Centenas de milhares de pessoas protestaram nas ruas de Barcelona pedindo a separação da Catalunha do resto da Espanha. Outras centenas de milhares protestaram em Barcelona a favor da união da Catalunha com a Espanha. Um referendo ilegal, em que só 43% votaram, concluiu, em outubro, que 90% dos catalães querem o separatismo. Outra eleição, agora legal, renovaria, no fim de dezembro, o Parlamento regional, desfeito após a intervenção do governo nacional.
Entre tantas idas e vindas, os catalães e também os estrangeiros, que representam cerca de 15% da população local, chegaram a tristes constatações. Mais de 3 000 empresas deixaram a Catalunha. Os bancos foram os mais afoitos, porque temiam ficar sem a garantia do Banco Central Europeu. Vinícolas que produzem a cava, vinho branco famoso na região, e editoras de livros, como a Planeta, também fizeram as malas. Outro aprendizado veio com as rixas políticas que passaram a existir entre os cidadãos, muito mais polarizadas que antes. Nos últimos dez anos, o nacionalismo catalão, mais ligado a questões de cultura e de identidade do que de etnia, entrou com vigor na arena política. Foi uma resposta a medidas restritivas de Madri, entre as quais uma decisão judicial que invalidou o Estatuto de Autonomia catalão, considerado uma Constituição paralela. Com a crise financeira que atingiu a Espanha depois de 2008, os moradores da Catalunha, que concentra muitas indústrias e empresas de serviços, ficaram menos animados a dividir recursos com o restante do país. Disputas sobre como aplicar leis locais e sobre a língua afloraram o nacionalismo. Em outubro, a truculência dos policiais espanhóis, que tentaram impedir o referendo empurrando idosos e puxando mulheres pelos cabelos, alimentou ainda mais a indignação. “As ruas serão sempre nossas”, gritavam os manifestantes.
D.T.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562