análise
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Governo declarou guerra à “Pátria de chuteiras”

Bolsonaro e seguidores agem como se fossem proprietários da Seleção e da camisa verde-amarela, adotada como uniforme da campanha de reeleição

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jun 2021, 10h18 - Publicado em 7 jun 2021, 09h00

Na Copa América, Jair Bolsonaro não viu a bola, só a reeleição.

Na última segunda-feira, ele conversou com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Rogério Caboclo — afastado do cargo ontem sob acusações de abuso contra uma funcionária da entidade.

Bolsonaro ouviu e, praticamente, decidiu na hora, patrocinar a transferência para o Brasil do torneio recusado pela Argentina por causa do avanço da pandemia — o número de mortos cresceu 10% nas últimas duas semanas e ontem ultrapassou a marca dos 81 mil.

LEIA TAMBÉM: Agora, a confusão do governo é com a Seleção

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A promotora da Copa logo divulgou o “apoio” presidencial, ressaltando o “aval dos ministérios da Casa Civil, Saúde, Relações Exteriores e Secretaria Nacional de Esportes”.

Bolsonaro escolheu aquele que, talvez, fosse o pior palco para confirmar sua aprovação ao torneio de futebol, em cuja organização costumam ser mobilizadas cerca de cem mil pessoas: a cerimônia de assinatura de um contrato de tecnologia entre a Fiocruz e a AstraZeneca para futura produção de vacinas contra a Covid-19. Naquele dia, o Brasil contava 461 mil mortos pelo vírus.

O presidente anunciou, mas o candidato à reeleição achou necessário explicar o processo decisório: “As decisões que eu tomo, preciso ouvir os ministros. Ouvi os ministros interessados. Foi unânime. Deixo bem claro: unânime. Todos deram sinal positivo.”

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Pouco depois, deu a dimensão do improviso: “No que depender do governo federal e de quatro governadores que se voluntariaram, haverá Copa América. E quem não quiser assistir, que não assista… É simples. Nós aqui, de direita, quando a gente não gosta de uma coisa, a gente não faz. Agora, a esquerdalha, quando não gosta, quer que ninguém faça. No que depender do governo federal, perderam mais uma.”

Quando a semana terminou, a Copa era a mais nova confusão na agenda governamental, na sequência da crise provocada pelo vírus presidencial da anarquia nas Forças Armadas.

No sábado, jogadores da Seleção Brasileira, que já disputam as eliminatórias da Copa do Mundo, se mostraram preocupados. E anunciaram uma resolução coletiva depois do jogo contra o Paraguai, amanhã.

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O governo reagiu de imediato e com virulência. Mobilizou sua base de agitação e propaganda deflagrando uma guerra pública contra o técnico Tite e os jogadores.

Um dos filhos parlamentares do presidente, o senador Flavio, liderou a ofensiva contra o técnico: “É um hipócrita, porque a gente tem vários vídeos dele no passado onde ele faz referências, puxa um saco do ex-presidente Lula sem tamanho. Mas falou de Bolsonaro, ele fecha a cara e faz de tudo para boicotar.”

Incitou até uma rebelião no time: “Não se deixem ser usados num momento como esse. Não abram mão de fazer o trabalho de vocês por qualquer razão que seja, porque hoje a pseudo-justificativa é a Covid. Amanhã pode ser uma outra coisa com que vocês não concordem.”

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A oposição havia feito algo parecido, ao sugerir aos jogadores que, simplesmente, não jogassem numa espécie de protesto ao improviso em plena pandemia. O senador Bolsonaro reagiu como o pai candidato, usou o fígado para fazer política e caiu na armadilha do confronto aberto com a Seleção, ícone secular das emoções dos brasileiros .

A tropa de deputados governistas seguiu o roteiro de combate da família presidencial. Vice-líder na Câmara, Bibo Nunes (PSL-RS),  julgou o técnico como “o grande culpado”. Como outros, propôs a troca de Tite por Renato Gaúcho, simpático ao bolsonarismo, e a substituição de todo o time: “Eu não quero jogando pelo Brasil jogadores que não são patriotas. É uma vergonha.”

Futebol costuma ser uma festa de multidões e emoções. O governo Bolsonaro conseguiu transformar um dos torneios mais antigos, a Copa América, num desastre de relações públicas, de marketing e de operação numa campanha eleitoral.

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Insatisfeito, ameaça ir além, ao insinuar interferência política numa entidade privada (a CBF), trocar o técnico “puxa-saco do ex-presidente Lula” e os jogadores “que não são patriotas”.

No limite, a radicalização governamental pode acabar atropelada pela Fifa, cujo estatuto exige “neutralidade política” (artigos 14 e 19), e prevê punição até com suspensão por dois anos das entidades filiadas, no caso a CBF.

Em tese, uma interferência do governo na seleção de futebol poderia deixar a participação do Brasil na Copa do Mundo passível de questionamento.

Bolsonaro e seguidores agem como se fossem proprietários da Seleção de 107 anos de tradição, reconhecida como a mais bem-sucedida da história do futebol mundial, e da camisa-símbolo verde e amarela que adotaram como uniforme em manifestações da campanha de reeleição do presidente.

Acabam de realizar uma proeza político-eleitoral inédita e extraordinária: declararam guerra à  “Pátria de chuteiras”.

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