Caso Henry: advogado do goleiro Bruno deixa defesa de Jairinho após cartas
Em 2ª instância, Tribunal do Rio também adiou depoimento do ex-parlamentar à Justiça; ele é acusado de matar e torturar enteado de 4 anos
A troca de cartas do ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, com advogados e que foi revelada ao longo desta segunda-feira, 18, culminou com a saída do advogado Lúcio Adolfo, que comandava a estratégia de defesa do político, no final do dia. Agora, esse papel de comando da defesa deve ser assumido pela criminalista Flávia Fróes, que chegou a ser advogada informal do político, que entrou nos autos logo após a saída do defensor Braz Sant’anna, mas que galgou posições aos poucos no processo. Flávia ficou conhecida por trabalhar para nomes do Comando Vermelho, como Marcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, além de ter sido acusada de ter ameaçado Monique Medeiros na prisão. Ela e Jairinho estão detidos e são réus por homicídio triplamente qualificado e tortura do menino Henry Borel, de 4 anos, na madrugada de 8 de março do ano passado. Em paralelo, a defesa de Jairinho conseguiu adiar o depoimento dele ao 2º Tribunal do Júri fluminense em 2ª instância – ele deveria ser ouvido em 16 de março.
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Caso Henry: em carta inédita, Jairinho empodera advogado de goleiro Bruno
A VEJA no final da tarde desta segunda-feira, 21, Adolfo confirmou que recebeu uma ligação telefônica por volta das 15h do advogado Claudio Dalledone, amigo de Flávia que também ingressou no processo. Ele estava acompanhado do pai de Jairinho, o deputado estadual Coronel Jairo (Solidariedade), que confirmou ao criminalista – também defensor do goleiro Bruno, acusado pelo assassinato de Eliza Samudio – que ele estava fora do processo. A reportagem também teve acesso à gravação desta ligação. A juíza Elizabeth Machado Louro, do 2º Tribunal do Júri, deferiu a procuração que destitui Adolfo, mas, até 19h, o documento não havia sido anexado aos autos eletrônicos do processo. “De qualquer forma, devido a tudo isso que aconteceu, vou peticionar para deixar o processo”, garantiu ele, em entrevista por telefone.
As cartas
Divulgadas ao longo do dia de hoje, as cartas mostram um jogo duplo de Jairinho em relação aos advogados, e um racha na defesa que culminou com a saída de Lúcio Adolfo. Conforme VEJA revelou em outubro passado, a grande ambição de Flávia Fróes sempre foi assumir a linha de defesa de Jairinho no Tribunal do Júri – algo que, agora, ela conseguiu.
Na primeira carta publicada por VEJA na manhã de hoje, Dr. Jairinho conferia o comando do processo a Adolfo. O documento teria sido escrito na última quinta-feira, 17, pela manhã.
Após a divulgação do conteúdo do documento, Flávia Fróes entrou em contato com VEJA, e enviou mais alguns documentos que, segundo ela, haviam sido peticionados no processo. A reportagem telefonou para o gabinete da 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mas, até 15h, nada havia sido protocolado nos autos. A carta apresentada por Fróes dizia que Lúcio Adolfo estaria sendo removido do processo, além de uma petição, baseada nos papéis escritos à mão, destituindo-o da defesa. Adolfo, por sua vez, negou e rebateu com uma carta que teria sido escrita por volta das 12h desta segunda-feira, 21.
Procurado, Adolfo rebateu veementemente. Disse que um advogado da equipe acabara de sair da penitenciária de Bangu com mais uma carta inédita que teria sido escrita por volta de 12h desta segunda-feira, 21 – esta garantindo que Jairinho o manterá e destituirá todos os demais advogados até a próxima quarta-feira, 23. O final da carta não tem assinatura de Jairinho, embora a grafia seja similar à do ex-vereador. Em paralelo à disputa, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o pedido de habeas corpus que solicitava a liberdade de Jairinho alegando que o caso não tinha terminado a tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O áudio
Na última sexta-feira, 18, VEJA obteve um áudio de Flávio Fernandes, ex-advogado do pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel, dizendo que ele “comanda” o processo. O criminalista chegou a a atuar como assistente do Ministério Público na acusação. A gravação revela que o advogado estaria atuando também no caso Henry, o que pode configurar os crimes de tergiversação e patrocínio infiel. Procurado nesta segunda-feira, 21, ele declarou que não atua no processo do menino Henry – embora atue na defesa de Jairinho no caso de tortura de uma das crianças, filhas de ex-namoradas, reveladas por VEJA em abril do ano passado.
“Eu é que comando isso aí, porque eu fui assistente de acusação. E objetivo era eu entrar porque era assistente de acusação, o assistente de acusação que saiu do processo porque discordava dos métodos o Leniel, entendeu?”, diz Fernandes em um trecho do áudio.
O criminalista trabalhou com Leniel Borel até 18 de junho de 2021, quando pediu formalmente a exclusão de seu nome do rol de advogados que representa a assistência de acusação. Fernandes, no entanto, manteve estreito contato com o pai de Henry até 22 de janeiro, quando saiu de um grupo de WhatsApp do qual fazia parte, ao lado de outros defensores. A desconfiança de que Fernandes poderia estar fazendo jogo duplo, levou Leniel a ingressar com uma representação contra ele na Ordem dos Advogados do Brasil, no mês passado.
Ouça a íntegra da Mensagem:
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