Pandemia faz cenas de sexo da ficção voltarem ao recato da velha Hollywood
Associação britânica recomenda que diretores busquem inspirações em romances como 'Casablanca'; no Brasil, efeitos especiais ajudarão a 'aproximar' atores
Enquanto a indústria do entretenimento retoma gradualmente suas atividades na Europa, as produtoras se adaptam aos novos tempos para garantir a segurança nas gravações. Na tentativa de manter o distanciamento, a associação de diretores britânicos de TV e cinema anunciou nesta quinta-feira, 20, algumas atualizações curiosas em sua diretriz para cenas de sexo e nudez. Entre as sugestões, recomenda-se que os diretores busquem métodos criativos para driblar a proximidade entre os atores e que, na hora de pensar as cenas de romance, se inspirem no passado, em filmes como o clássico Casablanca (1942). Ou seja: sem sexo e beijos raros e insossos.
Filmes da época de Casablanca eram produzidos sob o crivo moral do código Heys, uma cartilha conservadora instituída na década de 30 em Hollywood que, entre outras coisas, proibia menções explícitas a relações sexuais — e consequentemente, limitava a interação entre os atores. Nessa linha, para retratar a intimidade entre os personagens, a nova política sugere que cada um apareça tirando ou colocando a própria roupa, ou que os diretores apelem para a velha tática de colocar alguém embaixo do edredom para simular o sexo. Outra opção também citada é mostrar o casal fechando a porta e deixar o resto a cargo da imaginação do espectador.
ASSINE VEJA
Clique e AssineAs novas diretrizes inglesas surgem em um momento no qual o Brasil também repensa seus moldes de gravação das populares novelas, que recentemente, e num fluxo muito menor, retomaram as gravações. A primeira a voltar aos adaptados estúdios da Globo, no Rio de Janeiro, foi Amor de Mãe. Entre as estratégias adotadas para manter a proximidade sem contato dos personagens estão o uso de microbolhas e telas divisórias transparentes, que serão retiradas com efeitos especiais. Para cenas mais quentes, existem sugestões como quarentena dos atores em hotéis, antes do contato, e até beijos e materiais de plástico, artifício que depois será manipulado também com efeitos especiais. O principal recurso, porém, será admitir os reveses da pandemia.
Em entrevista a VEJA, a autora Manuela Dias afirmou que vai abordar o momento pelo qual a humanidade passa no roteiro, com direito a cenas de atores usando máscaras. “A novela é totalmente realista. Eu tive de botar o coronavírus na trama porque a gente não pode ter, por exemplo, aglomeração de figurante. Se eu não ponho a Covid, como justificar aquela cidade cenográfica vazia?”
Para Bill Anderson, que participou da elaboração das diretrizes na Inglaterra, e é responsável por alguns episódios da série inglesa Doctor Who, o momento pode ser uma chance para repensar a intimidade nas telas. “A audiência está sedenta por conexão. Mas a intimidade não é biológica, é sobre vulnerabilidade mútua e transparência entre dois seres humanos. Se você grava uma cena de sexo sem intimidade, você falhou e produziu apenas um primo mais pobre da pornografia”, declarou em entrevista ao The Guardian.
Já para as produções que julgarem as cenas picantes como elemento indispensável para o enredo, a sugestão é recorrer à tecnologia e performances digitais, com o uso do bom e velho fundo verde e animações. Outra forma curiosa apontada, e que pode renovar os rostos na TV, seria trazer casais reais para o elenco, assim eles não precisariam aderir às regras de distanciamento social entre si, e poderiam interpretar as cenas em sua totalidade. Sacada que em solo brasileiro já está em produção: a Globo está produzindo a série Amor e Sorte, com atores que trabalham em famílias, caso de Taís Araújo e Lázaro Ramos, e Caio Blat e Luisa Arraes, que receberam em casa material para filmagens e são dirigidos de forma remota, via reuniões virtuais. A série estreia em setembro.