Como Bolsonaro está no centro da farra dos pastores no MEC
Nova crise aberta no centro do governo carrega todos os sinais da lógica de que o presidente manda e o ministro obedece
A nova crise aberta no governo de Jair Bolsonaro, tendo como protagonista o ministro Milton Ribeiro, expõe a um nível crítico a lógica que pautou nos últimos anos a relação entre o presidente e seus ministros. Pela voz do próprio Milton Ribeiro, a farra comandada por pastores evangélicos no Ministério da Educação era pautada pela mesma dinâmica verbalizada há tempos, sem rodeios, pelo ex-ministro Eduardo Pazuello. No governo, tem um que manda. Os demais obedecem.
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No áudio revelado nesta semana pelo jornal Folha de S. Paulo, reforçando as denúncias anteriores do jornal O Estado de S. Paulo, o ministro da Educação diz que atendia a um “pedido especial” do presidente. Bolsonaro é o presidente, cabe a ele ditar a linha do seu governo. Na gravação, Ribeiro não demonstra nenhuma resistência. Pelo contrário. Faz piada e as risadas só cessam porque ele foi exposto pela mesma imprensa incessantemente atacada por seu chefe.
Outros ministros caíram porque, segundo seus relatos, resistiram à pressão vinda do homem que manda. Luiz Henrique Mandetta diz que se recusou a atender ao pedido do presidente para que assinasse o protocolo de uso da cloroquina no combate à Covid-19 no Ministério da Saúde. Foi um caminho muito parecido que levou à saída de Nelson Teich da mesma pasta.
Sergio Moro, ex-aliado, ex-superministro da Justiça e hoje adversário do presidente, alega ter se recusado a atender aos pedidos do presidente para que interferisse na Polícia Federal. Bolsonaro nega e o tira-teima corre a passos lentos na Justiça.
O histórico de Bolsonaro na relação com seus auxiliares diretos só faz reforçar o que o áudio de Milton Ribeiro expressa com uma clareza cristalina. Pela declaração do ministro, Bolsonaro não só sabia do esquema de favorecimento montado no interior de uma das pastas mais importantes do governo, como estava por trás da operação.
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