O flerte antigo da ‘Namoradinha do Brasil’ com o governo Bolsonaro
Convidada para assumir o comando da Secretaria de Cultura, atriz Regina Duarte já manifestava apoio ao atual presidente antes das eleições de 2018
Cotada para assumir o comando da Secretaria de Cultura do governo Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte, conhecida pela alcunha de “Namoradinha do Brasil”, já “flertava” com a gestão do presidente brasileiro às vésperas das eleições de 2018. Desde outubro daquele ano, as redes sociais da artista virara imãs para manifestações contrárias aos ex-governos petistas e para postagens exaltando Bolsonaro e um possível governo do então candidato pelo PSL.
Abertamente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde 2002, as postagens favoráveis a Bolsonaro começaram após um encontro entre a atriz e o então candidato em 13 de outubro de 2018. “Para comemorar um encontro como este… e com isso festejar a fé num futuro melhor pra todos nós. Sou @jairmessiasbolsonaro para Presidente do Brasil”, escreveu Regina no mesmo dia.
Regina já aparecera em diversos protestos a favor da Operação Lava Jato, defendida por Bolsonaro, antes mesmo de declarar apoio oficial ao ele. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no dia 26 de outubro, a atriz afirmou que “saiu do armário” três meses antes da publicação da entrevista.
“Quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha. Eu tinha algumas opções de voto, como o (Geraldo) Alckmin e o (João) Amoêdo, mas, nesse momento, me caíram fichas inacreditáveis, como as omissões do PSDB. Foi tudo ficando muito feio. Quantos equívocos, quantos enganos! Foi quando notei o tamanho da adesão desse país ao Bolsonaro e pensei: eu sou esse país, eu sou a namoradinha desse país”, afirmou na época ao jornal.
Após o apoio oficial, Regina optou por publicações que valorizassem uma possível vitória de Bolsonaro — e foi criticada por colegas de trabalho, já que era uma das únicas representantes da classe artística que defendiam o candidato abertamente. Regina apoiou-se em manifestações parecidas de outros artistas, repostando publicações, por exemplo, da atriz Maitê Proença, que supostamente também o apoiava. A VEJA, Proença afirmou posteriormente nunca ter votado em Bolsonaro (e, sim, na Marina Silva) e criticou as decisões do atual governo.
Regina foi ovacionada por apoiadores de Bolsonaro ao subir em um trio elétrico na Avenida Paulista na última manifestação antes do segundo turno das eleições presidenciais, disputadas por seu candidato e por Fernando Haddad (PT). “Essa felicidade que faz com que eu me sinta fazendo parte de um imenso desejo de milhões de brasileiros. Pertencente a uma causa que defende o país de todos, terra de uma uma gente do bem… Obrigada por poder viver este momento com todos vocês!”, escreveu a atriz sobre o protesto contra o petista.
Bolsonaro saiu vitorioso nas eleições e Regina comemorou, novamente pelas redes sociais. “Minha gratidão por seu patriotismo e votos de saúde, paz e muito amor no seio de sua família”, escreveu ao presidente. A atriz também agradeceu às pessoas que fizeram “campanha” com ela. Outra vitória celebrada por Regina foi a nomeação do ex-juiz Sergio Moro como ministro da Justiça.
Entre tantos elogios ao governo, Regina criticou a nomeação de Roberto Alvim para o cargo de secretário da Cultura. Para ela, Alvim teria “extrapolado em declarações polarizadas”. Ele acabou demitido na sexta-feira 17 depois de gravar um discurso que parafraseava uma fala do nazista Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler.
Regina chegou a ser convidada para integrar o governo Bolsonaro no início do ano passado, mas recusou. Em novembro do mesmo ano, mostrou falta de interesse de ingressar na política, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “Você não vai querer me ver enfiada num gabinete”, disse, ao ser indagada sobre a possibilidade de assumir um cargo na cultura. “Eu contribuo de fora com tudo o que puder para fazer a cultura florescer”, acrescentou.
Convidada pela segunda vez para integrar o governo Bolsonaro, a atriz deve tomar uma decisão após um encontro com o presidente, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira 20. Bolsonaro ainda estuda recriar o Ministério da Cultura para ter Regina como ministra. Atualmente, a Secretaria fica locada no Ministério do Turismo.