Em um dos contos de fada mais conhecidos de todos os tempos, o menino João recebe a missão de ir ao mercado vender uma vaca, último recurso da família que passava fome. Porém é convencido por um homem que encontra no caminho a trocar o animal por um punhado de feijões supostamente mágicos, que ele leva para casa. Enfurecida, a mãe atira os grãos ao jardim, onde nasce um pé de feijão que, no fim, trará a prosperidade ao lar.
O feijão de todo dia pode não nos dar a galinha de ovos de ouro e a harpa mágica que João toma do gigante na historieta infantil, mas ele tem o poder de manter a nossa alimentação saudável.
O grão é tão cotidiano que povoa expressões da nossa língua; “feijão com arroz” é algo simples e básico; se a pessoa não tem méritos, se diz dela que “não vale o feijão que come”. A feijoada é reconhecida como iguaria nacional e é o único prato feito que merece dois dias da semana nos restaurantes populares Brasil afora, sendo servida às quartas-feiras e aos sábados. Recentemente, porém, o brasileiro tem dedicado a essa leguminosa um desprezo parecido ao que a pobre mãe de João demonstra no conto.
Não será por falta de gosto. Enquanto a carne começou a baixar de preço, o feijão – ao lado do companheiro arroz e de alimentos frescos, como frutas e verduras – continua a ficar mais caro, devido a safras mais baixas, e será preciso importar mais e exportar menos. O aumento do custo já o afasta da mesa do brasileiro há alguns anos.
É verdade que, antes do preço ir tirando o produto da despensa, sua diversidade também foi minguando. Existia à venda um grande número de variedades regionais, que foram sendo substituídas por alguns poucos tipos, mais aptos à produção industrial. Mas o sumiço mais radical está no horizonte e já tem data para acontecer: até 2025, o feijão deve deixar de ser consumido de maneira regular, segundo um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais.
A mesma pesquisa explica que a desaparição não tira somente o tempero e a tradição do nosso dia a dia. Ele também aumenta o risco de obesidade no país. Isso não tem a ver apenas com as qualidades da semente proteica – a esta altura todos já sabemos que ela é rica em nutrientes –, mas ao fato de que ela é considerada um indicador de boas escolhas alimentares.
Quem come feijão, dizem os pesquisadores, tem o hábito de colocar no prato outros alimentos saudáveis, como seu eterno companheiro arroz (pouco importando qual vai por baixo e qual vai por cima, uma conhecida controvérsia), vegetais, salada e carne, formando um conjunto equilibrado. Seu abandono estaria ligado a composições alimentares inadequadas. A tendência de quem não consome o grão é ocupar seu espaço no prato por mais carboidrato, aumentando a ingestão de calorias e, assim, favorecendo o ganho de peso.
Por outro lado, os ultraprocessados têm crescido na lista de compras. Um outro estudo recente mostrou que o brasileiro gastou, em 2020, mais que o dobro com refrigerante do que com feijão. Baratos e cheios de sabor, salgadinhos, biscoitos e outros alimentos de pacote também veem suas vendas crescerem. Afinal, matam a fome a preços baixos, exigindo pouco ou nenhum esforço no preparo. Uma combinação explosiva que em nada contribui para enriquecer a dieta ou os bons hábitos.