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Coronavírus: por que o Brasil não conseguiu evitar o lockdown

Medida mais restritiva de isolamento passa a ser adotada pelos estados, mas especialistas apontam que ações anteriores poderiam ter evitado a situação

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 Maio 2020, 13h45
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  • O lockdown, nome que se dá a mais restritiva medida de isolamento social, começou a ser adotado no país na terça-feira, 5, na região metropolitana de São Luís, no Maranhão, e já se espalha para outras áreas brasileiras caso do estado do Pará, e Fortaleza, no Ceará — além do Rio de Janeiro onde ocorre em versão reduzida, em um único pedaço da cidade.

    Trata-se de uma medida emergencial para conter o avanço da doença e reorganizar sistemas de saúde prestes a entrar em colapso, como ocorreu na ChinaEspanha e Itália, que começaram a sofrer os impactos da pandemia antes do Brasil.  Essas experiências, dizem os especialistas, deveriam ter sido mais uma evidência para que as medidas de quarentena e higiene fossem seguidas da forma correta.

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    “O isolamento social não foi adotado de forma correta pela população, a necessidade de lavar as mãos diversas vezes também não foi respeitada”, diz o coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sergio Cimerman. De acordo com médico, a abertura de estabelecimentos de forma clandestina e aglomeração nas ruas colaboraram para essa necessidade. “O lockdown é a consequência dos nossos atos”, afirmou.

    Outra questão que atrapalhou as medidas mais brandas de contenção, apontam os médicos, é o discurso desencontrado entre governadores e o presidente da República. Em março, Jair Bolsonaro chegou a dizer repetidas vezes que a Covid-19 tratava-se de uma “gripezinha”. “Os estados determinavam a medida e para sua efetividade era preciso que a população aderisse, mas isso foi comprometido com as declarações contrárias do presidente”, diz o médico infectologista e especialista em saúde pública Gerson Salvador.

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    Outro peso que colabora com a disseminação da doença é a falta do monitoramento dos contactantes de quem teve diagnóstico positivo e o pouco número de testes aplicados na população. Durante boa parte da pandemia, o Brasil testou apenas os casos graves — e a doença se manifesta de forma branda em 80% dos infectados —, portanto a taxa conhecida de pessoas com Covid-19 no Brasil ainda é pequena, considerando o real número de brasileiros que entraram em contato com o coronavírus. O problema entre essas pessoas que estão doentes e não sabem é que elas podem seguir espalhando o vírus para outros grupos. “Precisávamos testar e isolar todos os contactantes, para ter um maior controle”, explica Salvador.

    Isso não quer dizer, no entanto, que todo o país precisará de lockdown para enfrentar a pandemia do coronavírus. Essa medida é necessária apenas em regiões onde o sistema de saúde não terá estoques suficientes de leitos para atender os pacientes graves. São Paulo, por exemplo, não estuda aplicar a alternativa neste momento.

    “A forma de isolamento que deve ser adotada em cada região é variável, não há regra única. Essa decisão tem que estar de acordo com o tamanho da população da cidade, o número de leitos de UTI e a taxa de ocupação dos hospitais”, aponta Mirian Dal Ben, médica infectologista do Hospital Sírio-Libanês. Deixar uma faixa da população circulando no isolamento social mais brando, ressalta Mirian, também permite que desenvolva-se a chamada imunização de rebanho, necessária para atingir um patamar epidemiológico de controle do vírus.

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