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“O Brasil tem história, estrutura e confiança para aumentar a vacinação”

É o que acredita o CEO global da farmacêutica MSD, que acaba de lançar uma nova vacina contra o HPV no país. Ele conversou em exclusividade com VEJA

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 13 mar 2023, 21h59 - Publicado em 13 mar 2023, 18h57

Após amargar uma queda na cobertura de diversas vacinas nos últimos anos, o Brasil começa a viver um novo momento na sua história com a imunização. O Ministério da Saúde deu a largada para uma campanha nacional de vacinação e, em paralelo, imunizantes inéditos começam a ser lançados no país.

É o caso da vacina nonavalente contra o HPV. Desenvolvida pela MSD, ela amplia a proteção contra o vírus sexualmente transmissível que está ligado a casos de câncer de colo de útero, garganta e outros cantos do corpo.

O novo produto, inicialmente destinado ao setor privado, combate nove subtipos virais, ante quatro da vacina disponível e fornecida gratuitamente pelo SUS a meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos e pessoas imunossuprimidas (pacientes transplantados ou em tratamento contra câncer e HIV) de até 45 anos.

De passagem para o lançamento da vacina Gardasil-9 e a inauguração do Museu da Vacina, do Instituto Butantan, em São Paulo, o CEO global da MSD, Rob Davis, acredita que o Brasil tem os elementos para recuperar suas taxas de imunização e seu papel como referência na área.

Confira a entrevista exclusiva a VEJA, em que o executivo também adianta outras novidades que a farmacêutica pretende apresentar ao mercado de saúde.

VEJA: A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem um plano de erradicação do câncer de colo de útero, cuja principal causa é o HPV. Como produtores da vacina contra o vírus, acredita que esse objetivo é viável?

Rob Davis: Eu definitivamente acredito que a meta é alcançável, mas isso vai exigir o compromisso, numa perspectiva global, de farmacêuticas como a MSD, que tem um papel protagonista por produzir a principal vacina contra o HPV, e também o compromisso dos governos e da população.

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As pessoas precisam entender que o HPV é a maior causa de câncer de colo de útero. E não só isso. O vírus também está envolvido com tumores de cabeça e pescoço, que aparecem mais em pessoas do sexo masculino do que no feminino.

Então essa é uma iniciativa verdadeiramente neutra do ponto de vista de gênero e de alcance mundial, e há um entendimento crescente de que podemos bater a meta na prevenção do câncer de colo de útero e de tumores de cabeça e pescoço associados ao vírus. Existem estudos clínicos e evidências do mundo real comprovando e reforçando isso.

Já há mercados em que alcançamos a taxa de 90% na cobertura vacinal contra o HPV, que é o ponto a partir do qual consideramos ser possível eliminar o câncer de colo de útero.

Nosso desafio é aumentar as taxas de vacinação e ampliar o número de pessoas com o esquema de imunização completo. A melhor cura para o câncer é não ter o câncer. E, como companhia, estamos trabalhando para vacinar mais pessoas contra o HPV e aumentar a capacidade da cadeia de suprimentos a fim de atender diferentes mercados.

Rob Davis, CEO global da MSD
Rob Davis, CEO global da MSD (MSD/Divulgação)

O Brasil tem sofrido com a queda na cobertura de várias vacinas, incluindo a de HPV. Qual é o seu diagnóstico a respeito e o que acha que devemos fazer para reverter esses índices?

O Programa Nacional de Imunização brasileiro é um dos melhores do mundo, um exemplo para outros países. Sabemos, porém, que é preciso aumentar a cobertura de vacinação, que sofreu um declínio após a pandemia. Mas vocês têm, aqui no Brasil, a infraestrutura, a história e a confiança das pessoas a favor disso.

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O Instituto Butantan acaba de inaugurar o Museu da Vacina, e, na abertura, pude perceber o compromisso que o prefeito de São Paulo, o governador do estado e o Ministério da Saúde, todos eles, têm em comum. Eles compartilham a mesma mensagem, que é: “a ciência importa, siga a ciência”. Está muito claro para os representantes do Estado, no nível local, regional e nacional, o poder da vacinação, e vejo uma mensagem consistente de apoio a ela.

Na minha perspectiva, o Brasil sabe o que fazer, vocês já tiveram algumas das melhores taxas de vacinação no mundo. O que agora precisam fazer é assegurar que as pessoas se informem e se eduquem sobre as vacinas e as doenças que elas protegem, que entendam, por exemplo, o papel do HPV no câncer.

É preciso ecoar os fatos e a importância da prevenção para nós, como indivíduos, a ideia de que podemos nos colocar numa posição capaz de evitar esses problemas de saúde. Então todos os elementos estão aqui, o que precisamos é trabalhar juntos para garantir que os objetivos sejam alcançados.

Que tipo de trabalho em conjunto já está sendo feito nessa direção?

Temos no Brasil uma parceria muito importante desde 2013 com o Instituto Butantan para a produção da vacina do HPV. É uma das nossas parcerias público-privadas (PDP) de maior sucesso em todo o mundo. O Brasil foi o primeiro país com quem fizemos esse tipo acordo.

O Butantan é um parceiro estratégico para nós, e já estamos trabalhando juntos numa vacina diferente para varicela, prevista para 2023, e ficamos bastante empolgados com os estudos clínicos do instituto com a vacina da dengue.

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Nós temos nossa própria vacina para essa finalidade, uma espécie de irmã da do Butantan, financiada pelo governo americano, e como ambas possuem uma estrutura semelhante, talvez possamos ajudar a levar a vacina daqui para o resto do mundo. Esse é um grande exemplo de liderança do Brasil na área.

A OMS chegou a ventilar a ideia de recomendar apenas uma dose da vacina do HPV para tentar alcançar maiores índices de cobertura pelo mundo. Qual a sua posição a respeito?

Nossa visão sobre esse posicionamento da OMS é: nós vamos seguir a ciência, e acreditamos que todo mundo deveria seguir a ciência. Ainda não temos evidências clínicas suficientes de que uma única dose da vacina seja eficaz para a devida proteção contra o HPV. E, como empresa, quando tivermos isso, aí, sim, podemos apoiar essa recomendação.

O que temos de evidência hoje, considerando inclusive que a vacina está no mercado há 14 anos, é que o regime de duas ou três doses do produto, dependendo do local onde é aplicada, é efetivo para a prevenção. Então vamos deixar a ciência ditar o que deve ser feito.

Porque, se nos movermos rápido demais e depois constatarmos que essa indicação é equivocada, teremos um custo significativo para a saúde pública e as pessoas. Então é melhor aguardar e ter certeza primeiro. Até porque, considerando nossa cadeia de suprimentos, a capacidade de produção das doses da vacina não será um problema.

O que podemos esperar da vacina nonavalente contra o HPV?

A Gardasil-9, que estamos lançando nesse primeiro momento para o setor privado, traz uma extensão da proteção já oferecida pela vacina Gardasil-4, ampliando a cobertura para outros cinco tipos do vírus HPV. Nosso objetivo de agora em diante é reforçar no mercado brasileiro a importância dos dois imunizantes.

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Hoje a vacina quadrivalente está disponível no sistema público, o que precisamos é perseguir as metas de cobertura para ela. Nossa ideia, discutida inclusive com o Butantan, é justamente trabalhar a distribuição da vacina para a população e, quando essa etapa estiver concluída, podemos pensar no uso da Gardasil-9 inclusive no setor público.

O que vocês já podem adiantar sobre lançamentos na área de novos tratamentos?

Estou muito feliz com os avanços que fizemos em nosso pipeline, eles me deixam confiantes de que podemos ter um desenvolvimento sustentável nas próximas décadas. Há muitas áreas com inovações empolgantes, mas, tentando fazer um apanhado, eu destacaria um novo medicamento para uma doença cardiorrespiratória, a hipertensão arterial pulmonar.

Há alguns dias, o Colégio Americano de Cardiologia publicou dados de estudo clínico com o sotatercept, e os resultados são impressionantes para as pessoas que encaram essa doença. Porque até o momento os pacientes só têm à disposição drogas que tratam sintomas do problema. Agora temos o potencial de trazer uma medicação que realmente modifica a trajetória da doença, e estamos estudando seus efeitos para a insuficiência cardíaca.

Também trabalhamos numa versão via oral de anti-PSCK9, um anticorpo monoclonal usado no tratamento do colesterol alto. É uma medicação que julgamos de extrema importância em termos de acesso global, porque, fora ser um comprimido, acreditamos que será possível produzi-la por um preço mais acessível.

Estamos bastante animados com isso. No total, dentro do nosso portfólio para doenças cardiovasculares, temos oito potenciais lançamentos previstos entre 2025 e 2030. É uma baita diversificação para nós e reforça nosso legado de cuidados cardiovasculares.

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E em outras frentes?

Na oncologia, temos novos produtos como o pembrolizumab, uma droga fundadora de uma linha terapêutica contra alguns tipos de câncer. E continuamos estudando novos alvos e mecanismos de ação, assim como medicamentos como anticorpos conjugados à droga e combinações de imunoterápicos.

Também temos uma droga interessante com uma nova abordagem para o câncer de rim. Então há diversas soluções à vista para atender as necessidades dos pacientes e, no caso do pembrolizumab, talvez até mesmo iniciar o tratamento mais cedo para ter resultados mais favoráveis.

Acredito que estamos muito bem posicionados nesse sentido, e, além disso, temos nossos programas de desenvolvimento de vacinas, como a da já citada dengue, um programa dedicado ao HIV. Estou muito confiante no que estamos fazendo pelos pacientes hoje e no que faremos por eles no futuro. Essa é a nossa razão de existir.

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