Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Mais renovado em duas décadas, novo Congresso terá perfil conservador

Líderes e partidos do status quo desidrataram e legendas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad polarizarão como as maiores bancadas da Câmara

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 out 2018, 17h47 - Publicado em 8 out 2018, 12h50

O resultado que emergiu das eleições de 2018 mostrou uma forte rejeição aos partidos e políticos tradicionais e impôs uma ampla renovação aos quadros do Congresso Nacional. Na Câmara, 52,54% dos parlamentares não fazem parte da atual legislatura. No Senado, foi de 85,19%. Nessa toada, ficaram sem mandato caciques que marcaram a política brasileira nas últimas décadas, como Romero Jucá (MDB-RR), líder dos últimos quatro presidentes (FHC, Lula, Dilma e Temer) dentro do legislativo federal e o próprio presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB-CE).

Dessa aura de mudança, sobretudo pelos principais focos de alterações na composição, se extrai um avanço do pensamento conservador, com a disparada do PSL, cujo desempenho superou qualquer expectativa até mesmo da sua direção – que, em seus maiores sonhos, imaginava fazer até 30 deputados. Fez 52, movimentados por puxadores de voto em vários estados do país, com menção especial para o 1,8 milhão de votos recebido por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), que superou o recorde de Enéas Carneiro, do antigo Prona, e se tornou o deputado federal mais bem votado da história brasileira.

O fenômeno paulista, que ajudou a eleger para o Congresso nomes como a líder do movimento Nas Ruas, Carla Zambelli, os militares Coronel Tadeu e General Peternelli, o herdeiro da família real brasileira Luiz Phelipe de Orléans e Bragança e o ator Alexandre Frota, todos com discurso conservador em questões morais. O fenômeno também se repetiu em outros estados, como com as vitórias de Hélio Barbosa Lopes, o Hélio Bolsonaro (militar que pegou “emprestado” o nome do padrinho político), no Rio de Janeiro e de Marcelo Álvaro Antônio, reeleito em Minas Gerais com quatro vezes mais votos que em 2014.

No Senado, o PSL terá presença mais tímida, com apenas quatro dos 81 senadores, considerando que 27 dessas vagas foram preenchidas em 2014 e não eram disputáveis no pleito deste ano. No entanto, a legenda conseguiu superar quadros desfavoráveis e obter vitórias inesperadas em algumas disputas, caso do deputado Major Olímpio (SP), eleito senador em São Paulo em primeiro lugar, desbancando o favoritismo do vereador Eduardo Suplicy (PT), que terminou em terceiro e não foi eleito.

Deputado oriundo do chamado “baixo clero”, grupo de parlamentares que tradicionalmente possuíam menos incidência nas principais decisões do legislativo, Olímpio ganhou destaque ao disputar a Prefeitura de São Paulo, ainda pelo seu ex-partido Solidariedade, em 2016, e surfar na “onda Bolsonaro” no estado paulista, calcada em uma política mais forte de segurança pública e em conservadorismo moral.

Continua após a publicidade

Uma das principais armas de seus apoiadores na reta final da campanha, por exemplo, foi distribuir fotos da adversária Mara Gabrilli (PSDB) com o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que hoje é o único parlamentar homossexual assumido do Congresso Nacional. Mara também foi associada à legalização do aborto, proposta que ela não defende e que é cara ao eleitorado religioso.

Chama a atenção quando o assunto é o Senado também o desempenho da Rede Sustentabilidade, partido da ex-ministra Marina Silva, que elegeu cinco senadores, apesar de ter feito apenas um deputado federal. Como a Rede não atingiu a cláusula de desempenho mínimo, o partido ficará sem Fundo Partidário e propaganda no rádio e na televisão, o partido precisará repensar seus próximos passos e pode ver um ou mais desses parlamentares migrarem para outras legendas.

Na outra trincheira, o PT foi afetado pelo sentimento antipetista, sobretudo no Sul e no Sudeste, e despencou nos resultados eleitorais para o Senado. Em 2010 (as vagas na Casa são renovadas a cada oito anos), o partido elegeu onze senadores. Neste domingo 7, foram apenas quatro, com derrotas marcantes para a legenda, casos de Suplicy, Dilma e do atual senador Lindbergh Farias (RJ). Presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR) desistiu do Senado e se candidatou à Câmara para garantir um mandato no próximo ano.

Apesar disso, o partido do candidato Fernando Haddad conseguiu preservar a maior parte da sua representação na Câmara, sendo a maior bancada de deputados federais, com 56 no total (hoje são 61). Com a intensa queda do PSDB e do MDB, afetados pelos movimentos de migração de eleitores para partidos mais à direita e com discurso crítico ao sistema, o PT deve polarizar com o PSL pelo domínio na Câmara, a depender, em especial, de quem vencer o pleito do próximo dia 28.

Nesta equação, apesar de serem as maiores bancadas, as legendas só ocupam cerca de 10% das vagas na Câmara, sendo mais uma vez forçadas a negociações para governar. No caso de Bolsonaro, caso ele seja eleito, a expectativa é de agregar deputados não através de acertos com os comandos partidários, mas sim com acenos às pautas de grupos temáticos, como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a Frente Parlamentar Evangélica e a os parlamentares ligados à defesa da flexibilização do porte de armas – as bancadas “do boi, da bala e da bíblia”.

Caso reverta a vantagem, Haddad, por sua vez, teria mais dificuldade em governar, ao que tudo indica. Para o ex-prefeito, seria necessário retomar a estratégia dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), restabelecendo as relações políticas com os partidos do Centrão, que no primeiro turno apoiaram apenas formalmente Geraldo Alckmin (PSDB) e que desde o início se dividem em dois grandes blocos, fazendo campanha de acordo com conveniências regionais.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.