O truque do ex-Patriota para liderar as verbas do partido de Bolsonaro
Recém-filiado, o desconhecido Adilson Barroso é um sucesso em recursos do ‘fundão’ e recebeu 3 milhões de reais do PL
Longe de ser um fenômeno eleitoral, o ex-presidente do Patriota (legenda com apenas cinco parlamentares no Congresso Nacional) Adilson Barroso teve seu ponto mais alto da carreira quando quase conseguiu filiar Jair Bolsonaro no partido que então comandava. Desde 2018 ele tentou capturar o capitão, mas, após uma série de divergências, foi ele quem acabou expulso do partido.
Escanteado do Patriota, Adilson Barroso é, curiosamente, um sucesso dentro do PL. Recém-filiado à legenda de Jair Bolsonaro, o candidato a deputado federal recebeu 3 milhões de reais para investir na campanha – valor que corresponde quase ao teto de 3,1 milhões para financiar as candidaturas à Câmara dos Deputados.
O valor destinado a Adilson Barroso chama atenção porque candidatos do PL não têm escondido a insatisfação com a verba entregue pelo partido. Em resposta, o presidente da legenda de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, lamenta o que diz ser pouco dinheiro para as eleições – 268 milhões de reais do fundo eleitoral – e pede ajuda com doações financeiras. Além disso, conforme mostrou a coluna Radar, a conta do partido já estourou em 50 milhões de reais
Ao lado de Adilson Barroso, apenas outros três candidatos a uma cadeira na Câmara receberam 3 milhões de reais – considerada uma “puxadora de votos” ao partido, a deputada Carla Zambelli, por exemplo, levou 2 milhões, enquanto ex-ministros de Bolsonaro têm recebido uma média de 500 mil reais.
Questionado, ele explica que, antes de entrar no partido, conversou “direitinho” com Valdemar Costa Neto e falou que precisaria de dinheiro para financiar a campanha. “O Valdemar tem uma coisa que quase todos os políticos comentam: ele é cumpridor do que combina. Eu combinei com ele, os outros é que talvez se esqueceram de combinar”, afirmou.
Além do novo partido, Barroso teve outra inovação nas eleições deste ano: alterou a cor da pele, em outras eleições declarada como branca, para parda. Uma inovação neste pleito, a Justiça Eleitoral determinou a criação de uma cota racial a candidatos pretos ou pardos – o que Barroso nega estar recebendo.
“O meu avô e a minha avó eram um pouco ‘escuros’ e você [jornalista] parece que é loira. Tem um monte de loira parda. No Brasil, fica difícil saber quem é pardo e quem é branquinho”, tentou justificar.
O histórico de Barroso mostra que ele sempre quis caminhar ao lado de Bolsonaro – mas sendo o chefão do partido do ex-capitão do Exército. Em 2018, Adilson Barroso repaginou o Partido Ecológico Nacional (PEN), mudando o nome da sigla para Patriota, em busca de filiar o então candidato à Presidência. A ida de Bolsonaro já era dada como certa, mas, na reta final, um desentendimento entre Barroso e o então coordenador da campanha Gustavo Bebianno acabou desfazendo a parceria.
Após Bolsonaro deixar o PSL, Barroso viu uma nova chance de filiar o ex-capitão. Em abril de 2021, o senador Flávio Bolsonaro chegou a ingressar no Patriota – legenda que, segundo ele, seria o primeiro partido de direita do Brasil – e indicou que o pai deveria ser o próximo a migrar para a sigla. No entanto, uma ala do Patriota descontente com o alinhamento ao bolsonarismo acabou destituindo Barroso da presidência da legenda.